Por a 23 Fevereiro 2021

Se lhe parece um loft, desengane-se. Vai muito além disso. Este espaço multifuncional que também permite uso habitacional é o reflexo de uma verdadeira filosofia de vida.

Fotografia: João Peleteiro Produção: Amparo Santa-Clara

Texto: Mafalda Galamas

Luís Pedro Catarino, 50 anos, é pedreiro. Diz ele. Mas nós discordamos. O resultado da obra de remodelação, (idealizada e conduzida pelo próprio), que hoje lhe trazemos, é bastante mais enriquecedor e complexo do que o levantamento de paredes, telhados, vigas ou chaminés. É o reflexo de um trabalho minucioso de alguém conhecedor dos segredos da engenharia civil, arquitetura e… escultura! O escultor, dizemos nós, criou uma peça de arte que permite ser admirada por dentro. Tudo foi desenhado como se se tratasse de um quadro, com determinados enquadramentos, diferentes  cores, profundidades, arestas e sombras. Entrar nesta escultura com mais de 500 metros quadrados e com a presença de materiais como o metal, a pedra, a madeira ou o elemento água (num conceito mais termal com a piscina),  é uma experiência inspiradora. Assim como conhecer a “loftstory” deste espaço.

Tudo começou quando Luís Catarino adquiriu o armazém  abandonado e, em ruínas, com antigas funções de oficina de automóveis. A visão já vivia na cabeça do mentor, bastava apenas arregaçar mangas e torná-la palpável. 365 Dias depois, 16 mil tijolos de burro feitos à mão e erguidos, inúmeros testes de cor e centenas de quilómetros em busca dos materiais e das peças certas, Lisboa ganhou um espaço único. Agradado por muitos, mas compreendido por poucos.

A transformação que ocorreu nas cidades no final do século XIX, originadora da grande migração das pessoas do campo para as cidades e, a consequente procura de espaços para viver, levando-as a criar micro comunidades dentro de armazéns foi a grande inspiração para esta construção. “Mais não eram do que anjos à procura de uma vida melhor, mas sem rede pois não sabiam onde iam cair”, esclarece o autor.  Traziam as bicicletas, os seus artefactos agrícolas e trabalhavam na indústria a partir de casa. Curiosidade engraçada numa altura em que se prevê que durante o século XXI mais de 70% da população regresse, novamente, ao conceito de trabalho a partir de casa.

Todos quantos aqui entram, no hall, recanto verdadeiramente intimista, são recebidos pelos anjos – representado pela pintura no teto de Ricardo Romero – e, que depois ‘nos’ deixam entregues a nós próprios numa área com uma outra dimensão… O coração da casa. Espaço multifuncional e de integração dos vários elementos. A polivalência da sala com vista para o jardim sobrelevado permite apresentações, performances artísticas, reuniões, mesmo dentro da ‘piscina’ equipada com som e de onde se pode visionar cinema, ou, no outro canto, tirar partido da cozinha para showcookings, para citar apenas alguns exemplos.

Quase tudo o que está presente neste loft com nove metros de pé direito foi feito por Luís Catarino. Do aparador no canto da sala, às portas dos armários de cozinha, com pedaços de madeira trazidos de uma cavalariça. Tudo é genuíno e autêntico, tudo está no seu estado mais puro, e são as suas imperfeições que tornam este local tão perfeito.

É no piso superior que se torna evidente que um dos lados da casa tem inspiração árabe (onde está instalada a suite principal) e o outro, inspiração oriental, onde estão os restantes quartos. É aqui, onde vemos a cama de ferro adquirida num palacete antigo, francês, que reside o espaço de observação e admiração por excelência. Local de exposição perfeito para pintar, escrever, expor as peças ou simplesmente… contemplar!

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