A apenas 250 metros de distância do oceano Atlântico, com vistas para uma paisagem como poucas, e num lugar para muitos especial, esta casa de férias resistiu ao tempo… mesmo a tempo de ser resgatada e de lhe ser devolvida a alma. O conforto, hoje, é outro. Porque os tempos assim o exigem.
Fotografia: José Manuel Ferrão / Texto: Isabel Figueiredo
Para quem conhece bem a zona, para quem passou a sua infância e adolescência em rodas de amigos até ao cair do sol, naquela bela praia chamada Grande, este texto poderá ter um efeito nostálgico. Mas a praia ainda lá está, os aromas são os mesmos, talvez até a bola de Berlim e as batatas fritas de pacote não sejam assim tão diferentes daquelas que devorávamos depois de não-sei-quantos-mergulhos. Não estaremos a mentir se alguns destes sentimentos, nalgum ponto da sua vida adulta, se tenham apoderado do nosso interlocutor, o proprietário desta casa de praia, durante tantos anos alugada pelos pais e onde ele, com certeza, terá vivido momentos até hoje inesquecíveis.
Desde criança que João conhece os cantos à casa. Era nela que passava férias. Dos anos 60 aos 90 vão trinta anos e ali mesmo no início da década, em 1992, João decidiu adquirir aquele edifício motivado pelas boas memórias. A casa, alugada pelos pais, estava agora disponível para compra.
Não exibia já a boa forma de outrora, apresentava sinais visíveis de alguma deterioração, logo, havia que repensar o seu layout e fazer obras de vulto, de melhoramento, para acolher a família de quatro. Como tal, foi deitada abaixo uma parede abdicando-se de um dos quartos para dar origem a uma ‘master suíte’, de grandes dimensões. Um ano depois, foram feitas as obras do jardim e da piscina.
O projeto de arquitetura e de arquitetura de interiores é da autoria do arquiteto Ferreira de Castro, da Escola de Raul Lino – celebrado nome da arquitetura portuguesa e com uma vasta obra, espalhada um pouco por todo o país.
A qualidade de construção, as madeiras, a existência profusa de pedra e de pouco tijolo e, depois, a sua excelente exposição solar, o jardim superior e inferior, a piscina, o facto de acolher cinco quartos – e, logo, família e amigos em fins de semana de praia, distante a apenas 250 metros – e aquela vista, são tudo pontos a seu favor, valências concentradas numa parcela de terreno na costa.
Lá dentro, no piso térreo, há espaço para um quarto, casa de banho, cozinha, despensa e copa, sala de estar/jantar, o hall de entrada, uma zona de arrumos e a garagem. No piso superior, alojam-se mais quatro quartos e uma casa de banho. No total, o edifício soma cerca de 280 metros quadrados, dois jardins, um superior e outro inferior, com canteiros, totalizando uns 300 metros quadrados cada.
Os interiores são, como nos descreve, “mid 20´s e foram ‘acontecendo’ espontaneamente. Tudo foi sendo construído a seu tempo, integrando o melhor possível peças que já pertenciam à família e outras, que foram sendo adquiridas”. Peças herdadas dos avós, outras compradas em alguns leilões em Londres e em Paris, aquisições aqui e ali… juntam-se aos vários “quadros, tapetes e livros que viajaram comigo, sempre, desde que vivi naquelas duas cidades, quando ali trabalhava nos anos 80”.
Os tons quentes da madeira e os têxteis harmonizam-se com estas peças contribuindo para uma atmosfera acolhedora. “Fazem parte do meu ‘Petit Coin au Monde’, que é mesmo aqui, só aqui. É uma questão de ‘belonging’ e de homenagem a tudo aquilo, material, que me tocou, ao longo de décadas”. Assim posto, percebemos, no final do dia, que às memórias com cheiro a praia se somam estas, também, resultando, como não? num final feliz.