Por a 20 Janeiro 2021

Um projeto capaz de combinar peças de mobiliário do século XVII ao século XXI. Todas convivem em harmonia, e se falassem… as histórias que teriam para contar!

Fotografia: Ricardo Junqueira Produção: Amparo-Santa Clara

Texto: Mafalda Galamas

A avenida que homenageia o descobridor do Brasil – Pedro Álvares Cabral – é, hoje, uma importante artéria da capital lisboeta. Central e cosmopolita, por esta rua caminham, diariamente, milhares de pessoas tão focadas nos seus compromissos que, de tão velozes que avançam, pouco (ou nada) apreciam o bom que a rua tem para mostrar.

Entre os prédios mais bem restaurados e cuidados da avenida está a casa de Mafalda Pereira de Gouveia que, além de proprietária, foi, também, a responsável pelo projeto de decoração. Nada que surpreenda quem a conhece, aliás, este é, na verdade, o percurso natural de quem cresce no seio de uma família desde sempre sensibilizada para a decoração de interiores, potenciada, mais tarde, por uma experiência profissional no universo da moda.

O prédio de traça antiga, eficazmente bem recuperado, esconde o apartamento de 270 m2 que lhe trazemos nesta edição. Deixámo-nos surpreender logo desde o primeiro ambiente da habitação… O hall é, muitas vezes, o cartão-de-visita de uma casa e este é, sem sombra de dúvida, um sedutor convite a entrar. A parede integralmente espelhada ajuda a duplicar o espaço. Tem encostada a si uma mesa original, com pé em ferro forjado e tampo de madeira, adquirida na loja Cavalo de Pau. O cenário está coerente e bem arquitetado, do busto em cima da mesa, às tochas de madeira, jarra com flores ou banquinhos assentes no chão. Ao canto, a escultura Serenidade (representação de um homem sentado) tem autoria de Pedro Moreno Ramos e foi adquirida na Galeria de São Mamede.

Como habitualmente, é na sala de estar que tudo acontece. Esta não é exceção e foi pensada para o usufruto de toda a família. Reúne pedaços da vida de Mafalda Pereira de Gouveia, e exemplo disso é a secretária inglesa, Jorge III, em raiz de nogueira, do século XVIII. Uma herança de família, tal como as duas fauteuils (cadeirões), junto ao tapete pele de vaca, que foram recuperados e estofados com um padrão contemporâneo.

Ao cimo da secretária, entre as janelas, vemos o quadro de Frida Kalo, uma paixão da proprietária e que convive harmoniosamente com obras tão diferentes como a nudez, da autoria de Carlos Luz, ou o retrato assinado por Isabel Contreras Botelho, situado à entrada da sala, junto à mesinha de chá em espigueiro. As obras não se ficam por aqui, as de Gil Maia e de João Cristóvão ganham destaque acima dos sofás, por sua vez, mandados fazer na Rita Roquette Interiores. A mesinha de apoio em ferro é da loja Pátria e reúne alguns objetos pessoais da proprietária, como livros ou as caveiras metálicas que vemos na imagem.

A sala contígua, com chaise longue rosa velho e troncos pretos de madeira, é um espaço recatado onde Mafalda Pereira de Gouveia recupera energias e onde reúne os seus objetos favoritos. Dos livros de moda e decoração às lembranças trazidas de viagens. Destaque para a escrivaninha herdada de família, com um quadro de João Figueiredo acima, e para o cadeirão cinzento junto à janela.

Também a sala de refeições reúne uma série de peças antigas, heranças de família, tal como a própria mesa de vinhático, inglesa, do século XIX, iluminada pelos originais candeeiros suspensos, em folha de alumínio dourado, também Gervasoni. As cadeiras executadas na loja de Rita Roquette respeitam os tons da sala, seis são pretas e as duas mostarda sentam os patriarcas da família. As estantes brancas com fundo forrado a pele de parede Élitis reúnem loiças da Companhia das Índias e, ainda, uma generosa coleção de prata inglesa. De fosforeiras a cigarreiras, pauliteiros, caixinhas a porta-moedas de rede. Noutro canto, junto ao quadro A Menina do Turbante, está uma mesa de jogo, herança da trisavó da proprietária. E, no chão, alguns regadores de prata e latão do século XX.

Na cozinha, Os três peixes, aplicados na parede, são pincelados de branco e têm autoria de José Carlos Mateus. O conjunto de refeição é Gervasoni, uma marca bastante apreciada pela proprietária.

Os corredores, repletos de obras adquiridas cá e além-fronteiras, guiam-nos até aos quartos.

A parede do master bedroom, onde encosta a cama com tecidos Élitis, foi, também, intencionalmente forrada em espelho. Dos lados, uma mesinha de cabeceira da Área, do outro, um candeeiro em tronco de madeira pintada de branco com abajur em palha preta. Tal como na sala, também as paredes estão pintadas em tons de cinza-claro.

Num dos quartos dos filhos rapazes, destacamos o candeeiro de teto estilo industrial e os baús de viagem americanos. No quarto com colcha de cama azul acinzentada, ficámos maravilhados com a criatividade na parede, onde está aplicada a metade de um banco virado para baixo, servindo de suporte para alguns livros. Já no quarto das meninas, destacamos o tapete comprado em Marrocos, os espelhos forrados em pele e o maravilhoso candeeiro de teto, feito de penas.

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