O estúdio de arquitetura espanhol BAO assina o projeto de remodelação total deste apartamento no bairro de Salamanca, na rua Zurbano, uma das melhores ruas da Europa para morar, segundo o The New York Times.
Projeto: BAO Arquitectura / Fotografia: Montse Garriga / Texto: Isabel Figueiredo
A reforma realizada foi abrangente. O objetivo? Reabilitar o espaço, que se apresentava espartilhado e escuro, torturado pelas múltiplas divisórias que impediam a entrada de luz, com longos corredores cheios de curvas que conduziam a quartos pequenos e escuros. “A proprietária é uma mulher jovem, empresária do setor da comunicação”, contam-nos. “A nossa cliente contactou-nos e propôs o desafio de reabilitar o espaço, escuro e labiríntico, depositando em nós a sua total confiança, e nas nossas ideias. Assim, partimos de um projeto que combinou as nossas propostas com as suas próprias, muito claras, e projetámos o espaço do zero, criando áreas abertas e deixando entrar a luz”.
Hoje, o apartamento de 150m2 da Rua Zurbano, em Madrid, divide-se em sala partilhada com a cozinha, um lavabo social e dois quartos, em suíte. O seu layout tem uma distribuição completamente diferente da existente, e o espaço comum que une a cozinha à sala divide-se da área noturna por via de uma porta com painéis de vidro.
“Como eliminámos completamente os corredores, os dois elementos comunicam hoje por meio de um espaço de distribuição”, prosseguem. “A zona diurna é totalmente aberta para a rua Zurbano, e a partir das duas suítes criadas, a principal e a das visitas, avistamos um grande jardim, do outro lado da rua”. Assim, o que antes foi uma área da casa escura e demasiado compartimentada, é hoje ampla e luminosa, aproveitando-se, contudo, alguns elementos do passado, caso dos vitrais dos anos sessenta, usados na porta que divide as duas áreas do apartamento. “Respeitamos muito os desenhos originais, aos quais muitas vezes foram roubados o seu esplendor original pela passagem do tempo”, salientam.
“Gostamos de peças que agregam valor. Aqueles que não saem de moda com o tempo. Aqueles que são feitos com materiais naturais e que envelhecem bem. Madeira, couro, linho, pedra… ficam mais bonitos com o passar dos anos e são alguns dos materiais eleitos para este apartamento”.
Por seu turno, as peças que decoram a casa contribuem para a sensação de luz e vastidão. “A peça central da sala, por exemplo, é um sofá curvo que desfoca as margens dos espaços e, desde que o vimos, soubemos que era perfeito para esta sala. O objetivo do projeto era alcançar uma beleza serena. Recuperar o ambiente das casas senhoriais adaptando-o ao estilo de vida atual”, explicam.
Pilar Barroso e Miguel Brieva, fundadores do BAO, confessam-nos que em qualquer projeto de reabilitação ou modernização existem sempre elementos a observar e conservar. Para este apartamento, foram tidos em linha de conta a altura do chão ao teto, que neste caso ultrapassa os 4 metros, e os vãos na fachada. “Gostamos de projetar carpintarias que assegurem conforto, mas com uma estética que se integre no classicismo do espaço, como se esses elementos ali tivessem estado desde sempre. Preocupamo-nos e dedicamos muita atenção a esse tipo de detalhes que fazem a diferença”.
No apartamento, a fotografia marca uma presença notória. “Adoramos a fotografia contemporânea e existem nesta casa várias peças de artistas interessantes. Gostamos particularmente de um desenho a carvão de Hércules, do artista belga Pay, que dá um toque clássico ao espaço, com a sua moldura de madeira do século XIX, apoiada na mesa do hall”.
Todos os tecidos da casa são de linho natural e o papel de parede da coleção Cole & Son, ‘Nuvolette’, foi escolhido pelo seu padrão: “Representa um desenho a caneta de nuvens, que adoramos”.
“As sensações que esta casa transmite são muito especiais. É muito descontraída e ao mesmo tempo sofisticada, graças aos seus acabamentos e detalhes. Queríamos transformá-la num oásis de paz, mas também num lugar especial, onde convidar os amigos para tomar uma bebida e passar uma tarde descontraída”. A paleta neutra e os materiais favorecem esse efeito de paz, o que se salda num refúgio tranquilo, no centro de Madrid. “Na BAO gostamos de trabalhar com cores neutras, gostamos de off-whites, areias e cinzas e das combinações entre eles. Trabalhamos em regra com cores serenas e com as do próprio material natural, sem alterar nada. Este projeto é um regresso ao clássico, mas com um espírito minimalista, sem excessos”, reforçam, “assim como uma espécie de classicismo simplificado”.