Anna, Chris, Mila e o cão Leon são os habitantes desta casa, remodelada pelo atelier Anke Design Studio, que procurou novas funcionalidades e libertar o espaço do piso térreo, abrindo-o às atividades da família.
Projeto de interiores: Anke Design Studio / Fotografia: Oni Stories / Texto: Anna Gawlik | Anke Design Studio
O projeto desta casa, imaginada pelo casal Anna e Chris, ficou concluído em 2010, mas uma década volvida, e já com a família alargada a uma filha e um cão, os seus autores decidiram reconstruir o interior, por forma a diluir a grande desproporção no uso de partes do espaço, uma vez que parte da casa revelava-se pouco funcional e pouco, ou quase nenhum, uso tinha.
Após uma análise aprofundada das necessidades da família, o atelier de Anna Gawlik decidiu criar um novo layout, mais funcional, alargado aos três pisos. Como resultado, a área do sub-solo passou de espaço escuro a lugar naturalmente iluminado, através da adição de várias janelas, sendo hoje o espaço onde Anna, a proprietária, alojou o seu estúdio de trabalho, adjacente à área de serviço e à parte destinada aos hóspedes — antes localizada no piso térreo, e usado apenas alguns dias por ano —, acessível apenas a partir do andar superior, a oeste.
No mesmo piso, encontra-se ainda uma espaçosa casa-de-banho com sauna, uma lavandaria e áreas técnicas e outras destinadas à arrumação. O último piso, antes utilizado como atelier, foi transformado numa zona privada, reservada exclusivamente aos habitantes da casa. Neste enclave privado, estão localizados dois quartos e duas casas de banho. Todas as medidas visavam libertar o espaço do piso térreo, onde se concentra a maior parte da vida dos moradores durante o dia. Graças à reconstrução, o piso térreo foi limitado a três áreas principais: a sala de estar, a sala de jantar e a cozinha — cuja mudança foi particularmente significativa, já que foi separada da sala e deslocada da parte sul para a norte da casa.
Todos os materiais usados neste projeto de remodelação e reconstrução foram essenciais para o resultado final. “Foi também nos materiais, para além do layout funcional, que reconheci o poder de alcançar coerência e harmonia”, refere Anna, do Anke Design Studio. “Ao unir as salas, e com a escolha certa dos materiais, consegui obter integridade, sem prejuízo da autonomia de cada uma delas.” A cozinha, que antes era aberta para a sala, hoje, apesar de manter a abertura, é separada da sala por via de uma parede móvel, que pode unir ou separar os dois espaços a qualquer momento; o mesmo acontece com a grande sala. “Contudo, durante o dia esta barreira é invisível”.
Todos os espaços foram abertos até o teto. O layout antigo apenas se vislumbra através das vigas estruturais maciças que substituem as paredes antigas. A sala de jantar, e de acordo com o sonho dos proprietários, mantém a sua estética. No coração do espaço, a mesa funciona como eixo de encontros com amigos, mas também como local das reuniões familiares durante uma refeição ou como suporte para animados jogos de tabuleiro. É pesada, estável e muito simples, tanto no conceito como no design.
A lareira de três faces, ao centro, serve para aquecer as salas de jantar e de estar, mas também atua como uma peça visualmente reconfortante. Apesar de funcionar a gás, os troncos oferecidos por amigos lembram aquela boa sensação da lareira a madeira. Duas poltronas, uma nova e outra antiga, foram combinadas e revestidas com o mesmo tecido. O candeeiro com base oriental foi feito à mão a partir de um vaso trazido pelo avô do proprietário na década de 1960 do Iraque. A mesa de centro é uma peça parcialmente queimada segundo o antigo método japonês de Shou Sugi Ban — este método também serviu para dar uma segunda vida a uma peça de pau-santo usado na sala de estar como mesa de centro.
No centro da sala há ainda um confortável sofá para longas noites de cinema, bem como uma espaçosa biblioteca dividida pelas coleções de livros do casal, onde se combinam literatura de arte e arquitetura, de Anna, e o gosto pela fantasia e ciência, de Krzysztof. A biblioteca é um projeto do Anke Design Studio e foi feito a partir de barras de aço.
