Esta é a história de um arquiteto que é apaixonado por surf e construiu a sua própria casa entre o mar e a Ria de Aveiro, um refúgio minimalista onde a luz dança entre o ripado e que convida os olhos a perderem-se na serenidade da sua envolvente. As fotografias são de Ivo Tavares.
Projeto de arquitetura: Rómulo Neto Arquitetos / Fotografia: Ivo Tavares Studio / segundo memória descritiva
A “Casa cor de sal” fica em frente ao chamado canal de Mira, na Costa Nova do Prado. Este local, pela salinidade das suas águas e vegetação envolvente, pelas cores e odores que emana, remete-me para o meu passado, para a casa dos meus pais, onde cresci e vivi durante muitos anos, sob esta atmosfera de natureza marinha”, lemos na memória descritiva do projeto.
O ato de dealizar e conceber o projeto desta casa, descreve o arquiteto, acarretou um enorme desafio. “Com efeito, condensava em mim a figura criadora de arquiteto e de igual modo a figura usufrutuária de um cliente exigente. No início, o conflito das figuras, obnubilou a clareza e a objetividade necessárias à conceção, todavia, com o tempo e com a maturação de alguns aspetos do projeto, o resultado foi, na minha modesta opinião, duplamente conseguido”.
Mas outros desafios se impuseram solucionar. “A partilha do mesmo espaço com outra pessoa, minha mulher, gerava compulsões e preocupações distintas no quadro das idiossincrasias de cada um, designadamente, como queriam habitar e viver a casa. Assim, partilhar o mesmo espaço, implicava compreender o outro e obrigava transacionar com ela conceitos de estética e funcionalidade e abdicar, por vezes, de linhas mais eruditas e menos experimentadas de arquitetura.
Os materiais eleitos para a construção revolutearam no cerâmico, nas madeiras, no alumínio. Nas cores, predominou o branco como elemento primário de toda a casa, salgando-a em quase todos os seus recantos com canastras de branco. Foi fundamental criar uma íntima relação do interior com o exterior.
Para tanto, foi desenhado um pátio interior com o intuito de criar uma ponte com a fachada sul da casa e para se conseguir uma gambiarra de luz natural para todos os seus compartimentos. Foram criados meios pisos, para que o piso da cave não estivesse exposto a eventuais inundações pela subida do lençol freático e que a dinâmica vertical existisse entre os pisos.
A zona social situou-se no piso superior, zona essa ampla e com um pé direto muito generoso, com olhos atirados à ria. Espaço para receber família e amigos em dias festivos, articulado com o terraço na cobertura, farol da habitação onde se pode usufruir de uma vista mais direta e circundante sobre a ria. A poente fixou-se um grande ripado vertical tentando dissimular a convivência com as outras construções mais degradadas e improvisadas pelas gentes locais da Costa”.