Entre Milão, Londres e Lisboa, as fundações da Deckora Design sustentam-se na união da Arquitetura com o Design de Interiores e a construção de peças de mobiliário e objetos ‘bespoke’, como prolongamento de histórias, de memórias e da visão autêntica de Camilla Degli Esposti.
Texto: Isabel Figueiredo
Qual a melhor / mais relevante memória que guarda da sua infância?
Camilla Degli Esposti: Sendo a terceira geração de arquitetos da minha família, lembro-me de passar muito tempo no estúdio do meu pai a traçar plantas ou a desenhar com aguarelas numa sala cheia de todo o tipo de equipamento técnico. Na altura, os computadores não existiam e era espantoso ver filas de arquitetos deitados nos seus quadros de desenho durante horas e horas, desenhando à mão, com precisão, cada detalhe. Eram tempos diferentes, mas cheios de uma energia e de um otimismo incrível.
E das memórias guardadas, quais as que ainda hoje se refletem no seu trabalho e na relação com a sua equipa?
Na minha abordagem diária ao mundo empresarial tento recriar aquele tipo de atmosfera familiar que o meu pai construiu na sua firma. A Deckora Design é uma realidade diferente, com uma abordagem ‘boutique’, mais centrada no cliente e uma equipa seletivamente especializada, que dá prioridade à qualidade em vez da quantidade. No entanto, independentemente do tipo de negócio, penso que é importante criar um ambiente confortável e igualitário onde as pessoas sintam que estão a contribuir para um objetivo comum extraordinário.
Como nasceu a ideia de se estabelecer em Lisboa e aqui prosseguir e estender os seus talentos aos espaços portugueses?
Nunca tive realmente a ideia de me instalar em Lisboa. Conheci bastante bem este belo país e a sua capital, porque o meu marido é português. No entanto, desde que o conheci, estava ciente de que ele não poderia viver em Portugal a tempo inteiro devido ao seu negócio. Quando a pandemia começou, no início de 2020, o meu escritório estava estabelecido em Milão. No início, Itália foi tremendamente atingida pela doença e o nosso instinto foi voar para Lisboa para encontrar um abrigo seguro em tempos tão imprevisíveis.
Criar uma rotina em Portugal mostrou-me um lado diferente desta realidade e rapidamente me apaixonei pelo clima local, pela comida e pelas boas vibrações. Após um primeiro período, decidi basear-me aqui. O meu marido tenta visitar-me com a maior frequência possível e espero, realmente, que, aos poucos, ele faça novamente de Lisboa a sua casa.
Dos espaços comerciais aos residenciais. Que outro tipo de projeto, seja um equipamento cultural ou outro, lhe falta fazer?
A Deckora Design é especializada na criação de estilos de vida e de experiências, lidando principalmente com clientes privados. Dois projetos peculiares que gostaria de desenvolver nos próximos anos são o interior de um iate privado e o design de um hotel emblemático em Lisboa. Ambos são projetos muito diferentes, mas igualmente desafiantes, que adoraríamos abordar.
Outro campo que me interessa aprofundar é o design de villas privadas. Estamos atualmente a conceber a mais fabulosa residência em Lisboa e esperamos poder acrescentar ‘case studies’ únicos ao nosso crescente portfólio.
No seu entender, o que define hoje um espaço de habitar confortável e completo?
Acredito que não existe uma fórmula que se ajuste a todos os projetos, pois depende realmente das exigências de cada cliente e da especificidade do contexto. Por exemplo, uma família jovem terá necessidades muito diferentes quando comparada com um casal sem filhos.
Posso dar um exemplo recente de um grande espaço em que estamos atualmente a trabalhar para clientes que gostam de entreter e do qual me sinto muito orgulhosa. Todo o conceito tem em consideração o clima português e a área da sala de estar foi articulada com uma série de espaços interligados que giram em torno de uma piscina central. Decidimos eliminar todas as paredes perimetrais e, em vez disso, implementar divisórias externas envidraçadas contínuas. Cada função/quarto está interligado entre si e capaz de se transformar com painéis móveis. As janelas envidraçadas a toda a altura abrem e fecham, esbatendo os limites entre interior e exterior. Desta forma, podemos trazer a paisagem para dentro de casa e uma grande quantidade de luz natural e flexibilidade.
Um sonho a realizar na vida.
Eu não tenho um sonho. Posso ter alguns desejos frívolos, mas estou realizada e verdadeiramente feliz neste momento. Acredito que a vida é um trabalho árduo e que as oportunidades chegam aos que persistem e são resilientes em tempos bons e em tempos difíceis. Todos nós somos os arquitetos do nosso próprio destino.
Um país onde ambiciona regressar e porquê.
A África do Sul tem um lugar especial no meu coração. Conseguiu fascinar-me com o seu encanto irresistível, o seu povo caloroso, as suas paisagens de cortar a respiração, ritmadas por um amanhecer imaculado e pores-do-sol arrebatadores. Passei lá algum tempo em 2018 para dois maravilhosos projetos de assistência local ao cliente. É um lugar onde desejo regressar com a minha família.