Por a 16 Novembro 2021

O coletivo TwoBo Arquitectura assina o projeto desta casa de família, localizada num vilarejo antes ocupado por casas de pescadores, no noroeste da Ilha de Maiorca, nas Baleares.

Texto e fotografias pelos arquitetos

O local tem quatro enseadas banhadas pela água do mar, cristalina, que partilham o espaço com os imponentes volumes rochosos do Cavall Bernat, uma característica extraordinária daquelas montanhas, facto que chamou a atenção de uma comunidade de pintores que para ali se mudaram há cerca de cem anos… seguidos por turistas e os seus hotéis e apartamentos.

É justamente com base numa dessas casas de um artista plástico que este projeto nasceu. O terreno para a construção era, antes, um jardim que descia com forte inclinação a partir de uma torre, composto por paredes de pedra seca que se agarravam às depressões do terreno acidentado.

O projeto está enraizado conforme a forma como se escolheu observar as coisas ao redor. “Para contemplar, por vezes, temos de fechar os olhos, iludir a nossa visão. Para nos isolarmos de vizinhos mais próximos. Neste caso particular, para se isolar da confusão do enorme complexo de apartamentos que fica um pouco mais além.

A maneira como tal foi feito foi fechando um espaço vazio, construindo a casa nas periferias do lote. Foi desmontando os espaços habitacionais em volumes maciços que podem dividir, isolar ou abrir, dependendo do que é necessário ou desejado. Um olhar para o mar. A vista da torre do antigo pintor ou dos jardins que se misturam pelo uso de paredes de pedra seca partilhadas. Olhos postos no Sol, no Sul e nas origens deste lugar.

A casa é o tijolo e a argamassa usados para construí-la. Mas também é o espaço vazio entre as estruturas. Volumes que sobem para os quartos, descem para as escadas, abrem-se para as varandas, janelas… Os volumes reúnem-se num ponto de encontro no centro, como a memória de uma pequena praça de uma cidade.

E cada casa é a soma das suas memórias. Memórias de como as coisas eram construídas antes, com paredes de pedra e piso de cascalho que lembram o claustro de Pollença. Memórias do arquiteto Jorn Utzon que observou, leu e interpretou a ilha melhor do que a maioria dos estrangeiros ou locais. Memórias de azulejos coloridos da infância”.

Alguns anos se passaram desde que a casa foi construída. A família cresceu, assim como as plantas e a vegetação ao redor da casa. O salitre e as violentas rajadas de vento frio desgastaram as paredes rochosas voltadas para o norte, enquanto o sol deixou a face sul brilhante como nova.

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