Quando o antiquário Christopher Howe foi desafiado a decorar esta casa, iniciou uma viagem ao passado, numa descoberta das suas características originais. Como resultado, os móveis e tecidos de vários estilos e proveniências casam com as paredes de alvenaria e as vigas expostas, e com o ferro e a madeira envelhecidos.
Fotografia: Cláudia Rocha / Adaptação: Isabel Figueiredo
Há sempre aqueles objetos de estimação que os lojistas e antiquários hesitam vender. No caso de Christopher Howe, era a poltrona dos anos 20 estofada em tweed tufado. Felizmente para ele, como nos conta, “era aquele tipo de peça que qualquer um de nós encontraria na casa da avó – uma peça despretensiosa, que a maioria das pessoas ignoraria”. Estávamos em 2012, quando um jovem entrou na sua loja, viu a cadeira e comprou-a de uma assentada. “Assim que ele pôs os olhos naquela almofada de veludo castanho, sabia que nos daríamos bem”, diz Christopher.
E estava certo. Passaram-se cinco anos e nesse período, até hoje, Christopher já coordenou a decoração de dois projetos do dono da cadeira: um pequeno celeiro em Gloucestershire e esta casa na rua principal de Bray, em Berkshire. Mas não julgue o leitor que tal foi planeado. Na verdade, Christopher aconselhou o cliente a não contratar um designer de interiores. “Sugeri-lhe que o fizesse ele próprio. Tem um ótimo olho e pode muito bem arriscar, cometer os seus próprios erros, em vez de pagar a alguém para errar por ele. Coloquei-me à sua disposição para me contactar se acaso precisasse de ajuda”. Mas as coisas rolaram como uma bola de neve, o ‘tal’ telefonema resultou numa visita ao local e, em pouco tempo, Christopher comandava as operações, orientando toda a decoração.
“É uma casa algo confusa, com partes que datam do início do século XVI, como tal o cliente reaproveitou alguns quartos e salas, por forma a conseguir alguma coerência”. A porta da frente, com painéis de vidro, conduz ao hall de entrada, com uma sala de estar adjacente. “Este hall também funciona como sala de jantar, com a sua escada restaurada que dá acesso aos quatro quartos”.
Com as alterações algo descuidadas empreendidas nos idos anos 80, gerou-se uma confusão de paredes falsas. Mas estas foram rapidamente removidas para criar mais espaço e permitir a entrada de mais luz no que é, naturalmente, uma casa escura. No andar de cima, dois quartos acanhados e parte do corredor foram revistos, transformados no quarto principal por via da demolição de algumas paredes. Christopher também sugeriu uma forma de criar vistas desafogadas da sala, a toda a largura da casa. Parte do piso de pinho foi reaproveitado dando origem aos painéis que revestem as paredes do WC. As paredes foram despojadas e regressaram ao seu estado original, revelando belos tijolos e expondo as vigas.
Os proprietários consideravam, ainda, uma extensão de aço e vidro, mas Christopher sugeriu-lhes manter a linha da paleta de materiais, optando-se, assim, por uma estrutura de madeira com janelas Crittall, apoiada em colunas de ferro envelhecidas. Este volume abriga uma elegante cozinha com uma ilha recuperada de uma peixaria, uma cómoda do século XVIII à qual foi adicionado o lavatório, azulejos Neisha Crosland dispostos na parede do fogão Lacanche azul-claro e um lindíssimo piso de parquet, formado por tábuas de queijo francesas.
A extensão é uma adição arquitetonicamente sensível à casa que, discretamente, leva em consideração a história do edifício e, apesar do seu telhado de vidro inclinado, parece que sempre ali esteve.
Grande parte do piso consiste em tábuas largas provenientes de um pátio, recuperadas de uma demolição em Herefordshire, ou em tijolo castanho-avermelhado e ladrilhos de barro artesanais de Norfolk. “Estes últimos chegaram-nos pela mão de um indivíduo brilhante, que montou um negócio chamado Norfolk Reclamation, onde fabrica os seus próprios tijolos”, diz Christopher.
Como em todos os projetos de Christopher, a atenção aos detalhes é a chave! Há paredes revestidas com pinos de aço num tecido de linho e crina, que já foi usado para entretelas de fatos; uma pequena caixa de jóias de um camarim forrada com linho vintage tingido à mão de amarelo; uma escada restaurada; um pavimento muito divertido no jardim inspirado por Gertrude Jekyll…
Christopher fala sobre cada móvel, pedaço de tecido e acabamento especializado como se relembrasse velhos amigos.
O designer e o seu cliente partilham um entusiasmo sem limites por coisas bonitas e equiparam esta casa de comum acordo. Juntos, transcenderam as tendências da moda para criar um interior intemporal repleto de peças ecléticas e artesanato de extraordinária beleza.