O ateliê de Isabel Souza-Matos – ISM Interior Design, com loja aberta no Monte Estoril, assina o projeto de remodelação e de interiores deste apartamento em Cascais, alojado num edifício icónico. As fotografias são de José Manuel Ferrão.
Projeto: Isabel Souza-Matos – ISM Interior Design / Fotografia: José Manuel Ferrão / Produção: Amparo Santa-Clara / Texto: Isabel Figueiredo
À semelhança de outros edifícios do mesmo período, dos anos 50/60, o prédio, situado numa das artérias mais prestigiadas da vila costeira, destaca-se pela pintura exterior, recentemente atualizada, pela sua altura e estilo, à época vanguardista. Comumente conhecido pela ‘torre verde’, este é um dos vários edifícios que mais remodelações tem observado, nos últimos tempos, com a vaga de novos moradores, nacionais e internacionais, a escolher Cascais para habitar ou como destino de férias.
O ateliê de Isabel Souza-Matos abordou o projeto tendo em consideração o estilo de vida e necessidades dos seus jovens proprietários, o espaço existente, a luz e as vistas de serra e de mar.
Foi necessário, como tal, levar a cabo algumas mudanças estruturais, sobretudo para que a iluminação natural, que inunda todos os espaços do apartamento — e tudo o que se observa a partir das muitas janelas —, fosse potenciado.
“Não tivemos de partir paredes e rever toda a planta”, conta-nos, “mas era fundamental criar mais fluidez e aumentar a sensação de amplitude para jogar com o tamanho da casa, que é muito pequena. Como tal, concentrámo-nos na entrada da cozinha, porque apesar de todas as divisões terem entradas de luz natural, este espaço acabava por ser o ponto fraco da casa, sobretudo considerando a colocação dos eletrodomésticos, nomeadamente o frigorífico, que lhe roubava alguma luz”. Este elemento, que se afigurava um fator-barreira, foi resolvido com a demolição de uma das paredes da sala e, dessa forma, foi possível criar “uma nova entrada, tanto de luz como de passagem”.
A cozinha foi alvo de um upgrade bastante relevante, prossegue Isabel, porque não só recebe hoje mais luz, como ganhou a vista dos dois lados — para a serra de Sintra e para o Atlântico — e viu a área de arrumação potenciada. “Conseguimos criar um corredor de arrumação, o que é algo muito positivo num apartamento pequeno.”
A escolha dos materiais, ao nível dos revestimentos, dá continuidade a este conceito. “Não queríamos ter vários materiais no espaço, para não criar conflito visual. O principal objetivo foi, desde o início, acrescentar valor: aumentar a sensação de mais espaço, melhorar a circulação, a funcionalidade…”. Como tal, o ateliê concentrou-se em escolher o mínimo de materiais, comuns a toda a casa, da sala aos quartos, da cozinha à casa de banho.
O microcimento é uma presença constante no pavimento e revestimento da cozinha e da casa de banho, em diálogo com as melaminas e os Silestones. Esta opção foi “fundamental para criar uma espécie de mancha uniforme em toda a casa”, a que se junta o papel de parede, com desenho simples e cores suaves, “que acaba por ser uma espécie de bilhete de identidade do apartamento”, como Isabel gosta de referir.
Ao papel de parede, juntam-se as peças de mobiliário feitas à medida e os tecidos. “A principal ideia foi exatamente a mesma: aproveitar o espaço da melhor maneira”. No início do projeto, o ateliê estudou a planta da casa, algo que é sempre feito a cada nova adjudicação, e dividiu-a em várias áreas. “Por se tratar de um casal jovem, havia que pensar em questões como espaço para teletrabalho, mesmo existindo um escritório. Foi necessário subdividir a sala em ambientes com distintas funcionalidades, sem prejuízo da sua uniformidade visual. Assim, “há uma zona de estar que tem os seus próprios tecidos e os seus próprios materiais, que acabam por delinear os espaços, de estar, de refeições, de trabalho. O mesmo acontece com a parte da varanda, que eu designo como o ‘jardim de inverno’, por graça, mas que, na verdade, realça a nossa intenção inicial de separar funções sem comprometer o conforto”.
Estes materiais e texturas, padrões e formas das peças acabam por se conjugar entre si num diálogo sereno e elegante. A paleta cromática oscila entre o salmão, o verde e o amarelo-torrado, uma presença constante em todas as divisões e escolhas decisivas para a criação de harmonia visual. Todas as peças desenhadas e mandadas fazer à medida, bem como a renovação da cozinha e espaço de banho, são da responsabilidade do ateliê ISM – Interior design, em colaboração com os seus parceiros de longa data.
É o caso do sofá da sala, cujo desenho diferenciado acompanha as três paredes, com a sua “esquina cortada, porque esta casa não tem ângulos retos, uma característica do prédio, e que apenas foi possível graças à mestria do estofador”. O sofá, foco principal ao entrar no espaço, dialoga com o resultado final e sublinha a leitura sensível e inteligente do ateliê na forma como abordou e resolveu todas as questões da renovação e melhoramento do apartamento.
“A conjugação do contemporâneo da decoração versus o clássico acabou por resultar muito bem”, acrescenta Isabel. “Quem entra no prédio não está à espera de ver um apartamento tão atual, com uma vista tão bonita como esta, onde tudo respira e onde viver é fácil, porque tudo tem a sua função sem a necessidade de compartimentações”.