O que começou como um coletivo de quatro arquitetos, Duarte Pinto-Coelho, Marcus Cerdeira, Miguel Martins Santos e Pedro Silva Lopes, é hoje um atelier com mais de 50 colaboradores, entre arquitetos, engenheiros, designers e outros profissionais que não estando ligados à produção direta são fundamentais para o sucesso do atelier. Ao longo de mais de duas décadas, o Fragmentos tem vindo a desenvolver projetos ambiciosos e desafiantes em vários pontos do país, desde um edifício residencial a um desenho de planeamento urbano, cada projeto reflete o compromisso com que se dedicam aos desafios que nos são apresentados.
Serviços: Arquitetura, Engenharia, Arquitetura de Interiores, Design e Branding
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António Granjo
Fotografia: Fernando Guerra
Localizado no Bonfim, no Porto, o objetivo da intervenção foi a recuperação e conversão de um lote devoluto que albergava uma antiga fábrica de materiais de construção num projeto misto de habitação e serviços. A intervenção veio trazer uma nova vida a este antigo complexo, composto por três volumes isolados, promovendo a dinamização da vida urbana e a requalificação de uma área da cidade em transformação. Na fachada principal do edifício que dá para a Rua António Granjo, foram valorizados os aspetos originais com a recuperação e reprodução de elementos construtivos e detalhes característicos do uso industrial. O terceiro piso, integrado na cobertura, possui uma linguagem mais contemporânea, marcada pelo uso de mansardas revestidas em zinco, na cor das caixilharias exteriores. Esta coexistência não cria um contraste, mas vem salientar a complementaridade e integração de todos estes elementos uns com os outros e com a envolvente. Apesar da distinção de usos, o projeto foi encarado com uma linguagem unitária que pretendeu unir as pré-existências entre si, reforçando a identidade de lugar. A chaminé industrial existente foi mantida e recuperada como um elemento estético e de memória do passado, tornando-se central ao carácter do espaço.
A principal entrada pedonal e viária faz-se pela Rua António Granjo. Nesta frente de rua encontra-se o edifício destinado a habitação multifamiliar, com 16 apartamentos, e um edifício destinado a residência de estudantes. No interior do quarteirão desenrola-se a continuação da residência de estudantes, distribuída pelos vários volumes, totalizando 212 quartos.
O generoso pé-direito dos antigos armazéns permitiu a criação de dois pisos de habitação e a inserção de mais um piso integrado na cobertura. A introdução de vazios permitiu criar pátios, que transportam luz natural para as várias habitações e criam uma vivência de bairro entre as pessoas que vêm habitar estes espaços. O perfil das coberturas industriais, tão particular do desenho industrial, foi mantido mesmo nestas zonas de vazios.
Para além dos pátios, a dimensão do lote permitiu a criação de uma extensa área exterior comum, com zonas empedradas e um relvado. Para os arranjos exteriores foram aproveitadas algumas das espécies arbóreas existentes, com a Laranjeira, a Faia ou o Choupo, valorizando o verde que é típico dos espaços exteriores do Porto.
Museu Quake
Fotografia: Francisco Nogueira
O museu Quake tem na sua origem o reconhecimento e estudo aprofundado de um importante acontecimento na história de Portugal – O terremoto de 1755 – , mais concretamente na cidade de Lisboa, mas que também mudou de modo inequívoco e decisivo, a história da Europa e do Mundo a partir do sec. XVIII.
