Com o Brasil na memória, a jovem que agora aqui habita construiu o seu refúgio perfeito assente na cultura, sentimento e calor português.
Fotografia: Paulo Lima Produção: Amparo Santa-Clara
Por Mafalda Galamas
Com o Atlântico a dividir o seu coração, a proprietária deste apartamento encontrou a caminho do Chiado não apenas uma segunda casa mas, sobretudo, um lar. Deixar o Brasil para “trás” correndo de braços abertos para uma nova oportunidade profissional não foi, em momento algum, um problema para a jovem. A paixão que sempre acalentou por Portugal reflete-se bem no T1 decorado por Raquel Rossetto.
A poucos passos da emblemática Rua do Alecrim, encontramos diversos prédios a serem recuperados. Também este sofreu intervenção ao nível de obra. Os acabamentos são contemporâneos, clean e muitos funcionais. Raquel interveio, sobretudo ao nível da iluminação que, como se sabe, pode mudar todo um apartamento.
A arquiteta, fundadora da R&R Design Interiores, revela que a portugalidade foi um dos requisitos referenciados pela proprietária quando solicitou a sua ajuda. Certamente por isso, quando entramos neste espaço se sinta a sua afeição por Portugal. Na sala, os tons azulados remetem aos azulejos tradicionais, “uma cor aconchegante, que lembra o conceito português e joga bem com as linhas retas do restante apartamento”, acrescenta a profissional.
Também as fotografias emolduradas em ambas as paredes, vistas pela objetiva da arquiteta, captam detalhes do nosso país. Impossível ficar indiferente aos elementos subtis que, aqui e a li, lembram onde estamos. Das sardinhas Bordalo Pinheiro às fachadas de prédios estampadas nas almofadas de sofá.
A ideia foi concretizar um projeto pensado para receber amigos. Dois sofás, um deles sofá-cama, uma poltrona, um banco de madeira e alguns coxins espalhados pela sala são exemplos disso. As pequenas mesinhas de centro e o baú, foram, pensados para que pudessem ser facilmente removidos para outro local à medida do fluxo e dinâmica do momento e, consequentemente, das necessidades da proprietária.
Junto às janelas, o espaço foi rentabilizado com marcenaria executada à medida, em Lisboa. Acolhe acessórios, e arrumação pontual como livros, revistas ou mantas nos cestos de verga. A opção por manter as portadas de madeira das janelas em vez de cortinados foi, também da cliente, identificando-se assim, mais com o seu gosto e personalidade.
Tal como referido, a iluminação não foi descurada, do suspenso de teto, ao candeeiro de pé, de mesa… e até no pequeno nicho azulado que hoje faz as vezes de bar!
Embora o espaço seja reduzido, era imprescindível que a mesa de jantar acomodasse cinco pessoas, uma vez que a jovem recebe amigos frequentemente. A cozinha, fundamentalmente, funcional, situa-se mesmo lado, em open space, numa arquitetura que não choca ou invade o espaço da sala.
No lado oposto, surge discretamente, uma porta de correr (embutida dentro da parede sempre que se deseja torna-la invisível), separando a zona privada da habitação. Dá acesso à suite e à casa de banho.
No quarto, a ideia do papel do papel de parede deu lugar a uma pintura diferenciada. Três linhas de tons neutros pontuam o quarto de cor e conferem maior dinâmica, tornando também, o espaço mais aconchegante. Todos os recantos foram estrategicamente aproveitados.
O sommier, executado com tecido impermeabilizante, tem estrado elevatório para que possam ser arrumados os têxteis. Junto ao vão da janela foi, também, executado, em carpintaria, um banco com tampa onde possam ser depositadas as almofadas de cama. O pequeno roupeiro que vemos na parede lateral é, na verdade, uma sapateira, pois o guarda-roupa surge no módulo frente à cama, integrado com a pequena secretária. Não podemos terminar sem destacar, ainda, para os divertidos peixes dourados aplicados na parede.