Boiseries, florões e pavimento em espinha-de-peixe. Sofás pele de tigre, néons e uma boa dose de irreverência. Neste apartamento em São Paulo, Brasil, o clássico europeu acabou reinventado. O resultado tem tanto de colorido como de surpreendente e mostra que a fronteira entre estilos, é uma linha ténue que, sabendo, se pode cruzar.
Projeto: Renata Spinelli / Fotografia: Evelyn Müller
Este apartamento foi comprado em planta e entregue à arquiteta Renata Spinelli para, conta, “fazer um projeto básico”. Mas como na vida, as ideias e as vontades não são estáticas e o projeto foi-se aperfeiçoando, até ao dia de entregar as chaves.
A proprietária apresentou à arquiteta uma lista de desejos bem definidos. Queria pavimento em madeira colocado em espinha-de-peixe, paredes decoradas com boiseries bem trabalhadas e grandes fotografias. “A partir desta lista, fizemos um estudo para chegar a um conceito que surpreendesse. Não sei dizer se, no primeiro momento, a cliente ficou contente com todas as escolhas do projeto, mas tenho a certeza de que juntas, nos divertimos muito ao longo do processo, trazendo novos elementos, criando e desenhando mobiliário, brincando com cores, indo a todos os lugares possíveis e inimagináveis para obter o melhor resultado”, conta Spinelli.
Por ser novo, o apartamento foi entregue pela construtora sem nenhum material de acabamento e todas as definições partiram do zero. Na área social, a arquiteta pintou o teto de branco e as paredes num tom areia para deixar a base neutra e assim destacar alguns móveis coloridos e, em especial, o tapete feito por medida para o ambiente de estar (fornecido pela Paola Muller), que se tornou o ponto central do projeto.
“Na verdade, o tapete foi um dos últimos itens que escolhemos. Partimos dos outros elementos que já havíamos definido na decoração para eleger as cores dele e assim deixar tudo harmonioso”, informa Spinelli. Já a marcenaria foi toda desenhada pelo escritório e executada pela empresa Taniguchi Marcenaria.
Segundo a arquiteta, houve poucas alterações na planta original proposta pela construtora: a varanda, antes isolada, foi integrada na sala e a largura da cozinha foi ampliada para caberem mais armários. No espaço de living, a combinação de boiseries, florões e sancas com forro em colmeia na antiga varanda foram fundamentais na construção de um projeto que lembra o estilo europeu, porém sem ser rebuscado. “A ideia era deixar o apartamento chique e, ao mesmo tempo, com uma identidade contemporânea”, explica a arquiteta.
Integralmente nova, a decoração é uma mistura de conceitos, cores, texturas e muitas trocas de ideias e informações entre a cliente e a arquiteta. O espaço de banho, por exemplo, é um ambiente lúdico e até cénico, pensado para impactar e surpreender as visitas. Outro espaço autêntico no apartamento é o hall íntimo. “Para aqui, escolhemos tons marcantes e diferentes para as portas, rodapé, molduras e paredes. Ao acender o quadro com luz néon, o corredor transforma-se, passando a destacar outras cores”, revela a arquiteta.
Entre as peças de design assinado, Renata Spinelli destaca a arandela Fubá, em palha de milho (da Cristina Bertolucci), o vaso Sister (da Pepa Reverter), as almofadas da LaDoubleJ, a escultura Wonder Cloud (da Seletti) e a poltrona Karelia azul assinada por Liissi Beckmann para italiana Zanotta (da Firma Casa). Entre as obras de arte, Spinelli destaca a escultura Cactos (de Israel Macedo), o quadro com fotografia de balões de gás vermelhos (de Denilson Machado) e o quadro com luz em néon, no corredor para a área íntima, criado por ela própria em conjunto com a cliente. “Comprámos a imagem, emolduramos e mandamos aplicar o néon à volta do cabelo da medusa”, conta.
“O nosso maior desafio neste projeto foi casar todos os fornecedores e prazos. Como fizemos algumas escolhas pouco convencionais, tivemos que aguardar os resultados para só então ajustar com os outros fornecedores envolvidos”, finaliza a arquiteta Renata Spinelli.