Por a 19 Abril 2020

Fotografia: Marc Cramer / Projeto de arquitetura: Paul Bernier Architecte

Em Montreal, no Canadá, num quarteirão densamente construído no bairro Plateau Mont-Royal, esta casa foi alvo de uma remodelação e um acrescento, da autoria do arquiteto Paul Bernier.

Os arquitetos do coletivo Paul Bernier Architecte levaram a cabo não apenas a transformação da casa existente, como uma extensão da mesma de modo a alojar uma família de quatro pessoas. Foram adicionados dois quartos, um para as crianças e outro para os adultos.

Além disso, a casa também teve de ser repensada de modo a dotá-la de coerência, na seu ‘alma’ e materialidade.

“Queríamos criar uma casa cheia de luz natural, agradável e pensada com o dia-a-dia em mente. Por isso, tivemos de ampliar o construído e preservar a qualidade do jardim”.

A orientação original da casa também foi um desafio, uma vez que as fachadas que podiam receber janelas estavam orientadas, principalmente, para o Nordeste, não permitindo a entrada desejada de luz natural direta.

O CONCEITO

Duas caixas de vidro e madeira, volumes simples de dimensões semelhantes, foram adicionadas à casa original. Um destes volumes foi colocado no telhado e o outro no jardim. Uma parte do muro lateral original do jardim foi removida e substituída por uma parede de estrutura de madeira que permite aberturas no jardim e que atua como um elo formal entre as duas caixas.

A casa original é revestida com tijolos e todas as novas intervenções são feitas de madeira.

O volume no jardim, que integra uma sala de jogos para as crianças, está ligado aos espaços internos e abre-se para o pátio com amplas portas de vidro, como um pavilhão de inverno. Este é coberto com um telhado verde, diluído com o verde do jardim quando visto de cima.

O volume no telhado abriga o quarto dos pais, assim em jeito de uma casa na árvore, mas para os adultos. O espaço está forrado com madeira e dali avista-se a cidade e o nascer do sol. Esta estrutura também funciona como um poço de luz para iluminar a casa, em baixo.

O canto oeste é completamente envidraçado e foi feita uma abertura no piso inferior para permitir que a luz natural flua ao longo de todo o percurso, até ao piso térreo, através da ponte de treliça de madeira semi-transparente do segundo andar.
As paredes deslizantes, superfícies semi-transparentes e aberturas permitem a divisão e a interação dos espaços.

O PLANO

O piso térreo, consagrado à vida familiar, tem um formato em ‘L’ que envolve o jardim e se afigura como um espaço extra no verão.
O segundo piso, para onde foram destinados os quartos, é calmo e arejado. Estes espaços privados abrem-se para a “ponte” de circulação, feita de treliça de madeira que flutua sobre a sala de estar, num espaço com altura dupla, cheio de luz natural e com vistas sobre o jardim e o telhado verde.
O terceiro andar é um refúgio no telhado.

ESPAÇO E LUZ

A longa parede de painéis de madeira deslizantes que separa os quartos do resto da casa, à noite, abre-se de manhã. Nessa altura do dia, os quartos ficam ainda maiores e mais luminosos. Estes aproveitam o espaço de altura dupla, iluminado naturalmente pelas janelas do terceiro andar. Da ponte também podemos ver a sala através do piso semi-transparente e interagir com as pessoas, em baixo.

Além disso, na cozinha, localizada no cruzamento das duas alas do piso térreo, quem prepara as refeições tem uma visão geral de 270 graus do que está a acontecenr através de uma abertura horizontal que permite ver a sala de estar, o jardim e a sala de jogos. Os arquitetos quiseram criar aberturas ou telas semitransparentes em todos os lugares da casa, para deixar a luz passar e permitir que os espaços comunique.


VOLUMES, PONTE E VARANDA

A escada de aço e de madeira fica neste grande volume aberto em três andares. A escada, que foi projetada com o mínimo de materiais possível serve para enfatizar essa sensação de um objeto que deixa a luz passar.
Aqui, o aspeto robusto da parede com revestimento áspero de cimento e da escada de aço reforça a impressão de ‘estar do lado de fora’ dada pela luz zenital.


ESPAÇO EXTERIOR

O jardim, um pátio interior à sombra das árvores, é definido por três edifícios e uma cerca alta. É como uma sala verde, com as paredes cobertas de hera, o chão com uma cama de plantas, pedras de rio e um caminho plano de pedra que conduz a um chuveiro ao ar livre. Este é um espaço sempre fresco no verão onde as suas superfícies verdes absorvem o murmúrio urbano e dão a impressão de um oásis na cidade.



A casa recebeu o Prémio Marcel Parizeau no ‘Prix d’excellence de l’Ordre des Architectes du Québec 2009′.

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