Por a 13 Julho 2023

A casa de Duarte Seabra, o dono da loja Farnesina, em Lisboa, é um reflexo da forma como tão habilmente entrelaça estilos e épocas, da sua visão e apurado sentido estético.

Fotografia: José Manuel Ferrão / Produção: Amparo Santa-Clara / Texto: Isabel Figueiredo

Vive neste apartamento há três anos, na companhia da fiel Quitéria, uma cadela de porte elegante que se passeia por entre peças de arte, escultura e mobiliário de época com uma graciosidade muito própria. É a Quitéria que nos recebe à porta e é ela que se apropria do sofá verde adamascado, no quarto, observando-nos sem pressão, mas com a pose de um ‘statement’. Esta casa também é sua e ela sabe contornar cada peça de mobiliário com destreza – menos uma preocupação para o seu dono.


Foi necessária uma espera de um ano e meio até Duarte e Quitéria se instalarem na casa, uma herança de família. As obras de remodelação e reorganização dos espaços, o novo layout, obedeceram a um trabalho intensivo. Mas o resultado é hoje este, o de uma casa acolhedora e luminosa, preparada para estar e receber, onde cada espaço conta uma história diferente, cada um atuando como um cenário onde se combinam peças de várias proveniências, cores, texturas e volumes.

“Sou muito caseiro: passo muito tempo em casa, principalmente na sala dos livros”, conta-nos Duarte. “Adoro receber, gosto muito de dar jantares”, como tal o apartamento haveria que refletir tanto o seu sentido estético e habilidade para a conjugação de mobiliário e objetos, como assegurar a funcionalidade e o conforto necessários para quem prefere estar em casa e gosta de rodear-se de amigos.

Hoje, feitas as obras, apenas os tetos estucados e o chão são originais (dos anos 30). “Trata-se de uma casa típica desta zona da cidade, uma casa dos anos 30, que nunca havia sido alvo de trabalhos de melhoramento. A cozinha ainda era em mármore e as divisões eram numerosas, mas pequenas e já não correspondiam aos tempos atuais e, sobretudo, ao meu estilo de vida. Além disso, esta compartimentação deixava a casa mais escura”. Com o processo de remodelação, o T6 original passou a um T1 + 1 “cheio de luz” e além do novo layout, os acabamentos contribuíram para uma modernização sem prejuízo da sua arquitetura.

“A casa-de-banho em ‘boiserie’ preta, a iluminação no chão, as estantes para livros embutidas nas paredes, os rodapés, os bronzes das portas…”, são várias as adições e substituições que conferem hoje tanto encantado a este apartamento, único e luminoso e tão espaçoso quanto possível. Os interiores revelam sensibilidade e conhecimento, criatividade e bom gosto do seu proprietário e dotam-no de um quê de teatral. Algumas das soluções encontradas indiciam uma noção muito apurada de casar tantas peças todas tão distintas, curiosas, raras ou bonitas.

“Não sou grande fã de corredores, por isso diminuí a sua extensão com uma estante. Na sala grande, coloquei umas portas lacadas a verde ouro, pela mão do Louro de Almeida, o autor da pintura da escadaria do salão nobre do hotel Ritz (em frente ao prédio), o que ajudou a dar a necessária privacidade à sala dos livros. Visto que o quarto é muito grande e tem imensa luz, decidi fazer um espaço de banho aberto, integrado, junto às janelas”.

Neste palco, nem tudo o que ali vemos é permanente. Muitas peças são rotativas, dada a profissão de Duarte, e a sua ligação à loja Farnesina.  “Só mesmo aquelas especiais, às quais tenho uma ligação, ficam. Nesta casa, estas peças misturam-se, convivem, entram e saem. Muitas foram compradas por mim, sobretudo as obras dos artistas contemporâneos, outras foram herdadas”, explica.

São várias as qualidades que Duarte aponta ao seu lar: “A proximidade com a minha loja – venho almoçar quase todos os dias a casa -, o parque Eduardo VII a dois passos, mas também a luz natural, que é fabulosa, o meu quarto, que antes teria sido a casa de jantar, igualmente banhado por uma luz linda. E as salas da frente, que recebem luz direta durante todo o dia”. Gosta de tudo o que ali habita.

“Adoro a sala dos livros – os livros são uma boa companhia -, gosto muito da casa de jantar, porque é ali que me reúno com os meus amigos, e é ali que fico com eles, durante horas, à mesa…”. Nada aqui é definitivo, e também isso faz parte do charme do lugar. Mas é definitivamente o seu porto seguro na grande cidade. Lá dentro, há muitas razões para permanecer, por horas a fio, na melhor companhia possível.

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