Por a 20 Outubro 2021

Fotografia: Cláudia Rocha Texto: Isabel Figueiredo

A bela paisagem campestre de Gloucestershire acolhe este pequeno celeiro recheado de muitos e variados tesouros, selecionados e guardados, ao longo dos anos, pelo antiquário e designer Chistopher Howe.

Observado ao longe, parece isso mesmo, um celeiro, uma estrutura simples e antiga de pedra da região de Cotswolds, ali no meio de todo aquele campo que se estende numa ondulação suave e verde. Mas ao percorrer o caminho em direção ao edifício, e depois de atravessar os portões e dobrar a esquina da casa, o que afinal observamos é algo totalmente diferente.

Uma residência de família contemporânea, de plano aberto, com fachada de vidro, espaços amplos e arejados dispostos como numa casa de bonecas, mas em grande escala, emoldurada pelo prado florido. E ao espreitar para dentro, o efeito é ainda mais surpreendente.

O que vemos é uma casa que parece ali estar há anos, antiga e cheia de pequenas preciosidades que foram sendo recolhidas e guardadas até aos dias de hoje. Esse é o resultado típico da obra de Christopher Howe, o designer e negociante de antiguidades raras, de 55 anos, especialista em manter a beleza das coisas antigas.

Mas o seu trabalho vai muito além da preservação pura e dura. Conhecido pelas suas lojas na zona oeste de Londres, Howe é um colecionador e restaurador do mais alto nível. Os móveis, tecidos e papéis de parede que ele próprio seleciona ou projeta cuidadosamente e os interiores que decora parecem transcender o tempo e o espaço, e o efeito é o de se ter viajado para uma era utópica, indeterminada, onde cada peça é bonita, e útil, e extraordinariamente intemporal.

A história desta casa começa durante o projeto de uma casa em Bray, Berkshire, para uns clientes de Howe. O que supostamente seria um projeto de pequena dimensão, transformou-se em algo maior. O Natal estava à porta, além disso vinha um bebé a caminho, e foi sendo cada vez mais claro que os clientes teriam de mudar-se rapidamente ou as obras nunca mais teriam lugar.

Para onde ir? Foi, nessa altura, e por força das circunstâncias, que este pequeno celeiro surgiu como alternativa. Estimulados pelas crescentes pressões do tempo, os clientes optaram por comprá-lo, quase imediatamente, em outubro desse ano (1914).

Não foram necessárias grandes obras para a casa receber a jovem família. O layout permaneceu exatamente como antes, com uma escada que funciona como volume central, dividindo os quatro quartos. Uma das suas valências é o máximo conforto: a casa tem tanto de cómoda como de acolhedora, estando equipada com aquecimento de última geração, controlável por smartphone, sem que se tenha abdicado da agradável lareira a lenha na sala.

Na cozinha, os armários ingleses de desenho simples contribuem para esta sensação ‘caseira’ e uma cómoda norueguesa do século XVIII encaixa-se tao bem neste cenário que poderia ter sido mandada fazer de propósito para o Espaço.

Uma cama dobrável francesa do século 19, no andar superior, está luxuosamente decorada com pilhas de almofadas. E os exemplos continuam…

Quando os construtores quiserem estender um lençol para proteger o chão das suas botas de trabalho e da passagem dos carrinhos de mão enlameados, Howe impediu-os: ele queria mesmo sinais de desgaste. “Nas casas novas e muito bem decoradas, raramente vemos ‘sinais’ da existência de animais ou crianças.

Criam a confusão e a desordem, e as pessoas têm aversão a isso. Mas nós adoramos todas as cicatrizes – as feridas de guerra. É isso que torna as coisas interessantes”. Cada peça de mobiliário conta uma história.

Há́ o banquinho da cozinha que Howe comprou a um vendedor relutante num mercado de rua em Santa Mónica; a obra de arte geométrica feita por um prisioneiro de guerra britânico; a pintura de Thomas Cromwell encontrada na loja de bric-à-brac nos correios da vila; o candeeiro de vidro Murano na parede do quarto…

A mistura de estilos e épocas é “um símbolo de como as pessoas deveriam dar-se bem”, comenta. Acreditamos que sim, que tal assinalaria a interação e a comunhão. E que as histórias das peças devem ser mantidas e contadas noutras casas, noutros cenários, porque só́ assim mantemos a ligação ao passado, a outras épocas e vivências, outras culturas e povos. 

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