Uma antiga galeria de arte, dividida em várias salas, no bairro de Salamanca, em Madrid, é hoje uma casa luminosa e ampla. O projeto de reabilitação (2011) é do arquiteto Jaime Benavides, em colaboração com a designer de interiores Inés Benavides, que se ocupou de renovar a decoração nove anos depois, a pedido dos novos moradores.
Paisagismo: Benavides Laperche / Texto: Isabel Figueiredo
O apartamento, no último andar de um edifício em frente à Biblioteca Nacional, em Madrid, foi integralmente remodelado pelo arquiteto Jaime Benavides, que o transformou em algo muito diferente do original. Em 2020, Inés Benavides revisitou o projeto de design de interiores, atualizando a decoração da casa.
O edifício, datado do início do século XX, é muito característico daquela época em Madrid e está localizado numa das melhores áreas do bairro de Salamanca, a poucos metros do Parque do Retiro e com vista para o Museu Arqueológico e a Biblioteca Nacional da cidade.
Os proprietários procuravam um último andar com terraço naquela zona e queriam ser eles próprios a tratar do projeto de reabilitação, razão por que procuravam uma casa com história. Madrid, e sobretudo o bairro de Salamanca, tem pouca oferta de apartamentos com tais características, por isso esta foi uma oportunidade única, sobretudo considerando as vistas do Museu Arqueológico a partir do terraço.
Até ao ano de 2011, o apartamento alojava uma galeria de arte que se compartimentava em várias salas e cada um destes espaços, além de pequenos, eram muito escuros, com exceção das áreas que davam para as fachadas.
Pensado para uma família pequena, composta pelo casal e um filho, que já não mora com os pais, o projeto de reforma considerou uma dinâmica familiar descontraída e simples, e por isso os espaços comuns são hoje muito generosos em dimensão, bem como o quarto principal.
O facto de se tratar de um casal sem grandes responsabilidades familiares afetou a distribuição e a estrutura. “O projeto de remodelação foi completo, já que a distribuição original não era a que os proprietários desejavam. Além disso, as paredes portantes estavam em péssimas condições e toda a estrutura teve de ser refeita”, conta-nos o arquiteto. Da mesma forma, a distribuição atual permite que os espaços públicos se comuniquem entre si sem a necessidade de usar paredes. Assim, “a visão geral da casa responde a um espaço aberto e cheio de luz”.
Os materiais estavam muito deteriorados e apenas duas colunas originais da estrutura puderam ser preservadas, além dos radiadores e das venezianas de madeira. De resto tudo é novo, “embora o objetivo fosse fazer com que o apartamento parecesse ter sido sempre assim, com os elementos típicos dos apartamentos do virar do século”.
No total, a penthouse soma 200m2 de habitação a que se juntam os 35m2 do terraço. Além do terraço, a casa tem uma sala de jantar com vista para o Museu Arqueológico, uma cozinha, um quarto para o filho, um escritório, uma suíte com sala incluída e duas casas de banho. Em termos dos interiores, a casa mantém um estilo clássico graças aos elementos arquitectónicos preservados, mas transmite um ar moderno e sofisticado devido à presença dos móveis e elementos decorativos utilizados.
“Foram utilizadas peças decorativas clássicas misturadas com móveis modernos, e esta mistura também está presente nos materiais”, descreve Inés Benavides conhecida pela sua abordagem única, com numerosos projetos de interiorismo realizados em Espanha e fora, quase sempre elaborados em estreita colaboração com Jaime Benavides e com as paisagistas da empresa Benavides Laperche.
“Utilizámos madeiras nobres para conseguir a sensação de aconchego, tanto nos pisos como nos revestimentos e móveis; a sensação de frescura e modernidade foi obtida com a aplicação de tinta branca e a escolha de materiais frios como o mármore, o microcimento e o granito preto”. Ocasionalmente, foram usadas cores fortes, como o mural no corredor ou o papel de parede no quarto, e tons mais escuros para tornar o espaço mais quente, como o microcimento na casa-de-banho.
“Não era desejado perder a essência dos pisos tradicionais do início do século XX, por isso foram utilizados os materiais típicos da época, como o soalho em pinho Melis, as janelas de madeira, as cornijas de gesso, os espelhos envelhecidos nas janelas, entre outros”.
A iluminação também é um aspeto importante, e foi pensada para destacar os elementos arquitetónicos e as obras de arte de alta qualidade. “Foi usada uma temperatura de cor quente e regulada nos espaços públicos da casa para criar distintas atmosferas”, acrescenta.
Embora as paredes sejam, na sua maioria, brancas, foram colocados rodapés de madeira, vidros lacados e microcimento, salientando-se a composição de espelhos envelhecidos nas paredes da cozinha. Também os tetos foram pintados em laca brilhante para refletir os móveis e as janelas, para uma sensação de profundidade; para dar um toque mais original, Inés pediu aos pintores de Tierra y Pigmento que fizessem dois murais.
“Todos os tecidos são da Dedar e são todos de fibras naturais (principalmente linho e lã)”, destaca Inés. “A cor foi usada nos sofás e nas almofadas, mas mantendo sempre a mesma ideia de qualidade e sobriedade. Nesta linha, são igualmente importantes os tapetes da Rug Company, que asseguram uma aparência confortável ao conjunto”.
Os móveis contemporâneos combinam-se com as peças artesanais de madeira, destacando-se peças de grandes designers como Charlotte Periand, Philippe Starck ou Patricia Urquiola, todas editadas pela Cassina. Não menos importantes na decoração são os móveis da empresa valenciana Agrippa, artesãos que trabalham a madeira como ninguém, e estas últimas combinam muito bem com as peças desenhadas pelo atelier Inés Benavides.
Por outro lado, os proprietários têm muitos livros, como tal, foi importante fazer desenhar e mandar fazer estantes à medida, que ocupam algumas paredes em vários espaços da casa.