A reconhecida designer de interiores Suzanne Tucker assina o projeto de remodelação e reconfiguração de uma casa na Califórnia para um casal amante do mar e do surf.
Fotografia: Roger Davies + OTTO / Adaptação: Isabel Figueiredo
As casas de praia são sempre evocativas de uma existência despreocupada, feita de muitos momentos ao sol e de mergulhos, de longas caminhadas pela praia, especialmente quando combinadas com as melhores ondas para a prática de surf ao longo da costa da Califórnia. Quando os clientes abordaram Suzanne Tucker e disseram que haviam comprado uma ‘cabana de surf’, o seu coração disparou com o entusiasmo – “sou uma rapariga de praia desde há anos”!, revela a designer de interiores norte-americana.
“O marido estava empolgado com a localização, as ondas, a melhor época do ano para os ‘swells’, aquela localização era o seu foco. A mulher, por seu turno, concentrou o seu olhar na casa e pediu-me que a fachada voltada para a rua mantivesse um diálogo direto com aquele estilo espanhol despretensioso tão típico da zona. E ambos concordavam que a fachada voltada para o Pacífico teria de ter uma aparência contemporânea, dar lugar a muito vidro e permitir o contacto visual direto com aquelas vistas espetaculares”.
O projeto de remodelação da casa implicou um ‘facelift’ exterior e a reconfiguração total dos seus interiores por forma a permitir toda aquela vista através de grandes vidraças e ainda incluiu as portas em arco, as paredes rebocadas à mão, o ferro forjado e as vigas de teto de aspeto cru que ajudam a garantir a ligação à arquitetura espanhola vista nos arredores, moderna e discreta.
“Além disso, era importante para esta família que a casa permitisse um estilo de vida muito descontraído, do tipo ‘fato-de-banho e pés descalços’”, prossegue.
Quando lhe perguntamos qual foi o maior desafio, responde: “Embora a localização da casa seja espetacular, o grande desafio residiu no facto de este projeto exigir uma remodelação e reconfiguração completas. Tal envolveu reposicionar a escada para criar um percurso central para a grande sala e enquadrar uma vista axial da porta da frente diretamente para o oceano. Também abrimos toda a parte de trás da casa com uma fachada envidraçada, como referido, para maximizar a luz e aproveitar a incrível vista da praia.” Para estes trabalhos de fundo, Suzanne contou com a colaboração do construtor local, Bill Schultz e de uma equipa de artesãos talentosos – “há muitas pessoas qualificadas na costa e para mim foi um privilégio poder contar com os profissionais locais”.
O acervo de arte da família ajudou a elevar o nível de sofisticação desta casa de praia – “mas a casa mantém a sua atmosfera descontraída, e agora quando nos referimos a ela como a ‘cabana do surf’, é mais como uma piscadela de olho carinhosa à forma como os seus clientes a veem desde sempre”.
Ao par com a arte, aqui e ali, no piso térreo, são várias as peças artesanais originárias de lugares como Nova Iorque ou Nova Orleans, África ou México, misturadas com elementos funky da Califórnia e outras de meados da década de 1960. No andar de cima, o dos quartos, esta fusão casual de móveis, tecidos e padrões ajuda a criar espaços únicos e aconchegantes. Quanto aos tons e materiais usados, e de um modo geral, os arredores inspiraram a paleta (mar-areia-céu) tendo sido escolhidos por se adequaram a esta vida à beira-mar.
“Na suíte principal, aproveitámos ao máximo a ‘vibe’ do oceano e as vistas deslumbrantes usando materiais terrosos e uma pedra azul-celeste na casa-de-banho”, assinala, como referência.
Queremos saber como é feita esta procura por novas peças, sejam de arte ou de mobiliário. “Para este projeto em particular, concentrámo-nos em imprimir alma aos espaços, não apenas com peças de arte e objetos interessantes, mas também escolhendo tecidos com textura, capazes de captar a luz e criar profundidade e sombra. Queríamos evocar um sentimento mais recolhido do que decorado, com um conjunto transcultural de móveis e acessórios. Há cestas tribais do Panamá, luminárias e tapetes do Marrocos, vasos chineses transformados em candeeiros de cabeceira-de-cama e peças que abrangem toda a Europa – da Dinamarca ao Mediterrâneo. Cobrimos cinco continentes – e é isso que torna a casa única –, mas também há um pouco de funk, para que tudo pareça ‘verdadeiro’, e não mais uma casa daquelas em que o decorador parece que acabou de sair”.
Continuando a nossa conversa com a designer, ficamos a saber que o aspeto mais profundo e complexo do projeto acabou por ser o mais impactante e satisfatório. “Retrabalhar as linhas de visão arquitetónicas e abrir toda a parte de trás da casa conferiu a esta residência uma ligação mais próxima à sua envolvente incrível. E embora seja difícil escolher um espaço favorito, a verdade é que a sala de estar está no topo da minha lista”. Dali, avistam-se baleias e golfinhos… “Vimo-los, um dia, quando estávamos a montar a sala”, lança-nos, com uma expressão de felicidade estampada no rosto! Revela-se orgulhosa com o resultado final, porque conseguiu assegurar os desejos dos clientes e garantir ao longo dos espaços uma fluidez “muito bonita, aberta, mas ainda assim privada”. Mas o que a Suzane Tucker ainda mais fala ao coração, é o facto de este projeto ser um excelente exemplo no seu portfólio de como é possível pegar numa casa existente e respeitar as linhas clássicas, assegurando-lhe um caráter intemporal.
“Começo sempre por verificar os elementos mais importantes e universais de qualquer projeto de design: escala e proporção. Tudo no design é relativo – e relacionado. É por isso que a capacidade de um designer de manipular escala e proporção é tão crítica para alcançar beleza e conforto num determinado espaço, numa casa, num jardim. A escala tem a ver com o tamanho, a proporção tem a ver com o equilíbrio. Equilibrar os dois é o maior sucesso de um designer. Quando acertamos, a harmonia alcançada traduz-se em todos os estilos e gostos – casual ou formal, moderno ou tradicional”.