Neste lugar, tão rico em boas memórias, Anabela e a família encontram, hoje, um refúgio que em nada se distancia destas lembranças. Próxima à povoação do Alto da Serra, ao lado de Rio Maior e a 20 km das Caldas da Rainha e das praias do Oeste, a propriedade está no limite do Ribatejo, inserida na Região de Turismo do Alentejo e Ribatejo.
Fotografia: Ana Paula Carvalho / Texto: Isabel Figueiredo
Localizada na serra, no Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros — cujo vale abriga as salinas de Rio Maior, as únicas do género interiores em Portugal e as únicas em funcionamento na Europa, com registo desde 1177 —, esta propriedade é constituída por uma casa, a Casa do Moleiro, e um moinho de vento. Adquirida pelo pai da proprietária nos anos sessenta, que fez dela uma utilização de ócio, era o local onde Anabela e as três irmãs faziam as festas com os amigos, e onde muitas vezes a família se reunia, em dias de aniversários, festas de casamento e em datas especiais, como o Natal ou a Páscoa.
Neste lugar, tão rico em boas memórias, Anabela e a família encontram, hoje, um refúgio que em nada se distancia destas lembranças. Próxima à povoação do Alto da Serra, ao lado de Rio Maior e a 20 km das Caldas da Rainha e das praias do Oeste, a propriedade está no limite do Ribatejo, inserida na Região de Turismo do Alentejo e Ribatejo. “O moinho de vento, que terá sido construído no século XIX, funcionou até à data de aquisição, tendo sido depois remodelado e transformado em Turismo Rural pelo meu pai, continuando sempre a ser utilizado pela família”, conta-nos.
Mais recentemente, foram efetuadas obras de manutenção e de reabilitação da Casa do Moleiro, “por forma a torná-la mais confortável, mantendo a autenticidade do local”. Foram, para isso, preservadas as janelas e portas de madeira originais, apenas tendo recebido uma pintura num bonito tom de verde, o que ajudou a deixar a casa “mais leve e luminosa”. A sua decoração “é tradicional, com elementos característicos da zona, como as madeiras, os barros, os bancos de bunho ou os cadeirões típicos da região”.
Generosa em área — são cerca de 3600 m2 —, a entrada da propriedade faz-se através de um portão de madeira que dá acesso à zona de implantação da casa e do moinho. Em frente a este último, situa-se a área da piscina, com vista para a serra e para o vale, à qual se acede por um pequeno portão e, aqui, encontra-se um pequeno alpendre de apoio. No exterior, existe ainda uma área com churrasco, apoiada pela mesa. A vegetação é constituída essencialmente por espécies autóctones, como azinheiras, sobreiros, zambujeiros, pinheiros, carrascos, alecrim, entre outras espécies, às quais se junta o colorido das buganvílias e de algumas plantas e flores mediterrâneas. “Como não são utilizados herbicidas, há sempre bastantes pássaros e borboletas”, acrescenta Anabela.
O moinho divide-se em três pisos: no inferior, aloja-se uma sala de estar, no piso intermédio fica a sala de jantar com uma pequena kitchenete e para o nível superior foi destinado um quarto apoiado pela casa de banho. “Toda a estrutura de madeira original foi mantida e, na decoração, utilizaram-se elementos característicos da zona, como os móveis de madeira, as mantas e alguns ornamentos. Por seu turno, a Casa do Moleiro, exibe, na parte da frente, um alpendre e uma das portas de entrada. Esta porta dá acesso a uma sala; à direita, encontra-se um quarto e uma casa de banho; do lado esquerdo, existem mais duas salas de estar, uma delas equipada com uma salamandra de ferro, sofás e poltronas.
Cruzando a porta dupla, em frente, encontramo-nos numa outra área que aloja uma sala de refeições, com uma mesa de madeira de grandes dimensões, uma casa de banho social, um ambiente com uma lareira grande, além da cozinha aberta para a sala e de um quarto com casa de banho. Através da cozinha e da sala de refeições acede-se ao exterior onde um outro alpendre e uma outra zona de churrasco apelam aos momentos passados na melhor companhia. “Nesta casa, mas com uma entrada independente, existe ainda um outro quarto com casa de banho”, revela Anabela. “Este quarto”, prossegue, “tem uma parede com janelas de vidro, do chão ao teto, com vista para os pinheiros. Em frente a esse quarto existe uma outra zona exterior de refeições apoiada pela mesa de madeira, colocada à sombra dos pinheiros”.
Cruzando a porta da cozinha, de acesso ao exterior, as árvores de fruto, oliveiras, romanzeiras, aveleiras, macieiras, pereiras, mas também o marmeleiro, a nogueira, o loureiro e a pequenina horta cumprimentam-nos com as suas fragrâncias e cores. “A delimitação desta área está assegurada com muros de pedra solta tradicionais nesta zona — o terreno é calcário e tem muita pedra, tradicionalmente utilizada para duas finalidades: por um lado, para fazer muros que delimitam as pequenas propriedades, por outro, para libertar o terreno das pedras, aumentando assim a área cultivável.” Para lá das árvores de fruto, estende-se uma outra área, que tem acesso por um segundo portão de madeira, e que é utilizada como zona de estacionamento. Foi ali que a família decidiu construir “uma casinha de madeira onde foram instalados painéis solares para produção de energia”.
As obras tiveram como objetivo tornar a casa mais confortável, com maior comodidade. “A intervenção foi feita nas casas de banho, que receberam a instalação de um novo sistema de aquecimento de água, na cozinha, que foi modernizada, no telhado, inteiramente reparado, e contemplou ainda a substituição do gás pela energia elétrica.
“Neste processo de remodelação, apoiado por um arquiteto, houve sempre a preocupação de preservar a autenticidade da casa e do moinho”, diz-nos a nossa interlocutora. “Mantiveram-se todos os elementos característicos — afinal, é uma casa de campo”, referindo-se às pequenas janelas, às telhas de canudo, ao chão de tijoleira de barro, ao cimento colorido de vermelho, na cozinha (igualmente característico da zona), mas também às paredes com reboco rústico ‘à colher de pedreiro’, deixando ficar as janelas e portas de madeiras originais. “Nestas casas de campo, as madeiras são tradicionalmente escuras, por isso optámos pela utilização de dois tons de verde para a sua pintura — um tom verde-seco claro, no interior, e um tom de verde mais escuro, no exterior”. Também os móveis de madeira originais, que eram escuros, foram pintados no tom de verde mais claro, “à exceção da mesa de madeira de refeições e dos bancos corridos, que mantiveram a cor escura original”.
Os barrotes de madeira escura do teto foram pintados de branco, uma solução alargada a toda a casa, tanto no interior como no exterior. “No Moinho, que sempre tinha sido caiado, manteve-se a cal, para preservar a cor branca original”.
A preocupação com a sustentabilidade foi uma constante, desde a escolha dos materiais às soluções encontradas — foram instalados painéis solares para a produção própria de energia. Da mesma forma, utilizaram-se materiais típicos da região, como a tijoleira de barro, o cimento colorido com óxido de ferro, a cal ou as telhas de canudo. A quinta serrana nunca deixou de ser um local de encontros: “Continuamos a reunirmo-nos no Natal, na Páscoa, muitas vezes em festas de aniversário, com as minhas irmãs, os cunhados, os sobrinhos, mas também recebemos ali os amigos”. A propriedade abraça a reunião e, nos meses mais quentes, o espaço exterior é um convite sem pressas às refeições feitas à sombra das árvores, aos mergulhos na piscina; nos meses frios, estes momentos dão lugar às conversas junto à lareira ou à volta da mesa.