Por a 27 Julho 2022

Localizada em Trancoso, no Brasil, a Casa na Areia propõe-se como uma máquina sensorial na qual a natureza, a luz, a sombra e o constante e infinito som do oceano se tornam os materiais fundamentais do projeto.

Arquitetura: studio mk27 – marcio kogan + marcio tanaka / Interiores: studio mk27 – diana radomysler + serge cajfinger + pedro ribeiro / Fotografia: fernando guerra | christian moller andersen / descrição enviada pelos autores do projeto

Existem limites, como o oceano, que aparecem aos nossos olhos e à nossa alma como aberturas extremas. Quando confrontados com esses poderosos elementos naturais, a arquitetura também deve abrir-se e projetar-se para o limite. A Casa na Areia, localizada em frente à extraordinária paisagem do Oceano Atlântico no norte do Brasil, experimenta esta aventura.

Imersa no matagal verde que introduz a bela praia de Itapororoca, a casa apresenta-se como uma autêntica experiência sobre a dissolução da arquitetura no espaço natural. O programa funcional é reduzido ao mínimo e a casa é desprovida de espaços fechados que não sejam estritamente necessários (corredores, halls de entrada). O espaço confinado é reduzido ao máximo, até contemplar apenas os ambientes básicos que são condensados ​​em cinco volumes separados, cinco cápsulas de vida, cada uma essencialmente dedicada a uma única função: uma para a cozinha, outra para o almoço, uma para a sala e o quarto principal e duas para os outros quartos.

Os volumes repousam sobre um deck de madeira retangular alongado, ligeiramente elevado do solo e colocados paralelamente uns aos outros, mas ligeiramente deslocados. Toda a implantação do projeto é coberta por uma pérgola de eucalipto roliço rústico sustentada por 14 pórticos de madeira laminada. O rigor e a lógica da estrutura modernista são confrontados com algumas exceções importantes, como as doze aberturas retangulares na cobertura que interrompem a continuidade permitindo a passagem das árvores que foram abraçadas pelo deck e a entrada de luz direta nos espaços. Esse contraste entre racionalidade e arbitrariedade reduz a lacuna entre arquitetura e natureza.

A vida acontece dentro dos volumes e no deck de madeira que se torna o tecido que liga toda a casa, libertando o movimento entre os espaços. A presença da permeabilidade na cobertura torna esta situação ambiental altamente ambígua, transformando o que, de outra forma, seria um pórtico normal numa espécie de gradiente emocional fundamental que harmoniza a arquitetura com a natureza. Agentes atmosféricos, como a luz e a chuva, filtrados pela cobertura, criam sombras sugestivas que dialogam com as sombras causadas pela folhagem das muitas árvores que envolvem a casa e cobrem todo o lote até à praia. Em todos os espaços da propriedade, vive-se imerso numa atmosfera suspensa e poética.

A casa está imersa na mancha verde, mas talvez seja melhor dizer que a casa é a mancha verde em si. Nesse sentido, a piscina, que é desviada da estrutura principal e próxima da praia, também passa a fazer parte da casa. A piscina é definida externamente por linhas curvas que lembram linhas naturais, enquanto o interior é marcado pelas linhas paralelas de dois sistemas de degraus opostos que partem de duas alças e se movem em direção à parte central, formando uma área livre de forma quase retangular. A piscina fica numa posição longitudinal em relação à estrutura principal, introduzindo um diálogo dinâmico entre a piscina, a casa e a praia vizinha.

Em Trancoso, a casa propõe-se como uma máquina sensorial na qual a natureza, a luz, a sombra e o constante e infinito som do oceano se tornam os materiais fundamentais do projeto.

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