Por a 15 Junho 2022

Daniela Monteiro Torres e Helder Espada são os criadores da marca Andor, skates feitos de madeira maciça de faia. A ideia, como muitas, surgiu empurrada pela pandemia. Nós falámos com eles para ver o que rola por aí.

Texto: Isabel Pilar Figueiredo

A ideia surgiu em 2016, quando Helder criou o seu primeiro skate de madeira maciça, inspirado nas primeiras tábuas que apareceram nos anos 50. Naquela altura, contam, tinham outros projetos em mãos e não desenvolveram o conceito. Em 2020, a empresa onde Helder trabalhava como Team Leader, há mais de 10 anos, fechou devido à pandemia. Confinado em casa e sem trabalho, mas, pela primeira vez, com tempo livre e com a possibilidade de poder parar e pensar qual o caminho que realmente queria seguir, “voltou a entalhar depois de 20 anos e, aos poucos, foi-se formando a ideia e o conceito da Andor”.

O que vos une neste projeto?

Estamos juntos há 22 anos. Quando nos mudámos para Barcelona, em 2007, éramos jovens, cheios de sonhos e com muitas ganas de viver. Apaixonámo-nos pela multiculturalidade da cidade, pela descontração, pela forma como a sociedade se relaciona e aceita as diferenças, pelo anonimato e possibilidade de nos reinventarmos. Mas o que mais nos fascinou foi a diversidade cultural e artística, a criatividade e empreendedorismo. Isto é o que nos une na Andor, o facto de nos termos redescoberto aqui, de termos encontrado uma identidade urbana, que se coaduna harmoniosamente com a nossa forte ligação lusa à natureza.

Onde são feitos os skates? E quais os materiais empregues no seu fabrico?

Alugámos uma oficina num coletivo artístico no Bairro de Poble Nou, em Barcelona (Colectivo Bajel), e aí desenvolvemos toda a parte que implica maquinaria para cortar, lixar e marcar a madeira. E temos em casa um pequeno atelier, onde fazemos o resto do processo: projetamos, desenhamos, entalhamos e preparamos os pedidos.

Os skates são feitos de madeira maciça de faia. O nosso fornecedor é Fustes Garrida, um armazém de referência na Catalunha, com mais de 40 anos de existência, que comercializa madeira certificada de bosques sustentáveis. Para criar as tábuas Andor usamos apenas a madeira maciça e cera de abelha 100% natural para proteger e hidratar a madeira.

Onde poderemos encontrá-los à venda?

As nossas tábuas podem ser compradas na nossa loja da Big Cartel (andorskateboards.bigcartel.com) ou podem contactar-nos diretamente através do nosso site, em www.andorskateboards.com. Fisicamente estão à venda na skateshop Caribbean, em Madrid (caribbean.es).

O que vos falta fazer?

Quase tudo! Queremos incluir trucks e rodas juntamente com as tábuas. Estamos a trabalhar em conjunto com outra marca para poder oferecer os suportes adequados para as pendurar na parede. Queremos desenvolver um kit de manutenção; fazer uma exposição; apresentar um workshop… temos muitíssimas ideias para as próximas coleções e acreditamos que a Andor tem imenso potencial.

Um país visitado recentemente que vos inspirou no vosso trabalho?

Adoramos viajar e essa é, sem dúvida uma das nossas fontes de inspiração. A nossa última grande viagem foi antes da pandemia, à Indonésia, onde fomos a um casamento de um amigo, mas aproveitámos para fugir de Bali, onde já tínhamos estado antes, e explorar outras ilhas. Quando se sai um pouco do roteiro turístico, descobre-se o país profundo, o seu artesanato tradicional e património cultural. Dessa viagem trouxemos a inspiração que nos fez reproduzir elementos da natureza nas nossas tábuas. 

Uma pessoa que vos inspira a continuar e seguir em frente.

É difícil escolher uma única pessoa que nos inspire. Acreditamos que somos inspirados por diversas pessoas ao longo da vida, dependendo do momento que atravessamos. Para mim (Daniela), no topo da lista, estarão sempre os meus pais, pelos seus valores, a sua retidão de caráter e coração generoso.

A nível artístico (Hélder), e como referência penso em João Cutileiro, Júlio Pomar, Basquiat, Frida Khalo, Botero, Vhils, entre tantos outros. E tenho sempre em mente Saramago, não só pela sua intelectualidade crítica e aguçada, mente criativa e brilhante literatura. Mas como referência intemporal, de quem só depois dos 40 anos se dedicou à sua vocação. Faz-me acreditar que nem sempre encontramos o nosso caminho aos 20, que é possível driblar as circunstâncias da vida e nunca é tarde para começar de novo.

Quais são as grandes vantagens de andar de skate? Toda a gente pode equilibrar-se numa prancha?

O skate é o meio de transporte mais portátil que existe, permite as deslocações dentro da cidade com rapidez e sem preocupações. Andar de skate transmite uma liberdade indescritível, é uma dança sobre rodas, é permitir que todo o nosso corpo se alinhe num movimento. Mesmo que haja sempre alguém com mais ou menos facilidade, como em qualquer outra atividade; acreditamos que qualquer pessoa é capaz de encontrar o seu equilíbrio e possa aprender a deslizar com uma tábua.

Até onde vos levam os vossos sonhos e vontade de desbravar caminho?

A Andor tem como base áreas bastante diferentes, o que nos fez chegar a esta fusão entre o tradicional e o contemporâneo. Acreditamos que é importante resgatar técnicas antigas que se vão perdendo, e adaptá-las a elementos modernos do nosso quotidiano. Por isso, apesar de provavelmente existir um nicho para a Andor, acreditamos que é uma marca com um público eclético. Não são só para quem anda de skate, as nossas tábuas trazem para qualquer casa, simultaneamente, um toque urbano, artístico, tradicional e de natureza. Por isso, sonhamos mostrá-las ao mundo, sonhamos vê-las penduradas em muitas paredes de casas bonitas, vê-las deslizar pelas estradas das ruas de todo o mundo.

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