Por a 23 Julho 2024

A coleção Traits D’Union, banco e secretária, combinam a madeira com o couro e obedece ao critério “móveis compostáveis”: quando já não estão em uso, podem ser enterrados sem prejuízo dos ecossistemas.

Texto: Isabel Figueiredo

Personalidade singular no panorama do design francês, Éric Benqué questiona a relação entre os objetos e o espaço, aumenta a consciência ecológica e valoriza o artesanato e os materiais naturais. Através das suas criações e colaborações, Éric prossegue o seu trabalho em torno da simplicidade, colocando as relações humanas no centro dos seus projetos. 

No âmbito da Semana de Design de Milão, o Mobilier National, em parceria com a Cité de la Céramique Sèvres & Limoges, apresentou a cenografia intitulada “Paris-Milan: il mobile mobile”, que deu a conhecer a jovem vaga do design e do saber-fazer francês. Para o evento, o Mobilier National reuniu peças de grandes nomes do design e do artesanato, com cenografia concebida por Madeleine Oltra e Angelo de Taisne (vencedores do Desfile de Design de Toulon em 2022). A mostra evocou o mundo do comboio “Paris-Milão” e a atmosfera intemporal dos comboios de longo curso, símbolos de elegância e inovação, onde o mobiliário móvel, “mobile, mobile”, foi o cenário.

Éric Benqué foi um dos nomes presentes, com a coleção “Traits d’union”, de banco e secretária, fruto de uma experiência simples: combinar a madeira com outro material e, apoiando-se nas qualidades íntimas de cada um dos componentes, fazer móveis. Mas havia uma restrição: quando os móveis já não pudessem ser utilizados, deveriam poder ser enterrados sem perturbar os ecossistemas em que se encontravam (móveis “compostáveis”).

A motivação mais profunda é a de um mundo melhor, oscilando entre o desejo de voar para longe, para se distanciar, e o desejo de aterrar, para enfrentar os desafios que nos rodeiam. A visão de um mundo em que os seres humanos vivam mais serenamente, uns com os outros e com os outros seres vivos deste planeta.

Porque estão diretamente envolvidos nos sistemas de produção e de consumo, os designers têm hoje uma responsabilidade singular e as ferramentas para provocar a mudança. Para inovar. O projeto nasce da atenção ao contexto. Não existe um sujeito “bom” ou “mau”, apenas condições mais ou menos complexas, mais ou menos favoráveis à sua emergência. Uma construção na relação entre os atores e as dinâmicas envolvidas. 

0
Would love your thoughts, please comment.x