O estúdio de design Dev & Kaushik Architects assina o projeto de interiores deste duplex para um casal e as suas duas filhas, em Banjara Hills, no estado de Telangana, Índia.
Projeto: Dev & Kaushik Architects / Fotografias: Jubin Johnson / Hansoga Photography / Texto: Isabel Figueiredo
Nikhil Dev e Kaushik Abhinav aceitaram o desafio de desenvolver uma narrativa para esta casa com quatro quartos e cinco casas de banho com base na relação amigável com os clientes e na sua descontração, que passou em boa parte por uma total liberdade criativa, sem restrições. “Poderíamos, sem dúvida, defini-los como os ‘clientes de sonho’, aqueles que qualquer designer desejaria ter”, dizem, referindo-se ao casal Akhila.
“São os dois simples e amáveis”, informam. “Queriam uma casa funcional e moderna. E a sua confiança em nós foi altamente motivadora, durante todo o processo. Ela é uma pessoa extremamente agradável, sempre com muita energia e boas vibrações. O marido aceitou tudo o que planeámos, porque confiava claramente nas escolhas e decisões da mulher. As duas filhas também deram o seu contributo, quando discutimos a abordagem para os seus espaços particulares, nomeadamente o quarto e a sala de estudo”. E toda esta positividade e simplicidade reflete-se na casa.
“Nunca tivemos qualquer inspiração ou referência em que nos apoiarmos, não foi necessário”, continuam os designers. “Os clientes também não nos mostraram quaisquer referências a seguir. Tudo o que nos inspirou foi a moral que absorvemos de um casal apaixonado com a ideia de ter uma casa equilibrada e as muitas conversas entre os clientes e o projetista, que deram resposta a todos os requisitos, o que, por sua vez, criou uma casa única. A linguagem de design que hoje aqui se vê é reflexo disso mesmo”.
A decoração escolhida partiu de uma colaboração coletiva entre as duas estilistas e consultoras de decoração do estúdio, Fymin Naif e Nimitha Harith, sediadas em Chennai, na Índia. “Para a decoração, o cliente pediu-nos apenas que a esta fosse essencialmente indiana ou com uma estética indiana moderna. Para tal, trabalhámos com alguns artistas indianos e acrescentámos outros elementos de decoração, de diferentes partes do país”.
O recorte de altura dupla obtido ao abrir a laje existente e a introdução da escada metálica, funcionam como um fator surpresa, logo à entrada. “Poderia ser algo de que ninguém estaria à espera”. A abertura da laje, a luz que entra pelo rasgo da fachada exterior e o espaço virado para a vegetação, no jardim, conferiu ao espaço uma atmosfera diferente da dos outros apartamentos do mesmo bairro. “A cliente sempre quis algo terroso no que toca ao pavimento — aliás, nunca tivemos uma segunda opção para tal. Ela foi muito clara quando disse que tinha de ser uma pedra Kota polida. Para tal, tivemos de remover completamente o mármore italiano existente e refazer todo o pavimento em Kota polido”. O pavimento e revestimento das paredes das zonas húmidas é de azulejos vidrados para facilitar a manutenção.
Todas as paredes e tetos das áreas comuns em ambos os pisos (sala de estar, sala de jantar no piso inferior e sala de estar/área de altura dupla no piso superior) foram completamente texturados com um reboco de cal cinzento quente (da Opulence finishes, sediada em Hyderabad), com algumas paredes revestidas com um folheado de tons claros da Tabu, Itália. As outras paredes dos quartos e dos espaços privados são de alvenaria, rebocadas e pintadas. As paredes das cabeceiras das camas são também revestidas com folheado de madeira proveniente da Kulture Infra, de Hyderabad.
Foram vários os desafios, tanto na conceção como na execução da casa. “Por muito divertido que seja falar com a cliente, ela não é uma pessoa muito fácil de convencer, pois quer sempre algo único para a sua casa. Por isso, tivemos de trazer ideias inéditas”. Introduzir o fluxo e a continuidade na arquitetura do espaço, em si, foi um desafio. “A partir das paredes existentes e de uma funcionalidade típica que o construtor oferecia, tivemos de alterar o plano para se adequar à funcionalidade do novo grupo de utilizadores. Combinar duas casas diferentes verticalmente com uma narrativa fluida de espaços e as suas ligações, foi algo que tivemos de trabalhar com muitas iterações até conseguirmos uma disposição satisfatória”.
Os desafios de projeto no que diz respeito às alterações mecânicas, elétricas e de canalização foram muitas. “Tínhamos planeado extensivamente o encaminhamento das linhas elétricas, de automação e vigilância, mas também de canalização e de sistemas de aquecimento e refrigeração para se adequarem ao novo design, ao contrário do que proposto pelo construtor”. Apesar de se tratar de uma casa já existente, os designers tiverem de refazer tudo na íntegra para uma boa adaptação aos requisitos do novo plano/layout. “Parecia mais um projeto de arquitetura completo que se seguiu a um projeto de interiores”. Mas o maior desafio foi, talvez, durante a fase de conceção, com a remoção da laje de betão existente. Tal envolveu muitos consultores e profissionais com várias visitas ao local e reuniões. Era necessário assegurar que a conceção estrutural do edifício existente não seria afetada quando a laje fosse aberta. A execução dos trabalhos no local, numa comunidade cheia de vizinhos de todos os tipos, tanto solidários como não, foi um desafio. Horas de trabalho estipuladas, com muitas restrições no que respeita aos níveis de ruído no local. “A comunidade teve de ser informada previamente sobre os trabalhos a efetuar e os respetivos níveis de ruído. Tivemos de planear o projeto e emitir um aviso oficial com uma tabela de eventos e os respetivos níveis de ruído/perturbação esperados. Tivemos ainda de respeitar as regras da comunidade, uma vez que esta tinha pessoas idosas e jovens. Os clientes tinham de ser completamente responsáveis por qualquer problema criado e pela forma como este afetava o bem-estar dos vizinhos. Mas conseguimos fazê-lo”.