Por a 5 Janeiro 2024

Esta casa de férias no Alentejo, com projeto de arquitetura de Fernando Hipólito, está inserida numa propriedade com barragem, horta e galinheiro.  Um refúgio para onde não nos importávamos de ir passar o fim-de-semana.

Texto: Isabel Figueiredo / Fotografia: António Moutinho

Construída de raiz, e concluída em 2001, esta casa reúne todas as características vernaculares e o espírito de vida alentejano, mas é também muito contemporânea, na sua essência e dinâmicas, como nos explica o arquiteto Fernando Hipólito, que assina o projeto para um amigo de longa data.

Composto por um corpo principal e um outro volume que integra duas suítes, o projeto aloja-se numa área de terreno com 19 hectares onde convivem uma horta, um galinheiro e um plano de água em frente à casa. 

Toda a arquitetura de interiores e decoração esteve a cargo do proprietário. “A casa é usada pela nossa família e amigos, no período das férias e aos fins de semana” e tinha de ser grande, para poder receber muita gente, sem que todos tenham de partilhar os mesmos momentos, proporcionando a desejada liberdade, sobretudo quando se está em regime de descanso e lazer.

“O edifício principal compõe-se de sala de jantar, sala principal com lareira, biblioteca e sala de bilhar, escritório com lareira, a que se soma a suíte principal, dois quartos e uma casa-de-banho de apoio aos quartos, a cozinha com lareira, a copa, uma salinha de jogos/refeições, um lavabo social, além da lavandaria e arrumações com WC no terraço”. O volume anexo à casa compõe-se de duas suítes e o conjunto edificado partilha toda aquela envolvente natural, do lago e da piscina.

Pelo lado de fora, há espaço para “um grande alpendre coberto com zona de refeições que senta dez pessoas, um terraço que serve a piscina com zona de refeições para oito, o pátio interior com mesa para quatro, o grande pátio de entrada com zona de refeições para seis e duas zonas de chill-out e ping-pong, além do terraço superior coberto com zona de refeições para mais seis convivas”. 

No interior, e porque é uma casa sempre cheia, existem três zonas de refeições distintas e todas estão equipadas com lareira — “a sala de jantar onde se sentam 24 pessoas, com as duas mesas de madeira, a copa que recebe oito e a salinha preparada para sentar quatro”.  

Os tetos em abóbada de tijolo, o piso em xisto de Barrancos, as cantarias em mármore de Estremoz, as portadas em madeira e com vidros duplos, além do aquecimento central, para garantir o necessário conforto térmico, respondem às preferências do proprietário e asseguram uma estada descontraída, simples e plena, com toda aquela paisagem alentejana em redor. E o silêncio. Mesmo quando há casa cheia. 

“Foi uma experiência incrível”, conta-nos Fernando Hipólito, “porque habitualmente faço arquitetura contemporânea, mas o proprietário, que conheço há muitos anos, queria uma casa tradicional alentejana, na forma e na imagem, com o recurso a elementos e materiais locais, como o são as abóbadas em tijolo de burro ou as paredes muito grossas”. Para este projeto, o arquiteto teve de “estudar as tipologias, a arquitetura popular em Portugal, os sistemas construtivos”, e este exercício acabou por se estender a um outro projeto no Brasil, quase em paralelo, onde houve igualmente a necessidade de se adaptar à linguagem do local. 

“Esta é uma casa essencialmente simples, e grande, porque recebe muitos amigos e a família, com várias salas que se sucedem, destinadas a vários momentos, o que também reflete a sua contemporaneidade”, salienta. 

Nada aqui foi deixado ao acaso e a envolvência, de um e outro, foi total. “O proprietário viveu o projeto de alma e coração. É uma pessoa muito intuitiva, com uma sensibilidade estética apurada e há muitas coisas na casa que são ideias suas. A cozinha, por exemplo, tem todos os elementos construídos no lugar — a ilha, os armários e as bancadas são built-in. E porque além de ser um bom anfitrião também é um bom cozinheiro, esta cozinha tinha de ser suficientemente espaçosa e arejada para poder receber os seus cozinhados, a família e os amigos”.

A casa é tudo isso, é feita para abraçar quem ali passa uns dias e reflete bem a consciência estética, observada no ambiente geral, o olhar atento, ecoado em cada detalhe. 

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