Maria João é a fundadora e mentora do Palmas Douradas, o projeto que recupera a arte da empreita, o maior património não reconhecido do Algarve.
Texto: Isabel Figueiredo / imagens cedidas
Nascida de Oeiras, de família algarvia natural do concelho de Tavira, foi criada em Paris, onde estudou. Viveu em vários países, entre eles Espanha (Madrid) por onde se demorou mais tempo (10 anos), tendo regressado a Portugal apenas em 2010. Descobrimos o seu trabalho no Instagram, um canal profícuo em ideias, soluções, projetos… e encetámos o contacto com Maria João, atraídos pela beleza das suas peças.
“Sempre gostei da arte da empreita”, conta-nos. “Quando cheguei a Portugal, aprendi algumas das técnicas mais comuns. As minhas avós, tias e restantes familiares estão unidas à arte da empreita desde sempre e, como tal, sempre que vinha passar férias ao Algarve, no verão, ajudava a recolher as palmas e em todo o processo”, continua. “Adoro desenhar, reinventar. A empreita é o maior património não reconhecido do Algarve”.
Há uns anos, “antes da invasão dos sacos de plástico, o Algarve vivia da agricultura e não do turismo e o transporte dos cereais, dos frutos, entre outros, era feito com folhas de palmeira. Todo o Algarve fazia empreita. Estava presente em todas as casas”.
Sediado num anexo do Museu do Traje, em São Brás de Alportel, o ateliê do Palmas Douradas bebe também ele da beleza do espaço, “um magnífico edifício que data de finais do século XIX”. O ateliê pode ser visitado todos os dias, de segunda a sexta-feira, das 10h às 17h, e aos sábados (14h – 17h).
Maria João trabalha com palmas da serra do Algarve, a designada chamaerops humilis, mais conhecida como a palmeira da vassoura. “Todos os anos, no verão, podo as palmeiras permitindo um crescimento muito mais saudável das mesmas”, revela. Também há quem saiba que Maria João se dedica a esta arte e vão ter com ela, com palmas, ou contactam-na pedindo que as vá recolher. “Faço peças e formas. Gosto de inovar, de transformar, de criar novas formas ou outras, a partir de algo existente”. Chapéus, peças de roupa, de decoração, de design, de arte, de artesanato… é, como nos diz, “um tudo-em-tudo”.
Inspira-se na serra, no mato. Em tudo. “Vivemos numa época onde é muito fácil dar a volta ao mundo sem sair de casa, visitar qualquer museu em qualquer lugar”.
Atualmente, a artesã está a preparar um novo projeto para levar a empreita até mais pessoas. Trata-se de “uma gama de entrançados estampada em sacos, sarongs e ténis”. Esta vertente será comercializada no novo espaço em Olhão, com abertura prevista para novembro, mais um passo em direção ao amadurecer do Palmas Douradas.
Continuar a criar, a crescer e a aprender e não se limitar a nada ou a ninguém, são as suas aspirações. “Sem limites!”.