Inserido num edifício ícone da cidade Paulista, o apartamento que mostramos de seguida – e que está na mesma família desde a sua compra no início da construção, em 1962 -, foi remodelado. No projeto, foi mantida a sua singularidade e feitos ajustes minuciosos para que a linguagem do antes e do agora se unificassem.
Projeto: SAO Arquitetura / Fotografia: Renato Navarro / segundo a memória descritiva
Ícone da verticalização Paulista, o edifício Saint Honoré, que data de 1962, é uma síntese do desenho de João Artacho Jurado e faz parte da coleção de jóias da cidade brasileira. Entre as suas características inconfundíveis estão o traço orgânico da marquise de entrada, os acabamentos em pastilhas, os elementos vazados, os grandes terraços e o programa das áreas comuns.
Inserido no edifício, no seu 18º andar, está este apartamento de 240m² comprado em planta logo no início da construção, em 1958, e que pertence à mesma família desde a sua entrega. Em 2019, Alexandre Skaff – do escritório SAO Arquitetura -, e o seu companheiro André, decidiram mudar-se para o apartamento e começar o seu entendimento do que seria morar na Avenida Paulista num edifício tão singular.
A equipa do SAO iniciou o projeto analisando toda a planta estrutural do apartamento assim como os elementos que poderiam ser recuperados. O apartamento contava com um acervo grande de móveis Dinucci – marceneiro e designer expressivo dos anos 1960 -, que assinava todo o mobiliário do apartamento original.
Segundo contam os autores, o projeto desta remodelação foi um ajuste na configuração do layout, de forma a otimizar os novos espaços e circulações, e ao mesmo tempo fazer um minucioso trabalho de restauro e escolha de materiais que permitissem à nova intervenção ter um diálogo com a arquitetura do edifício.
O desenho do imóvel foi repensado de modo a ter o mínimo de interferência possível; as salas foram ampliadas criando um único espaço integrado; e a estrutura aparente, resultado da demolição, foi somada a um monolito em granilite que foi criado num dos quadrantes do espaço, delimitando a área social do apartamento.
As novas relações entre ambientes proporcionaram maior iluminação natural e ventilação cruzada. A cozinha, agora aberta à sala de jantar, ganhou amplitude com a inserção da ilha em granilite que se tornou num espaço de apoio. Foi acrescentado um novo lavabo e feita a reconfiguração completa das restantes casas-de-banho. A suIte principal foi ampliada e os dois quartos restantes foram adequados para um home office e um atelier de pintura.
A escolha da materialidade foi bastante resumida e implantada em todo o imóvel tendo como base a utilização de granilite, madeira e mármore. O apartamento carregava consigo uma grande memória afetiva, tanto no mobiliário que testemunhou 3 gerações quanto nos acabamentos originais.
Desde o piso em madeira de peroba rosa que foi retirado, restaurado e reinstalado, aos caixilhos em madeira que foram refeitos obedecendo ao desenho de Jurado, todos os detalhes do apartamento foram pensados para criar um conjunto que permitisse a união dos elementos existentes com elementos mais contemporâneos.
Em paralelo à execução da obra, houve um trabalho de pesquisa e exploração em antiquários, em busca de complementos para, por exemplo, as maçanetas originais de murano e para o restauro das luminárias pendentes de 1963.
O desafio mais delicado, contam, foram as peças de mobiliário Dinucci. Para o efeito, o escritório teve o apoio e consultoria de um antiquário parceiro que realizou a renovação das peças e a aplicação do novo tecido.
Com as salas todas unificadas, foi a junção das peças originais restauradas e das novas peças contemporâneas que definiram os limites do layout. ”Optámos por manter espaços vazios que permitem a inserção de pontos de paisagismo e libertam o contorno das salas para a plena abertura dos caixilhos piso-teto que permitem a vista do horizonte cosmopolita de São Paulo”, concluem.