Por a 6 Abril 2018
Bordeaux, França
Nesta mansão, o espaço é revelado pelo encontro entre passado e presente. É na interpretação e articulação dos sinais arquitetónicos existentes que surgiu o projeto, onde cada novo fragmento de arquitetura se encaixa e encontra um lugar no seu contexto. Um projeto assinado por Martins Afonso, Atelier de Design.

Fotografia: Mickaël Martins Afonso / v2com

Projeto: Martins Afonso

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Ancorada à beira do ‘Jardin Public’, no centro de Bordeaux, a mansão, de quatro andares, data do ano de 1850, e abre-se a um belo jardim, revelando a sua paisagem majestosa durante as quatro estações do ano. Graças a um forte contexto de herança, o desafio desta reabilitação foi criar um novo ambiente de vida adaptado às necessidades atuais, sem distorcer o que já lá estava, ao mesmo tempo que deveria trazer uma nova força que não caísse num simples mimetismo.

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“Destacando o que já existia com contraste”

Os proprietários queriam renovar este edifício para torná-lo mais adequado ao seu estilo de vida, mais confortável e, acima de tudo, de modo a refletir os seus gostos. O projeto envolveu uma renovação completa do interior, incluindo a reabilitação térmica parcial, respeitando as condições existentes do edifício.

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Este último, bastante promissor graças ao bom estado de preservação de todas as características internas, caso de madeiras, pisos e molduras de gesso, estabeleceu a primeira orientação do projeto, a saber, a conservação desse património. Levantou a questão da implementação e valor deste aspeto singular. Mas o objetivo era sublimar as condições existentes, gerando um contraste usando novos elementos arquitetónicos.
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Os interiores foram projetados para manter o charme destes espaços antigos, imprimindo um toque contemporâneo. O velho e o novo estabelecem hoje um jogo de sedução entre eles através deste jogo de contrastes. A alocação dos espaços internos do edifício resultou no seguinte ajuste da sala:

No piso térreo, duas salas de estar e uma cozinha; no primeiro andar, uma sala de estar mais intimista, o escritório e uma sala de ginástica com WC; no segundo andar, uma master suíte, com um quarto grande, um closet e um WC grande; no terceiro andar, dois quartos para as crianças com casas de banho adjacentes; no quarto andar, um quarto de hóspedes com WC privativo.
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O andar térreo abriga duas magníficas salas de estar separadas pela cozinha. Esta última estende-se até à sala de estar maior, abrindo-se para o jardim. A cozinha, que revela a sala de estar, consiste em três elementos distintos: um móvel central de uma só peça, um móvel contra a parede baseado nas proporções do móvel central e um armário de nogueira. Estas três partes comunicam entre si sem ofuscar o que foi construído anteriormente, e o mobiliário central é favorecido por um bloco de gelo num ambiente quente.
A sala conduz-nos ao jardim privado dentro do ‘Jardin Public’, através de um alpendre revestido com placas de aço Corten nas laterais. Cria uma atmosfera calorosa, um convite a um momento de descanso e em família.

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No primeiro andar foram implementadas soluções específicas de modo a dar origem a um escritório. As paredes estão revestidas a carvalho, sobre as quais se instala uma biblioteca. Aqui, novamente, o contraste entre o tom do carvalho e os elementos pretos imprime uma atmosfera calorosa a este espaço. O revestimento da parede de carvalho também encontrado no grande camarim no segundo andar destaca a cornija branca de gesso.

Todos os arranjos de carpintaria, móveis das casas de banho, bibliotecas, são projetados seguindo a mesma estética, misturando estes dois materiais. Tal resulta numa homogeneidade e num fio condutor que é comum aos espaços, tão ecléticos.

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Cada casa de banho foi projetada de acordo com o seu contexto particular, o espaçoso WC do quarto do casal, projeto a todo o comprimento, é materializado via duas faixas, uma clara e outra escura, diluindo chão, parede e teto como um só elemento. A casa de banho das crianças exibe um trabalho de azulejos mais tradicional, ecoando os tetos com cornijas, os pisos que lembram um tabuleiro de damas, com composições diagonais no chão de cerâmica.
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A escolha das cores também contribui para esta harmonia geral. Muito subtis nas salas de estar ou nos quartos, tornam-se mais contrastantes nas casas de banho ou nas antecâmaras.
Variados detalhes pontuam estes espaços, por exemplo, a escolha de materiais como tapetes em lã, ou a implementação cuidadosa de materiais como as extremidades do porcelanato que gera “bicos de pássaros”, ou simplesmente o cuidado impresso no produto feito sob medida.

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“Reviver o passado como se não houvesse trabalho”

Trata-se de um projeto que implicou muito cuidado já que o período destinado à renovação e obras foi demorado e decisivo, pois cada descoberta poderia ter uma consequência não apenas nas escolhas arquitetónicas, mas também no estado de preservação das características antigas, que precisavam de ser protegidas durante todo o período de construção.

Por estes motivos, a escolha das equipas contratadas corretas foi essencial. Estas tornaram possível a realização do projeto através do domínio de suas habilidades. Era necessário reduzir um mínimo de divisórias e tetos, e cada reconstrução tinha de ser realizada juntamente com a anterior. Por exemplo, não havia partições em placas de gesso e nenhuma marcenaria tradicional em madeira composta.
O que torna este projeto incrível, especialmente nas áreas onde, à primeira vista, parece não ter havido nenhum trabalho.

Sobre Martins | Afonso atelier de design

O estúdio criado por Mickaël Martins Afonso em 2016 é uma reflexão sobre uma carreira multidisciplinar, apoiada por estudos de artes visuais, artes aplicadas, design de espaços e, por último mas não menos importante, arquitetura, encerrando uma viagem rica em experiências humanas e intelectuais.

Colaborou durante vários anos com a Brochet Lajus Pueyo, uma empresa de arquitetura em Bordeaux, reconhecida pelo compromisso profissional como gestor de projetos.
Enquanto isso, manteve o seu trabalho de pesquisa em fotografia, design, carpintaria, prototipagem e instalações artísticas, adicionando uma prática complementar à arquitetura. Depositou um cuidado particular nos relatórios de escalas, bem como em detalhes. Este espírito de abertura é apercebido hoje na sua prática.

O atelier trabalha em diferentes formas e escalas de design, como design de interiores, criação de móveis, levando à realização do objeto. Um novo projeto pretende refletir sobre as práticas, libertar um pensamento global do espaço habitado, mas também responder de forma mais precisa aos pedidos específicos de cada cliente e, assim, ser capaz de criar lugares singulares adaptados às suas necessidades e desejos, para cada um deles viver a arquitetura.

Em 2016, Mickaël Martins Afonso ganhou o prémio do júri no Festival des Architectures Vives de Montpellier que conduziu ao convite paraa exposição do Taipei Landscape Public Art Festival “Seeing the Unseen”, organizado pela “Blue Dragon Art Company” em Taiwan, para apresentar o seu premiado projeto “Head in the Clouds”.
Em 2017, o atelier foi convidado com o coletivo SHALUMO para produzir uma instalação arquitetónica durante o festival Concentrico 3 em Logroño, na Espanha.

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