Por a 24 Janeiro 2023

É uma pequena galeria em Lisboa. É grande, contudo, o trabalho de pesquisa de Marie de Carvalho. É grande a sua abordagem, abrindo caminho a artistas e artesãos, menos ou mais conhecidos, mas igualmente talentosos. E este palco tem duas montras para o mundo.

Texto: Isabel Figueiredo / Fotografias: João Guimarães, Inês Subtil, Cécile Lopes

Com uma segunda exposição dedicada ao Douro (‘From Alentejo to Douro’), a galeria OJO prossegue o seu curso, dando passo ao mundo de arte contemporânea com peças únicas, desenhadas por artesãos, jovens artistas e designers, portugueses e estrangeiros. A curadoria e direção artística da francesa Marie de Carvalho é especial. O seu olho é treinado e curioso e o critério é apurado. Na OJO, vale a pena passar o tempo, admirar cada peça e apurar os ouvidos, porque cada escultura, quadro, cerâmica ou desenho encerra uma história, e quem não gosta de uma boa história?

Marie, nascida e criada em Paris, filha de mãe francesa e pai português, escolheu Lisboa para morar durante um ano, sem saber que por aqui ficaria para além do imaginado. “Depois de ter trabalhado em marketing e comunicação para empresas de grande vulto, decidi, com a crise dos 50, viver em Lisboa por um ano, mas já passaram quatro e ainda aqui estou”, conta-nos. “As minhas amigas portuguesas dizem que tenho uma relação com o país muito especial, porque tenho uma ‘costela’ portuguesa. O meu pai, já falecido, foi para França estudar aos 10 anos, criou a sua empresa na área financeira e nunca mais regressou, porque conheceu a minha mãe, francesa – o poeta Fernando Pessoa escreveu “A minha pátria é a minha língua” e eu queria aperfeiçoar a língua do meu pai mudando-me para cá, embora eu viva entre Lisboa e Paris”.

Tudo a encanta nesta país: “A gente, as paisagens, a comida maravilhosa, o artesanato, a natureza generosa, a história incrível”.

Quando comprou a casa em Lisboa, há dois anos, Marie queria que todos os espaços tivessem artistas portugueses. “Artistas desconhecidos com muito talento. A casa foi desenhada por um arquiteto, ele próprio português, Manuel Aires Mateus, e achei importante que tudo nela fosse nacional, até aos pratos da cozinha. Procurei ceramistas e pintores – as primeiras peças de cerâmica são dois vasos de Maud Téphany, do atelier Sedimento”. Viajou de norte a sul para visitar os artesãos. “Os pratos de cozinha são de Bisalhães, os cestos de fruta da região da cortiça alentejana, as chávenas de café são peças únicas feitas em Mirando do Corvo, os cestos onde guardo muitas coisas são de Porto de Mós. Adorei todos estes encontros, percorrendo o país, indo aos estúdios dos artistas”.

As amigas que a visitavam teciam elogios às suas escolhas, gostavam dos artistas que Marie foi encontrando, das peças selecionadas para a casa de Lisboa. E esse foi o início do projeto da OJO. “Decidi mostrar a todos que há muitos jovens portugueses cheios de talento”.

A primeira exposição que a OJO organizou teve como tema o Alentejo, “uma região que adoro; eu tinha a minha visão, mostrei o meu moodboard aos artistas e eles tinham a visão deles e daí surgiu um olhar comum. Foi incrível!”.

Aberta desde o início de 2022, a OJO Gallery é um projeto muito acarinhado. “Acho que não vou viver anos suficientes para agradecer a toda a gente”.

A fase seguinte? Continuar o seu trabalho de curadoria e de interiores, fundar um laboratório criativo dedicado à arte de viver, onde a “noção de arte total” é o princípio fundamental. E nutrir muito mais encontros, pôr em diálogo várias disciplinas e dar a conhecer tantos mais talentos, sem perder o fio às tradições artesanais portuguesas.

O que a emociona?

O que me faz feliz são os encontros com pessoas que têm uma visão diferente da minha, mas que têm algo em comum comigo.

O que a incomoda?

As pessoas que dizem que fazem, mas não fazem. E as pessoas mentirosas e hipócritas.

Um momento do dia que é sempre especial?

Quando saio cedo para o meu treino diário de 45 minutos e tomo o meu primeiro café do dia com as pessoas extraordinárias (Anne, José, Sofia, Margarida, Pureza, Vera) que conheci no ginásio.

O que a faz feliz?

O amor da minha família. Tenho 3 filhos já crescidos (Hugo, 24, Charlotte, 20, Constance, 18) e que vejo muito pouco porque estão a estudar cada um em diferentes países, e claro, o meu marido, que sempre me apoiou em tudo o que eu faço.

A SABER

Rua de São Bernardo, 9 A e B Lisboa

Tel.: +351 933 289 072

www.ojogallery.com

www.instagram.com/ojo.gallery

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