O Dia Mundial do Livro, assim lemos no site da GGLAB (Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas), celebra-se desde 1996, por decisão da UNESCO, a 23 de Abril, com base na tradição catalã segundo a qual, neste dia, os cavaleiros oferecem às suas damas uma rosa vermelha de S. Jorge, e recebem, em troca um livro, testemunho das aventuras do heroico cavaleiro. Neste dia, comemora-se também o Direito de Autor.
Para 2022, a ilustradora Susa Monteiro − Menção Especial do Prémio Nacional de Ilustração em 2019 com o livro ‘Sonho’, editado pela Pato Lógico − concebeu a imagem do cartaz. Por esta ocasião, também, procuráos algumas casas em que estantes são parte integrante e elementos de destaque.
Loft no Itaím, Brasil
A primeira intervenção neste apartamento, pelo coletivo FGMF, foi a demolição de todas as paredes e divisões que pareciam supérfluas a fim de garantir a maior expressividade possível das melhores características do local – a espacialidade criada pelo pé direito duplo e grandes janelas.
De forma a amplificar a sensação dessa espacialidade e organizar os livros, objetos e obras de arte dos proprietários, foi criada uma grande estante que percorre toda a sala, criando o local da cozinha aberta, integrada, que termina no hall de entrada. Este móvel é hoje o elemento mais marcante do projeto, criando as referências de toda a organização espacial do local.
Os revestimentos do projeto foram todos subordinados à estante; o piso em ébano, as paredes em tijolo aparente pintado de branco, o teto em cimento à vista. A iluminação foi resolvida através de um grande trilho suspenso que pode ser regulado conforme a necessidade e traz iluminação direta e indireta.
A coleção de obras de arte fica exposta em todas as paredes possíveis, e há, nesta decoração, pequenas preciosidades que podem ser descobertas, como um pequeno Jeff Koons semioculto na mesa de centro de acrílico. O mobiliário contemporâneo, como o sofá exclusivamente desenhado e a poltrona dos irmãos Campana reúne-se a antigos móveis de família, pré-existentes. O conjunto forma um local onde a estética da família transpira e invade o visitante, desde a sua espacialidade até às pequenas descobertas que estão na grande estante.
Casa 1101, em Barcelona
O coletivo catalão Harquitectes projetou esta casa, designada 1101, que partiu de uma lista de desejos e sonhos dos clientes – uma casa com paredes num jardim para um casal de colecionadores de arte. Uma lista muito mais próxima dos princípios e valores com os quais os arquitetos normalmente trabalham, frequentemente em segredo, do que com as expectativas comuns que as pessoas enfrentam. Mas listas são sempre repletas de boas intenções, só que frequentemente incompletas. Contudo, foi este o ponto de partida. Cheio de responsabilidade, mas, ainda assim, um bom ponto de partida.
O terreno, localizado na área residencial de Sant Cugat, próximo a Barcelona, tinha bons atributos, os suficientes para se tornar um eixo estruturador do projeto. Um dos objetivos principais era alcançar uma relação próxima entre a casa e o jardim de tal maneira que ambos se tornassem a expansão um do outro. Tudo isso, sem cair nos inevitáveis grandes painéis envidraçados, muitas vezes fora de proporção: eles queriam paredes, e os arquitetos também. Uma casa com paredes num jardim de um casal de colecionadores de arte.
Por tais razões, desde o início, a proposta procurou o equilíbrio entre posicionar o maior número de espaços possíveis no piso térreo e ainda manter o jardim livre de volumes de alvenaria. A ideia é desenvolvida através de uma composição volumétrica moldada em três cubos espalhados no jardim, praticamente alinhados e localizados no lado norte do terreno, criando uma grande zona externa com orientação sul. O primeiro cubo, localizado a leste, abriga a área destinadas às crianças com três quartos individuais no nível superior, e uma sala para jogos no nivel térreo.
O segundo, ao centro, acomoda o ambiente principal: a cozinha, uma sala com quase 30m² e 4 metros de altura dominada por uma grande lareira. O terceiro cubo, a oeste, contém a área dos pais, com o quarto no nível do jardim e um estúdio de pé direito alto no primeiro andar.
Uma casa para amantes de livros e gatos, Nova Iorque
Os clientes compraram uma casa geminada em Windsor Terrace, Brooklyn (NY), onde desejavam encontrar formas interessantes de importar cor e luz para os interiores e criar espaços para cada um viver e trabalhar (e poder exibir a sua extensa coleção de arte e livros, já que um é artista e o outro é poeta). O briefing passado aos arquitetos do Barker Associates Architecture Office também exigia nichos e esconderijos especiais para os seus dois gatos, tímidos mas curiosos, por onde pudessem escapar-se dos convidados inesperados.
O layout foi configurado como um espaço aberto e arejado, com uma boa altura no nível da sala de estar, forrado de um lado por uma estante de livros de corpo inteiro, parede de arte e circulação para os gatos e espaço de lounge.
As prateleiras foram projetadas para criar degraus para os gatos subirem até uma extremidade aberta contínua, onde podem observar as atividades a partir de um ponto alto. As portas de alçapão permitem que os bichanos acessem aos quartos acima em cada extremidade da casa.
Algumas soluções, como nichos na parede, abrigam a coleção de esculturas dos proprietários e uma série de cubos de rubik recuperados com imagens de nuvens, também projetadas pelo proprietário. A superfície é pontuada por blocos de gelado de melão de Benjamin Moore nos nichos das prateleiras. No centro, uma clarabóia leva a luz do segundo andar até ao nível da sala de estar.
A casa escondida, Roterdão
Passando por uma das ruas mais antigas de Rotterdam Kralingen, vamos dar com a Hidden House (e o seu belo jardim). Calcorreando um caminho estreito de cascalho, escondido pelos jardins exuberantes das vilas em redor, o edifício, construído entre 1820 e 1840, como aposentos do jardineiro do antigo Slot Honingen, configura uma casa geminada, que estava em ruínas e precisava de uma reforma completa e, logo, de uma atualização segundo os padrões atuais. O estúdio LMNL assina o projeto de recuperação da casa, adquirida pelos atuais proprietários em 2016.
O isolamento de fibra de madeira, entre duas camadas de gesso de barro, isola toda a casa por dentro, já que o exterior é uma fachada histórica protegida. Este método de isolamento protege as paredes de tijolos, pisos e telhado, permitindo a transferência de humidade, proporcionando um clima interior estável e saudável que requer aquecimento mínimo durante o inverno.
O piso térreo compreende o espaço principal – uma única área que abriga as funções de refeições, cozinha e sala de estar. Um moderno fogão a lenha ancora o espaço. A cozinha, com a sua parede branca e a ilha verde coberta com mármore, é um projeto sob medida e forma o centro da casa. Subindo a escada / estante personalizada, dois quartos grandes, um pequeno espaço de escritório e um WC completo compõem os espaços de estar privativos. O característico reboco de cal cria um jogo subtil de luz nas paredes, enquanto os pisos de cinzas com acabamento sabão branco mantêm o piso de cor neutra.