O principal desafio temático deste museu foi a comunicação deste acontecimento específico e de todo o contexto histórico e científico com ele relacionado, de uma forma inovadora, com recurso a soluções técnicas contemporâneas (tecnologia 4D imersiva) que atraíssem todos os tipos de visitantes. Por outro lado, o grande desafio arquitetónico deste edifício foi o de conseguir as melhores condições para o desenvolvimento do programa expositivo, tendo sempre presente as necessidades do fluxo e interação do publico nas diferentes áreas do museu, e a articulação com a complexidade técnica inerente ao programa. Complementarmente pretendeu-se que o edifício fosse mais uma referência arquitetónica nesta zona da cidade, sem querer, no entanto, que ganhasse um protagonismo excessivo, de modo a não se sobrepor ao próprio conteúdo da própria exposição. O edifício é um bloco sólido, encastrado na terra, cuja pele é composta por painéis verticais de betão pré-fabricado, com estereotomia e texturas variáveis. Este caráter “massivo e telúrico”, relaciona-se diretamente com o peso da historia, e com todo o imaginário e realidade dos fenómenos naturais, sociais e históricos que nele se relatam.
Em termos formais, o conjunto estende-se por dois volumes, separados pelo vazio do logradouro e unidos por um corpo de ligação horizontal. O volume sul, constitui-se maioritariamente como a zona social do Quake, sendo o volume norte inteiramente ocupado pelos conteúdos expositivos. Faz-se a entrada do Quake pelo lado poente, vindo da praça do Museu dos Coches para o átrio de receção, de pé direito duplo, e contiguo a um pátio exterior, que pontua e ilumina toda a área de chegada e social (loja e cafetaria, no piso superior). Este é alias um dos poucos vãos existentes em todo o edifício. Os outros estão localizados “cirurgicamente” mediante pontos de vista complementares ao percurso expositivo. A distribuição funcional e os fluxos são de organização simples e clara, estando delineado um percurso que parte do piso intermedio para o inferior e depois para o superior, percorrendo todos os conteúdos expositivos que se vão percorrendo em salas sucessivas, com diferentes temáticas incluindo uma viagem no tempo.
Possidónio da Silva 37 + Prazeres 37
Fotografia: Ivo Tavares Studio
Originalmente composto por três pisos e um logradouro, este edifício em Campo de Ourique encontrava-se em avançado estado de degradação
Na fachada principal do edifício com frente para a Rua Possidónio da Silva houve a intenção de preservar a integridade das características arquitetónicas existentes, com a recuperação das portas de ferro em arco e dos revestimentos cerâmicos originais. Ao centro, as duas portas separadas por um vão, abrem-se para revelar um portão de garagem, permitindo a inserção de um elemento funcional sem impactar a ordenação histórica da fachada. O rés-do-chão, que servia de estabelecimento comercial, foi reconvertido numa área comum e de passagem para duas frações de habitação unifamiliar completamente independentes. No interior da primeira fração, a casa desenvolve-se ao longo de dois pisos. Num primeiro nível localizam-se as áreas sociais. As zonas de estar e jantar são contíguas e esta última apresenta-se separada da cozinha por grandes portas envidraçadas, privilegiando a comunicação e a iluminação natural entre as áreas, sem prejuízo da criação de ambientes distintos. O segundo piso destina-se à zona mais privada da habitação, com dois quartos, casa de banho e uma suite. A cobertura foi redesenhada sem alterar a altura da edificação, de forma a promover a verticalidade e convidar a entrada de luz natural através da claraboia. A segunda fração, construção nova edificada na área correspondente ao logradouro, reflete marcadamente a adaptação à topografia e define a relação com a construção na parcela fronteira. Uma das principais preocupações do desenho foi a de promover uma massa que volumetricamente se apresentasse como elemento anónimo, enterrado, que desaparecesse no território confundindo-se com o manto verde existente. Adaptando-se às cotas existentes, o programa materializa-se em duas partes. O núcleo superior é composto pelas áreas comuns. A zona de estar, de jantar e a cozinha são contínuas e a sensação de estar ao ar livre é realçada por grandes planos envidraçados. Na ala inferior, são desenhadas cinco suítes – uma delas independente – que se debruçam sobre o jardim e piscina. Cada uma das frações dispõe de uma zona exterior independente onde foram preservadas algumas espécies arbóreas que remetem à construção original. Transversal a toda a intervenção foi o cuidado em manter a privacidade dos habitantes por isso, embora contíguas entre si, foram desenhadas barreiras visuais naturais que enquadrassem as duas tipologias e lhes dessem o protagonismo necessário nos núcleos em que se encontram.
