Remodelado nos anos 90 e convertido em dois apartamentos de tipologia duplex, o edifício manteve grande parte das características construtivas originais. Às boas áreas e luz natural, junta-se um jardim generoso, reduto de paz no centro histórico de Lisboa.
Fotografias: Ricardo Junqueira / Produção: Amparo Santa-Clara / Texto: Isabel Figueiredo
Outrora a casa de família dos avós maternos, que ocupava todos os andares, distribuindo-se ao longo de três níveis — com as áreas de serviço destinadas para o rés-do-chão, as salas arrumadas no primeiro andar e os quartos no segundo, encimados pelas águas furtadas —, este é hoje um projeto residencial organizado em dois duplex, adaptados aos tempos atuais. A casa que fomos conhecer, o duplex do rés-do-chão 1º, totaliza uns generosos 240m2 de área e pertence a um casal com filhos, que ali habita desde 1996. Remodelado nos anos 90, o edifício manteve, no processo, a sua traça original tanto quanto possível.
“Queríamos continuar a morar na zona onde sempre vivi, uma zona histórica e tranquila”, conta-nos a proprietária, e acrescenta: “E, para além disso, queria prolongar a ligação emocional à casa, que pertenceu aos meus avós”.
Construído, à semelhança de todo o quarteirão em que se integra, na década de 80 do século XIX, sobre antigas hortas e quintais, o edifício faz parte de um projeto imobiliário de loteamento conjunto, “com as características típicas da construção imobiliária de Lisboa da sua época, e tal como os edifícios seus vizinhos, do mesmo quarteirão tem, como denominador comum ao conjunto, um jardim suspenso contido por um muro de suporte, a dar para a rua”.
Para um habitar mais confortável, e em linha com as exigências da família e da atualidade, foi levada a cabo uma reabilitação e remodelação interior, estendida ao exterior, sem prejuízo da sua traça original e dos detalhes construtivos. Hoje, o layout é distinto, sendo o piso térreo ocupado pelas salas, cozinha, além do jardim, e o primeiro andar destinado aos espaços de dormir e de trabalho.
A decoração assenta, predominantemente, numa paleta de tons suaves, sendo o branco a cor principal. Nesta base sobressaem as peças modernas e clássicas, estas últimas, na sua grande maioria, de família. São bom exemplo disso, como nos aponta a proprietária, as esculturas em barro da Antonieta Roque Gameiro, nas salas da lareira da TV, as luminárias suspensas em vidro na sala da lareira, cuja estrutura foi concebida pelo pai da dona da casa a partir de candeeiros antigos da família, as gravuras que se expõem nas paredes do escritório, salas e corredores, e todas da coleção de gravuras do avô da proprietária, bem como os vários quadros na sala de jantar, no corredor do piso térreo e no escritório, pintados pelo seu pai… Mas também o espelho da entrada e o da sala de jantar — “tenho um gosto especial por espelhos” —, as bailarinas em ferro dispostas no vão da janela da sala de jantar, “muito cobiçadas pelos meus filhos e sobrinhos”, adianta, ou a escultura em gesso e as gravuras no quarto principal, assinadas por Vasco Araújo.
Neste mesmo quarto, de grandes dimensões, há ainda espaço para a mesa de toilette suspensa, dos anos 50, e um conjunto de toilette em marfim, peça que pertenceu à mãe da proprietária, em solteira.
Lá fora, o jardim frondoso, com cerca de 130m2, é um privilégio, assegurando a esta família e a quem a visita um espaço verde no centro da cidade, com toda a privacidade desejada para quem mora na grande urbe. Assim como o é a casa de família, rica em memórias e integrada em pleno bairro histórico.