A ligação das mãos com a terra descobriu-a por acaso, já Maria Castel-Branco tinha passado pela multimédia, pelo design gráfico e pela decoração de bolos. A paixão à primeira vista levou-a ao Atelier Caulino, onde esteve em formação durante dois anos. Foi aí que começou a desafiar as potencialidades da arte de fazer cerâmica e desde então, nunca mais largou. No seu atelier, em Alcântara, gosta de fazer objetos que se perpetuem, independentemente de tendências ou épocas. Gosta das imperfeições do trabalho à mão, de não fazer peças iguais e de se deixar inspirar pelo dia-a-dia.
Quando descobriu a cerâmica?
Há 8 anos. Por puro acaso. Depois de deixar o design gráfico e as agências, senti falta do trabalho manual, que tinha quando fazia as maquetas. Dei aulas de trabalhos manuais e fiz bolos decorados mas sempre depois do horário de trabalho o que se tornou uma loucura porque entretanto nasceu a minha terceira filha. Passados cerca de 10 meses senti mesmo muita necessidade de fazer qualquer trabalho criativo. Foi quando me falaram no Atelier Caulino, que por acaso era de uma pessoa que eu conhecia há muitos anos, e muito perto do meu trabalho. Foi ouro sobre azul e em Janeiro de 2014 meti a mão na massa e tive a sensação que ia ser para o resto da vida!
O que a apaixonou nesta arte?
Mexer no barro é estar conectada com a terra! Com a natureza! É uma coisa difícil de explicar. O que eu sei é que pego num pedaço de barro e parece que tudo à volta fica mais leve! As coisas fluem naturalmente. Depois tem a parte da versatilidade do material que é espectacular! Faço uma peça, se acho que não está a correr bem, desfaço e começo novamente.
De que forma construiu a sua linguagem?
Não sei. Foi uma coisa natural, espontânea. Vou fazendo e as peças vão surgindo! Faço muitas peças diferentes. Umas cheias de cor, outras com ouro, outras mais “naturais” mas as pessoas conseguem reconhecer que são todas minhas. Deve ser do toque, das “imperfeições” que lhes deixo, das texturas e acabamentos que lhes dou! Apesar de serem diferentes vê-se que foi a mesma mão, com o mesmo amor, a fazer!
Como caracteriza as suas peças?
Imperfeitas, tortas, desengonçadas e únicas mas carregadas de amor e paixão.
Quais as suas grandes fontes de inspiração?
A minha maior inspiração é a Natureza, sem dúvida. As suas cores, as suas texturas, as formas e movimentos. Mas também o dia a dia! Pessoas, conversas, roupas, padrões, cheiros, formas e, principalmente, texturas! Adoro inventar texturas.
Tem para breve a inauguração de uma exposição. O que nos podes revelar acerca da mesma?
Sim, espero inaugurar no início de Dezembro. Uma exposição que vai transmitir o que eu senti, o que me fez falta e como dei a volta, durante os tempos de confinamentos por causa da Covid-19. A Covid-19 e o que isso gerou, foi um acontecimento péssimo e que teve bastante impacto na minha vida….a todos os níveis! E não poderia deixar de falar sobre ele! Como não gosto de falar nem tenho jeito para escrever exprimo-me como sei! Será uma exposição completamente diferente do que costumo apresentar. Vai ser composta por cerâmica e aguarela.