Por a 22 Abril 2025

Resgatando a história de uma casa colonial e instalada no coração de uma antiga plantação de café, esta casa construída em 1964 ganhou uma nova vida. Mais do que uma simples renovação, o projeto tornou-se uma homenagem à simplicidade rural e às memórias familiares.

Projeto: Lucas Fernandes Arquitetos / Fotografia: Carolina Mossin

A intervenção arquitectónica partiu de um princípio essencial: valorizar a essência do lugar e o verde abundante ao redor. A casa original, composta por três quartos, sala, cozinha e despensa, foi cuidadosamente repensada para responder às necessidades atuais de um casal reformado, que procurava um lar mais ligado às suas memórias e à natureza. A nova configuração reorganizou os espaços interiores de maneira estratégica. Os três quartos foram recolocados numa das laterais da casa, interligados por um hall central com uma casa de banho partilhada. A antiga separação entre os ambientes sociais foi eliminada, dando lugar a um espaço integrado e acolhedor, onde a sala de estar, a sala de jantar e a cozinha se fundem. Uma área gourmet foi adicionada, ampliando os espaços de convívio e proporcionando novas possibilidades de encontros ao redor da comida.

Nesse contexto, a cozinha assumiu o papel de coração da casa. Com um fogão a lenha feito de tijolos de demolição, uma ilha central que convida à convivência e uma janela do tipo “passa-pratos” que liga a área interior à gourmet exterior, o ambiente transformou-se num ponto de encontro e de celebração. A bancada, generosa, permite que a família se reúna durante a preparação dos alimentos, tornando a cozinha um verdadeiro espaço de partilha.

Os materiais escolhidos para a obra reforçam a identidade do lugar e preservam a sua memória afetiva. A madeira original foi reaproveitada em portas, janelas e forros, mantendo viva a história da construção. Os tijolos de demolição, o piso de cimento queimado e as bancadas e pias em ardósia trazem rusticidade e autenticidade. O uso estratégico do vidro permite que a paisagem invada os interiores, relacionando o quotidiano à natureza em redor. O reboco, mantido tanto nas áreas interiores como exteriores, conserva a simplicidade original da casa e valoriza as suas texturas naturais.

Cada detalhe do projeto carrega uma história. A mesa de jantar foi feita a partir de um tronco retirado da própria fazenda, uma antiga toalha de crochê tornou-se escultura, e um carro de bois, que remete à infância dos moradores, hoje ocupa a varanda como peça escultórica. Floreiras cuidadas com carinho pela moradora, reforçam o vínculo afetivo com o jardim e com as pequenas tradições do dia a dia.

A relação com a natureza é um dos pilares do projeto. A casa abre-se completamente, integrando o interior à vegetação nativa. Na fachada principal, aberturas estrategicamente posicionadas funcionam como visores que emolduram a paisagem, tornando-se parte viva da arquitetura.

Mais do que uma casa, este projeto é um verdadeiro refúgio. Um lugar onde passado e presente se entrelaçam com delicadeza, oferecendo ao casal não apenas conforto, mas também uma reconexão com suas origens e uma nova maneira de celebrar a vida, longe da agitação urbana e em profunda harmonia com o entorno natural.