Bayview
Fotografia: Francisco Nogueira
Em 2015 arrancava um desafiante projeto de requalificação da entrada nascente de Cascais. No antigo “quarteirão do Jumbo”, um território com cerca de 50.000 m2, viriam a nascer quatro lotes com diferentes usos ladeados de passeios pedonais e áreas verdes de fruição, ditando novas relações formais e espaciais com a envolvente e com a vila.
Em parceria com o atelier NEXT Architects, foi criado um plano de ação faseado, minimizando o impacto visual e ambiental inerente a tipo de operações e permitindo que o hipermercado e todas as suas áreas dependentes, se mantivesse sempre em funcionamento.
A imagem predominante de todo este quarteirão pretende ser a de um enorme espaço verde de uso público e de uso privado junto às unidades residenciais. Apesar da diversidade formal, comum a todos os edifícios residenciais é a presença de grandes planos envidraçados que trazem o exterior e a proximidade com o mar para o interior das habitações. O espaço verde público tm um especial impacto visual em relação à Marginal, constituindo uma verdadeira barreira de proteção e de integração do património classificado constituído pelo Palácio Palmela e pelo Chalé Faial.
A presença de coberturas ajardinadas e de espaços verdes de fruição e zonas de circulação pedonal, vem ainda integrar a solução urbanística na malha urbana existente, articulando os usos em presença e conciliando a componente habitacional com as utilizações de comércio e serviços. Estima-se que as obras sejam concluídas em 2025.
Melides
Fotografia: Lourenço Teixeira de Abreu
A uma curta distância do Oceano Atlântico, o silêncio perdura nesta vila rural. A envolvente é caracterizada por um extenso pinhal e por algumas construções dispersas de pequena escala. À medida que nos aproximamos, o declive e os elementos naturais impedem qualquer vista para o lote.
A construção é composta por um volume único de cobertura plana, ao qual é retirada uma massa que dá origem a um pátio central, em torno do qual se desenvolve toda a habitação. A disposição e arranjo deste volume permitem criar espaços exteriores com maior privacidade e espaços interiores com diferentes relações com a envolvente. No interior, o programa organiza-se desde o Norte, onde se encontra o acesso ao pátio central que proporciona uma relação visual entre os diversos locais da casa. A ala direita é composta pelas áreas sociais, realçadas por grandes planos envidraçados que se debruçam sobre o terraço e piscina. No núcleo central e esquerdo são desenhadas cinco suítes, duas delas independentes, mas todas com uma forte relação com a área envolvente. A cobertura projeta-se com diferentes comprimentos consoante a orientação solar, prolongando o interior da habitação para espaços exteriores cobertos por pérgulas. Percursos em sulipas de madeira dirigem-nos para a piscina que, desenhada sobre um anfiteatro natural, tira partido da exposição solar e nos convida a refletir sobre a relação visual entre o espaço e a paisagem.
Comporta 10
Fotografia: Francisco Nogueira
Rodeado por um pinhal, o edifício insere-se num terreno com declive suave que privilegia a exposição solar e a relação com a paisagem a sul. A forma desta habitação térrea é o resultado de uma soma de volumes. A massa final é orientada a diferentes ângulos, deixando passagens semiabertas exteriores entre os vários elementos do conjunto. O projeto conta também com referências do estilo tradicional local, Comporta Style, numa ténue combinação entre o património regional e a abordagem contemporânea.
O programa materializa-se em duas partes. O núcleo esquerdo é composto pelas áreas comuns. A zona de estar, de jantar e a cozinha são contínuas e a sensação de estar ao ar livre é realçada por grandes planos envidraçados. Na ala direita, são desenhadas cinco suítes que, num jogo de cheios e vazios, pátios e volumes, separam cada espaço individual. No exterior, com um forte sentido de lugar em mente, a paisagem natural e as dunas de areia branca envolvem o conjunto construído.