No Alentejo, com Badajoz à vista, esta propriedade abraça todos os que ali passam, e ficam, generosa nas suas áreas, acolhedora, sedutora e rica em memórias.
Fotografia: José Manuel Ferrão Produção: Amparo Santa-Clara Texto: Isabel Pilar de Figueiredo
Em tempos idos, havia uma casa, mais pequena do que a desta reportagem, erguida numa propriedade onde se praticava agricultura, entre outras atividades ligadas ao campo. A família que dela fazia o seu porto de abrigo, reconhecia-lhe muitas qualidades. Mas as vontades mudaram, o seu proprietário já não mais queria uma ligação à agricultura, e os acessos tão pouco eram os melhores. Nasceu então o desejo de encontrar na mesma localidade uma propriedade maior, onde todos os seus sonhos e desejos pudessem ser realizados, sem fronteiras.
Esta vontade concretizou-se com a aquisição de um terreno de grandes dimensões, dotado de uma ruína, e vistas de cortar a respiração. Assim começava a ser esboçado o sonho de um homem, amante da caça e dos toiros, da vida do campo, da família e dos amigos.
A ruína foi abaixo, não havia muito o que aproveitar, e naquele terreno nasceu uma casa generosa em área, interior e exterior, salas, quartos, terraços e recantos, e um jardim magnifico onde ainda hoje se vivem mo- mentos de comunhão inesquecíveis. O objetivo foi desde sempre um: construir uma casa para receber a família e amigos, onde se incluíam os ligados à tauromaquia, e que ficasse estrategicamente situada no eixo Lisboa-Madrid. Dali se avista a cidade, Badajoz ao longe e, em dias de céu limpo, a serra de Mérida.
O projeto, assinado pelo arquiteto Thiago Braddell, deu origem a um reduto de paz e de comunhão. As duas paixões do seu proprietário, a caça e os toiros, tinham ali lugar cativo, finalmente. E por alguns anos ele viveu esta casa em pleno, rodeado de família, amigos e natureza. Durante o período de construção, marido e mulher visitavam o Alentejo uma vez por semana.
Tudo foi pensado e desenhado à medida dos seus desejos e necessidades. Máximo conforto, e área quanto baste para que to- dos os que por lá passam, e ficam, se sintam bem acolhidos e à vontade. “Existem quartos em número suficiente para receber, aqui muitas vezes assistimos a verdadeiras tertúlias, os verões encheram-se de conversas, de todos os que nos visitaram.
Usámos muito esta casa em época de caça, no período do Natal, na Páscoa e, no verão, filhos e netos juntavam-se a nós no mínimo por uma semana”, relembram os familiares, em tom saudoso. “É uma casa rica em memórias, com muitas histórias, e ainda hoje, felizmente, ela é usada pela família e amigos que aqui encontram um pequeno microcosmo de privacidade e paz”, prosseguem.
Devido à topografia do terreno, a casa conta dois pisos, sendo que a entrada e toda a vida social se faz no superior. Ali existem sete quartos, todos equipados com casa de banho, um WC social, a cozinha, a enorme sala, que integra a casa e jantar, e dois terraços. Cada um na sua extremidade, sendo que um está descoberto, e o outro é fechado nos meses de inverno.
Pensada para os tempos modernos, a casa não abdica do maior conforto, e todos estes quartos têm ar condicionado, que arrefece os seus interiores nos quentes dias do verão alentejano; também podem ter TV e telefone, mas como seria de imaginar nenhum dos quartos tem um aparelho de televisão. É acessório, considerando todas as ofertas desta habitação.
Intencionalmente, foi feito um acrescento ao edifício, para ali colocar mais três mesas redondas onde ca- bem muitas pessoas, a pensar nos convidados e nas longas refeições. No piso de baixo, alojam-se a zona de lavandaria, de grandes dimensões, e um telheiro para secar a roupa, e ainda mais três quartos, sendo que um deles é uma camarata, todos dotados casa de banho.
Há́ ainda espaço para a despensa, junto à lavandaria, e uma grande sala, a dos netos, com a mesa de bilhar, a televisão e outros acessórios indispensáveis aos mais jovens. Ao transpor a porta da casa, há́ um hall e, em frente a este, existem três portas com as suas molduras pintadas em cor sangue-de-boi. Abrindo estas portas, acede-se a um terraço coberto, com três arcos, que estão no enfiamento das três portas. Dali acede-se a um espaço com um sofá́ de jardim, dois cadeirões e, do outro lado, uma mesa que se utiliza para jogar às cartas.
Deste terraço fechado alcança-se o jardim, percorre-se a relva, depois descem-se uns quantos lances da bonita escada feita de troncos, e chega-se à piscina, estrategicamente ali colocada para salvaguardar a priva- cidade dos seus utilizadores. A casa é ainda rica em luz natural, com várias janelas que a deixam entrar sem rodeios, permitindo além do mais uma panorâmica como poucas na região.
No interior, destaque para um estilo clássico, com algumas notas de contemporaneidade. Mas esta é uma casa tipicamente de campo. Salientam-se, como tal, as madeiras pintadas de algum do mobiliário, as peças de família tão bem casadas com outras, adquiridas para o efeito, e a forte alusão à paixão pela caça.
Da grande sala de jantar, também ela estrategicamente localizada a meio da sala principal, porque assim era a vontade do seu proprietário, acede-se ao jardim através das três portas que, nos dias quentes, são abertas misturando-se interior com exterior, num quadro de grande beleza.
O jardim, gizado pelo arquiteto paisagista José́ Mexia, estende-se por vários metros quadrados e compreende uma grande mancha de verde, arranjos de pedras, em jeito de rock garden, composições de plantas autóctones, e outras, árvores, e a piscina. O jardim é, talvez, a coroa desta casa.
E é ali que toda a dinâmica familiar e de amigos se sente ainda mais, nos longos dias solarengos, demorando o olhar na paisagem que se estende por quilómetros e quilómetros, por- que na verdade, não há́ pressas nem horários, quando aqui estamos.