O coletivo BLOCO Arquitetos assina a remodelação deste apartamento de 68m² que cruza estética, funcionalidade e o respeito pelas estruturas originais. Nos interiores, detalhes de outrora convivem com uma abordagem contemporânea resultando num apartamento que celebra as rotinas, as memórias e os afetos. As fotografias são de Júlia Tótoli.
Projeto: BLOCO Arquitetos / Fotografia: Júlia Tótoli
A remodelação deste apartamento de 68 m², assinado pelo BLOCO Arquitetos, propõe uma abordagem sensível e contemporânea ao design de interiores, equilibrando estética e funcionalidade com um forte respeito pela arquitetura original. Localizado num bairro icónico de Brasília, o imóvel apresentava uma planta compartimentada, típica das construções daquela região. Essa fragmentação limitava a integração dos ambientes e a fluidez da luz natural.
A intervenção partiu da premissa de liberar o espaço: diversas paredes foram demolidas, revelando a estrutura bruta do edifício — vigas e pilares de betão aparente tornaram-se protagonistas do novo cenário. Esta escolha respeitou a materialidade original, e estabeleceu um contraste elegante com a nova linguagem dos interiores.
A reorganização da planta teve como foco a ampliação da área social. A cozinha, por exemplo, foi deslocada e integrada na sala de estar e a uma das janelas, onde hoje se encontra uma pequena horta. A antiga casa de banho de serviço deu lugar a um lavabo, e um dos quartos e a varanda foram incorporados na zona social, garantindo amplitude e luminosidade. Apenas a suíte principal manteve a sua configuração original, oferecendo privacidade e conforto.
No design de interiores, a paleta de cores baseou-se em tons neutros e superfícies brancas, escolhidas para valorizar os elementos estruturais em betão aparente. Detalhes em amarelo mostarda surgem com ousadia e precisão — como nas portas inferiores do armário da cozinha e no interior do armário da sala — criando pontos focais visuais e imprimindo identidade ao espaço.
A madeira tem um papel central na composição, trazendo calor e textura através do pavimento em tacos reciclados de demolição e dos armários feitos por medida. Já os azulejos brancos 15×15 cm — revestem a cozinha, as casas de banho e um aparador multifuncional na sala, que atua como banco ou mesa.
De salientar que o projeto também teve uma curadoria afetiva: a coleção de arte da moradora foi um ponto de partida para o desenho dos interiores. No fim, mais do que uma remodelação, o resultado é a expressão da vida de quem habita este apartamento — as suas rotinas, memórias e afetos – conseguido através de um olhar íntimo e cuidadoso, traduzido num lar que celebra a autenticidade através do design.