Por a 1 Abril 2025

O Studio Arthur Casas assina o projeto de transformação desta casa, sem prejuízo da sua integridade arquitetónica.

Projeto: Studio Arthur Casas / Texto: cortesia Studio Arthur Casas / Fotografias: Frederik Vercruysse

Localizada no distrito de Westminster, em Londres, Regent’s Park é um dos mais antigos parques reais de Inglaterra. A uma curta caminhada desta mancha verde, num bairro tranquilo com universidades, edifícios e residências, encontra-se a Regent’s Park Townhouse. O edifício histórico, datado de 1822, faz parte de um complexo residencial clássico inglês composto por 20 casas geminadas, situado na zona mais exclusiva e bem preservada da cidade. 

Equilibrando as restrições impostas pelas rigorosas regulamentações com as necessidades contemporâneas dos proprietários — um casal e os dois filhos —, o Studio Arthur Casas empreendeu um processo meticuloso de avaliações, consultas e aprovações para transformar e adaptar completamente o espaço, preservando a integridade arquitetónica da casa. 

Dividida entre o Brasil e Inglaterra, a família inclui duas crianças em idade escolar, o pai, um executivo na área da tecnologia e a mãe, curadora de arte e colecionadora. Este perfil único inspirou o projeto a incorporar a extensa coleção pessoal da mulher — com obras de artistas como Judith Lauand, Jane Gravarol e Rachel Baes — como tema central, criando o desafio de harmonizar a arquitetura, o mobiliário e a arte, permitindo que esta última falasse por si mesma. 

Entre as restrições impostas estava a proibição de alterar a fachada, incluindo qualquer modificação interna visível pelas janelas que comprometesse a aparência original. Além disso, não era permitido alterar os detalhes em estuque e as molduras dos tetos. Por isso, a escolha de tons neutros e branco-sujo revelou-se ideal, não só para respeitar estas diretrizes, mas também para criar um fundo que destaca as obras de arte expostas nas paredes. 

A preferência pela neutralidade, devido à predominância da arte, estendeu-se a outros acabamentos discretos e minimalistas, incluindo portas, acessórios elétricos, luminárias, rodapés e radiadores. Esta escolha marcou um claro contraste com a decoração anterior do proprietário, caracterizada por tons escuros e estampados de animais. 

A casa divide-se em dois volumes: a parte principal e um anexo traseiro, que anteriormente servia de estábulo para cavalos. Respeitando a planta original — uma tipologia típica do século XIX que não podia ser alterada —, a seleção e a disposição do mobiliário asseguram uma circulação fluida e conforto em todos os espaços. 

Ao entrar no hall, a relevância da arte é imediatamente perceptível. A partir daqui, pode-se subir a meia escadaria ou aceder às áreas de acolhimento dos espaços sociais: a sala de jantar, sala de chá e a cozinha com área de pequeno-almoço. 

À direita, a sala de jantar exibe as cadeiras Flair’o da B&B Italia combinadas com uma mesa em carvalho natural (o mesmo material do chão) com mais de 4 metros de comprimento, desenhada especificamente para o espaço por Arthur Casas. O aparador Eros Ágape completa o conjunto, iluminado por apliques e pendentes de Alexandre Logé. Sobre a lareira, destaca-se a peça a preto e branco intitulada “Em cima da linha”, de Anna Maria Maiolino. 

Adjacente à sala de jantar está a sala de chá, caracterizada por peças como a Documenta Chair, de Paolo Deganello para a Vitra, e o sofá vintage Cimo da Herança Cultural. A cozinha principal foi equipada com móveis italianos personalizados da Boffi, refletindo o amor da família pela gastronomia. A cozinha está unida à área de pequeno-almoço, situada num terraço com telhado de vidro, remanescente de uma renovação anterior. Este espaço, banhado por luz natural, oferece uma vista integrada para o jardim. A mesa Eros Ágape, acompanhada por duas cadeiras Botolo da Arflex, é complementada pelo Silent Cabinet da De Padova. 

No nível intermédio, entre o rés-do-chão e o primeiro andar, o pavimento em carvalho natural claro estende-se aos armários personalizados no escritório, bem como ao roupeiro e à casa de banho social, que incluem mármore italiano da Salvatori e torneiras da marca dinamarquesa Vola. 

O primeiro andar acolhe a área de estar e a sala multimédia, destacando-se a forte presença de mobiliário de assinatura. Abordando o conceito de galeria de arte (e design), a seleção de mobiliário inclui as poltronas vintage La Cachette da Pamono, o sofá Cubo de Jorge Zalszupin e a poltrona Bowl de Lina Bo Bardi — todas em representação do design brasileiro. Na sala multimédia, o design ‘made in Brasil’ é de novo evidenciado com a poltrona e otomana MP43 Mirage de Percival Lafer. Nas paredes, artistas britânicos como Issy Wood, Mary Martin e Grace Pailthorpe têm lugar de destaque. 

Os dois últimos andares são destinados aos espaços privados. A suíte principal ocupa o segundo andar, e o terceiro andar alberga dois quartos para os filhos do casal. A suíte principal apresenta um roupeiro revestido em couro que contrasta com os elementos decorativos das paredes e o mobiliário assinado, incluindo a cama BIO-MBO, de Patricia Urquiola para a Cassina, com lençóis da Frette, e uma poltrona J.J. da B&B Italia. A casa de banho do casal inclui torneiras da Vola e mármore da Salvatori. 

A residência inclui ainda espaços ao nível subterrâneo, com a cozinha, sala de estudo e sala de televisão. O sistema inteligente da casa, incluindo dispositivos ligados à internet, além do aquecimento central, aquecimento por piso radiante e ar-condicionado, completa a residência, misturando tradição, arte e funcionalidade.