Cada uma das três salas tem o seu eixo, de design simples, o mais monocromático possível e projetado em torno da função principal. Despojado de decorações, são as matérias-primas que contribuem para uma receção calorosa.
São três os materiais dominantes em todo o projeto: cimento industrial nos pisos, paredes e tetos de microcimento, luminárias e folheado reciclado, com efeito fumado, nas paredes e nos móveis. Com estes, contudo, combinam-se a pedra Grigio Imperiale, a partir da qual foi feito o lavatório do lavabo, o carvalho natural das escadas (resquícios da decoração anterior), o carvalho folheado da mesa da sala de jantar e a pedra calcária antiga no WC do andar de cima.
Aqui e ali, surgem alguns elementos envernizados, bem como algumas obras de arte, esculturas de Dydo, cerâmicas de Mędrek, peças adquiridas em lojas vintage de Cracóvia, cópias do pintor favorito dos proprietários… Há também alguns trabalhos da própria proprietária. E os cavalos, claro: um brinquedo do início do século XX, provavelmente oriundo dos arredores da Silésia, os cavalos das obras de James McLaughlin Way, vistos em esboços e esculturas, uma paixão do proprietário.
Apesar do projeto de remodelação ter sido profundo e quase integral, os proprietários quiseram reaproveitar o máximo possível de móveis, pelo que os da cozinha apenas receberam mais módulos, as escadas foram liadas e afagadas, a maior parte dos móveis da cave foram recuperados, outros receberam novos estofos, mantendo-se ainda as cerâmicas e a maioria dos acessórios, incluindo os eletrodomésticos. Não foi possível chegar ao nível do ‘desperdício zero’, mas mesmo assim foi aplicado o princípio. E sem prejudicar o design, foram várias a peças e equipamentos aproveitados que ganharam uma nova vida.
Não sem algum pesar, o piso de carvalho foi substituída pelo microcimento, porque não sobreviveu a Leon, o bem-amado cão. Este piso industrial acabou, assim, por ser utilizado em todo o espaço da casa; nas casas de banho foi instalado um piso radiante. As paredes e o teto são igualmente revestidos com microconcreto, material, tipicamente associado à austeridade, mas que aqui, pelo contrário, confere suavidade e aconchego ao espaço, absorvendo tão bem a luz da tarde.
As escadas de acesso à cave que antes ficavam escondidas atrás de uma porta e uma parede estão hoje visíveis, integrando esta área utilitária recém-adicionada. A luz faz o resto.
O primeiro andar aloja a suíte com closet, o quarto de Mila e a sua própria casa-de-banho. Neste nível, a galeria espaçosa e iluminada conduz aos quartos. O princípio dos materiais utilizados neste andar é o mesmo. O quarto de Mila, devido às futuras alterações de dinâmica, foi tratado de forma neutra para que a próxima reorganização ocorra sem renovação. A parede folheada a carvalho vintage de Baltimore, da Querkus, adiciona personalidade ao quarto principal. A singularidade dos painéis Baltimore reside principalmente no seu acabamento bruto e na imperfeição, tão apreciados pelos proprietários.
Ao jardim, de tamanho reduzido, acede-se através das grandes portas de vidro da sala de estar e de jantar, no lado sul, e da cozinha, no lado nordeste, e mostra claramente o amor dos proprietários pelas frugais formas asiáticas, mas também por soluções práticas. Grandes lajes redondas de cimento, feitas sob medida, promovem a integridade do jardim. E mesmo numa área tão pequena, foi possível separar zonas: uma entrada separada do estúdio e da casa e um espaço ao lado da cozinha onde é possível sentar e relaxar com uma chávena de café na mão. Apesar do caráter urbano da casa e do tamanho do lote bastante limitado, os anfitriões criaram recantos íntimos com plantas, tendo como principal critério de seleção, focar apenas o maior crescimento anual. Hoje, passados 10 anos, apesar de muitas reorganizações no jardim, o verde explodiu como num jardim secreto, dando a sombra e a frescura tão desejadas, mas também as suas próprias ervas aromáticas.