A arquiteta e designer Crina Arghirescu Rogard assina o projeto de interiores da casa da amiga de longa data Claudia Baez, em Nova Iorque, repensada para receber uma festa especial.
Projeto: Crina Arghirescu Rogard / Fotografia: Chris Mottalini / segundo a memória descritiva
Claudia Doring Baez, a artista plástica nascida no México e radicada em Nova Iorque, sabia exatamente o que fazer quando decidiu organizar uma festa para comemorar a sua participação na Frieze New York, importante feira de arte, e reimaginar totalmente a casa da sua família durante as seis semanas anteriores ao evento. A amiga de longa data, arquiteta e designer Crina Arghirecu Rogard, seria a pessoa perfeita para enfrentar este desafio especial.
A dupla de amigas partilha a mesma paixão pelos mercados de antiguidades e feiras de design e ambas nutrem um especial amor por peças de design excêntricas. As duas também partilham experiências internacionais que moldaram a sua estética e gostos pessoais — Arghirescu Rogard nasceu na Roménia, estudou em Itália, na Faculdade de Arquitetura do Politecnico di Milano e trabalhou em Paris antes de se estabelecer com a família em Nova Iorque.
Em seis semanas, Arghirescu Rogard, cujo conhecimento enciclopédico de design clássico e contemporâneo é conhecido, reinventou totalmente o espaço, introduzindo uma mistura curiosa de arte, têxteis e peças personalizadas de design contemporâneo, infundindo um diálogo poético e fresco entre a arquitetura, as peças de mobiliário e os objetos.
O principal desafio foi estabelecer um diálogo entre o antigo e o novo, a forte estrutura arquitetónica histórica do apartamento e um novo interior decididamente contemporâneo. A grande sala de Baez era o histórico salão de baile do “The Wool Club”, o clube de cavalheiros onde os líderes da indústria de tecidos se reuniam no último andar do icónico “American Thread Building”, em Tribeca, construído em 1890. O estilo renascentista é uma presença constante, visível nos muitos detalhes originais que foram preservados, incluindo uma claraboia com vitral, colunas e molduras do Renascimento, o piso em mosaico no hall de entrada, os intrincados painéis de parede de nogueira preta e as molduras de teto, bem como uma grande lareira na sala de estar.
Expostas um pouco por toda a casa, a extensa coleção de arte e objetos de Baez foi outro fator importante na reinvenção do ambiente. Obras de arte de Rose Wylie, Roy Oxlade, Pablo Picasso, Robert Motherwell e Colt Hausman dialogam com uma mistura de peças antigas e objetos do quotidiano. O trabalho de Baez, bem como pinturas, fotografias e esculturas da mãe, Lucero Gonzales, do irmão, Adolfo Doring e da sua filha, Alexandra Zelman, cobrem as paredes da cozinha e dos corredores.
Arghirescu Rogard decidiu, assim, inspirar-se nalgumas das obras de arte, como forma de apoiar as suas escolhas de design. O díptico em grande escala de Rose Wylie pendurado atrás da mesa de jantar foi fundamental para a conceção do projeto. A paleta de cores e a simplicidade e ousadia do seu estilo inspiraram a estética geral da reinvenção. Uma montagem poética de peças fortes que pudessem sustentar-se por si próprias era fundamental para ecoar o espírito da arte.
Os elementos-chave que Arghirescu Rogard introduziu nos espaços incluem as cadeiras “Conversation” da artista Liz Collins, uma peça composta por duas cadeiras feitas do mesmo tecido que as une como um xaile, uma representação alegórica do diálogo, um conceito que está no coração do projeto. A mesa de jantar personalizada, feita pela artista Liz Hopkins, exibe uma delicada tonalidade azul acinzentada cuidadosamente selecionada para ecoar e estabelecer um diálogo com o tríptico Wiley. No geral, a suave harmonia de azuis/cinzas e amarelos proporciona um cenário suave, quase banhado pelo sol, em linha com a ousadia da arte de Rose Wylie e a sofisticação e capricho da cadeira Collins.
Para separar a sala de jantar da sala de estar, foi selecionado um sofá curvo, cuja escala e caráter lúdico emanam da sua forma antropomórfica. Além disso, o seu perfil assimétrico confere fluidez à separação entre os dois espaços. O sofá foi combinado com duas poltronas diferentes, uma Franco Albini Fiorenza bicolor e uma cadeira Lympho Contemporary branca, de Taras Zheltyshev. A mesa de centro empilhável personalizada em resina de Liz Hopkins, feita de cubos que podem ser facilmente configurados de diferentes maneiras, tem um visual não industrial e traz de volta para a sala o amarelo do grande tríptico.
No quarto principal, Arghirescu Rogard projetou uma cabeceira personalizada com um formato invulgar, estofada em veludo verde-escuro, exuberante, por forma a criar um centro de gravidade no espaço de dormir, cujas paredes são cobertas dos pés ao teto pelas pinturas da proprietária e da sua mãe. Num dos lados do quarto, a escrivaninha de resina e bronze de Hélène de Saint Lager oferece um canto de escrita privado e romântico; a mesa de centro raku amarela e bronze projetada pela própria Arghirescu Rogard ficou alojada aos pés da cama.
Em apenas seis semanas, Arghirescu Rogard conseguiu transformar o apartamento de Baez num retiro poético contemporâneo, original, ousado e, ao mesmo tempo, acolhedor e familiar, de acordo com o estilo de vida, criatividade e caprichos da sua proprietária.