O projeto de renovação deste apartamento é do coletivo WER, com base no Porto e em Londres, que aqui teve como desafio recuperar a magia da aquitetura Art Déco do prédio em que se insere, bem como o espírito boémio da zona.
Fotografia: Hampus Alexander / Texto: redação
O projeto de reforma de um apartamento no último andar de um prédio de época, na área do Intendente, Lisboa, acompanha a nova gentrificação da zona, em notória mudança, “com todo o respeito pela população local”. O restaurante Ramiro, um clássico do bairro, a abertura do Soho House, no largo do Intendente, e mesmo ao lado da Casa Independente, estão na base, em boa parte, do conceito esboçado para esta casa.
“O projeto do apartamento mantém uma ligação evidente à vibração deste bairro de Lisboa. Trouxemos a história do prédio, com elementos Art Déco, e cruzámos com o estilo boémio da área”, conta-nos a arquiteta Marina Werfel.
“O apartamento está pensado para receber – o nosso cliente é um cozinheiro de primeira e costumar fazer jantares para, pelo menos, 20 pessoas, quando não cozinha para 40! De nacionalidade inglesa, este chef tem o gosto pela vida nómada e antes de mudar-se para Lisboa viveu durante muitos anos na região do norte de Hackney, e antes disso já havia passado pela bela região da Cornualha”.
Como tantos, apaixonou-se por Lisboa, pela luz, sol, pelo seu povo e pela proximidade com praias com ondas.
“Quando nos pediu para levarmos a cabo a reforma da sua casa, deu-nos total liberdade para o projeto. As premissas foram: ter uma grande área para receber amigos, que a cozinha tivesse uma mesa de talho original e não fossemos tímidos no uso da cor!”.
A cozinha e varanda estão unidas pelas extremidades. O piso da varanda é original – “trouxemos uma tijoleira de cor tradicional para a cozinha”. Os tons soft dos azulejos da Viúva Lamego mantêm um diálogo ponderado com as luminárias da Patrícia Lobo, na cozinha.
A construtora, a Shift your Home – um grupo de engenheiras e arquitetas portuguesas, característica a salientar num mercado tipicamente formado e liderado por homens – teve particular atenção aos detalhes e, nalguns casos, contou com a execução de trabalho manual, feito pelas próprias. “O que fez toda a diferença”. “Foram elas que amarraram, nó a nó, o corrimão que desenhámos, em ferro e couro e montaram o “tapete” de mosaico no piso de uma das casas de banho”, prosseguem, na sua descrição de como tudo aconteceu.
No que toca à seleção de mobiliário e acessórios, a equipa do WER procurou rodear-se apenas de empresas, artesãos e produtos portugueses. É o caso da Azulima, Viúva Lamego, Bruma, XL Living, além da técnica de palhinha empregue nos armários das casas de banho, os azulejos 100% feitos à mão, da Azulejaria Santiago, ou o mármore Liós em tons rosas.
O projeto de remodelação foi completo: se antes se acedia à casa através de um apertado corredor, que ligava os vários ambientes – eram nove quartos, no total – hoje este corredor central foi aberto e, com o recurso a estruturas de Santo André, conseguiu-se unir o coração do apartamento. Como o prédio tem estrutura em madeira, todas as intervenções foram facilitadas o que promoveu, principalmente, a unificação dos ambientes complexos.
A ventilação cruzada criada faz hoje toda a diferença. Uniu-se a varanda, a cozinha, a zona de jantar e o living – da varanda vê-se o castelo de São Jorge. A sala abraça a parede arredondada com três janelas que marcam a esquina do prédio – a vista é para as copas das árvores, quase à altura do apartamento.
Os painéis estilo Art Déco marcam a horizontalidade ao longo de todo o apartamento e levam o olhar a esta vista e à parede de formas redondas. Os quartos estão hoje ainda mais reservados graças ao layout em leque da planta. O desenhos dos pisos, que foi mantido e tratado, é a ligação ao passado da casa, algo que a arquiteta Marina procurou salvaguardar desde a primeira visita – e uma das exigências do clientes. Outra das escolhas reside na seleção das peças únicas vintage, encontradas aqui e ali, de Portugal ao Norte da Europa.