O arquiteto fundador do coletivo de arquitetura GV+A Arquitectos, e membro da Speisse, fala em entrevista à Urbana, sobre o escritório, os projetos, os seus sonhos e motivações.
Texto: Isabel Figueiredo / imagens cedidas
Como nasceu a GV+A e de que forma se seguiu a Speisse? O que distingue as duas empresas?
A GV+Arquitectos nasceu de forma natural, após alguns anos de trabalho em gabinetes de arquitetura e mais tarde como diretor técnico de uma empresa de construção em Angola. Já naquele país, percebi haver espaço no mercado para gabinetes de arquitetura, dado o enorme investimento que estava a ser feito em imobiliário, e na sua reconstrução, e decidi aventurar-me por conta própria.
A Speisse nasce mais tarde, como forma de apoiar os clientes da GV+Arquitectos que procuram obras de dimensão média. Tínhamos as grandes construtoras interessadas em concorrer às obras acima de 1/2 milhões, mas com muito pouco interesse em concorrer a obras abaixo disso, ficando os clientes dependentes de pequenos empreiteiros, muito pouco organizados e profissionais. Achei que teríamos espaço para uma empresa de interiores e design and build que apontasse para esse nicho de mercado. No fundo, a GV+Arquitectos faz os projetos e a Speisse ocupa-se da sua construção.
Como foi transportar o conceito, que tem a sua origem num mercado tão distinto como Angola, para Portugal?
O mercado em Portugal é mais concorrencial e mais maduro e por isso a entrada tem decorrido de forma gradual. Não queremos dar passos maiores do que os possíveis, queremos manter o nível de qualidade que nos identifica. Tinha, a meu favor, o facto de Portugal ser o meu país natal e aqui ter a família a viver desde 2012. Por outro lado, a GV+Arquitectos já tinha o seu back-office de produção em Portugal e por isso trazer o conceito foi mais um passo numa evolução que vejo como natural. A natureza de ambos os mercados pode ser diferente, mas as exigências e as necessidades não serão. Todos os nossos clientes partilham o mesmo sonho de fazer parte de um projeto arquitetónico com qualidade e elegância, executado com eficiência, dentro dos prazos e cumprindo o orçamento acordado.
Onde vai buscar a inspiração? A forma como aborda cada projeto difere consoante o mercado ou consoante o projeto?
A nossa inspiração começa sempre com três pontos que consideramos essenciais e estão na base de todos os projetos: Programa, Lugar e Cliente. Estes três pontos fazem com que cada projeto seja diferente e único pois estas condições nunca se repetem. Claro que o mercado (lugar) influencia os nossos trabalhos, bem como as experiências pessoais que vamos tendo e a aprendizagem constante inerente a cada projeto e obra. Tudo isso é e serve de inspiração e faz com que cada projeto tenha uma abordagem singular, algo bem identificável no nosso portfolio.
Prestam serviços nas áreas de desenvolvimento de projeto de arquitetura, design, reabilitação e construção. O processo criativo muda com frequência ou existem aspetos transversais a todos os trabalhos?
Existem alguns aspetos cujo conceito é transversal, tal como referi antes, embora depois a sua aplicação já não será. As três condições de onde partimos sempre – programa, lugar, cliente – são iguais em termos conceptuais mas diferentes em cada aplicação. Isso faz com que o processo criativo tenha uma mesma base de partida mas depois se desenvolva em sentidos diferentes. Quando a isso juntamos o nosso estado de espírito, uma viagem, uma experiência que tenhamos tido recentemente, tal transforma por completo o processo criativo. Dito isto, temos sempre algumas regras e matrizes para onde recuar quando as primeiras abordagens não resultam.
Fale-nos de um projeto residencial recente assinado pela GV+A ?
Um dos mais recentes, em termos de obra concluída, é o da Rua de Campo de Ourique, um projeto de habitação que contempla três operações urbanísticas: o englobamento do lote contíguo, demolição da ruína existente e construção de raiz de dois lotes. Trata-se de um edifício com apenas três apartamentos, um por piso, numa área bruta construída de 1004,09m2, mas que em nada afeta a linguagem existente na rua, quer volumétrica, rítmica ou morfologicamente. A solução ajudou a conferir uma melhor imagem e visibilidade ao arruamento, não só porque a periclitante ruína dá lugar a uma construção nova, mas essencialmente por se tratar de objeto construído contemporâneo de grande rigor arquitetónico e carregado de um forte sentido de integração e respeito pela envolvente. São servidos por uma garagem com dois lugares de estacionamento para cada apartamento e todos têm áreas exteriores.
De que forma se encaixa na malha urbana do bairro de campo de Ourique?
Penso que se encaixa bastante bem na escala, pois mantivemos a linha do que se passava já na rua em termos de alturas e desenho geral. No entanto, fomos arrojados no revestimento da fachada principal, optando por revestir a fachada inteiramente a azulejo preto. Foi a nossa forma de ir buscar algo muito típico em Lisboa, e em Campo de Ourique, que são as fachadas de azulejos, mas imprimindo-lhe alguma contemporaneidade e modernidade ao escolher a cor preta.
Qual seria o grande desafio arquitetónico que gostaria de abordar nos próximos anos?
O grande desafio nos próximos anos será fazer crescer o gabinete, mas em termos de projeto gostaria de trabalhar num museu. Não sei se todos os arquitetos pensam assim, mas acho que o museu é provavelmente o expoente máximo da possibilidade de mostrar arquitetura. São em regra espaços amplos, com um programa bastante livre, o que abre espaço para a criatividade e o “risco” arquitetónico.