O Atelier Barda transforma um antigo espaço comercial numa residência privada unifamiliar.
Local: Montreal, Canadá /Data de conclusão: abril de 2017 / fotorafia: Maxime Desbiens
O Atelier Barda converteu um prédio que já alojou dois apartamentos por cima de uma mercearia numa residência unifamiliar, a “Résidence Villeneuve”. A fachada é composta por duas janelas com moldura de madeira de cada lado de uma porta central. O terreno em que o edifício se encontra situa-se entre um pátio lateral virado a sul (anteriormente usado para descarregar e armazenar mercadorias) e uma longa garagem com um galpão para cima.
O programa original dos clientes envolvia a transformação do pátio lateral num jardim – um ativo raro e procurado neste bairro da cidade densamente povoado. Os clientes também queriam um redesenho completo do espaço comercial no piso térreo e no primeiro andar para criar uma casa unifamiliar em dois andares, mantendo uma unidade apenas para alugar no último andar.
Um andar parcial acima da garagem existente foi construído para criar uma sala de estar adicional e um pequeno deck privativo com vista para a rua. A orientação da fachada e da parede lateral oferecia grande potencial para aberturas e iluminação, mas a transformação proposta inevitavelmente resultaria na perda de privacidade, dada a proximidade dos vizinhos e da rua. Com base nesta observação, o redesenho proposto procurou abordar o seguinte desafio: como criar uma relação entre privado e público numa casa com uma loja?
A primeira ideia foi apresentar os clientes como protagonistas do projeto, revelando fragmentos das suas narrativas aos transeuntes, garantindo a sua privacidade em momentos específicos. A relação direta entre os clientes e os transeuntes seria destacada e não ignorada.
Todo o redesenho foi guiado por dois temas complementares: um jogo entre enquadramento visto e não visto e cinematográfico. As antigas janelas da loja foram conservadas, não apenas para deixar entrar a luz, mas também, e importante!, para criar alguma ambivalência entre o que é mostrado e oculto.
Para conseguir este efeito, um bloco de serviço foi construído na frente da janela. Abrigando um armário, sala de pó e estante, serve como um espaço de transição para a área privada no piso térreo (sala de estar, sala de jantar, cozinha). O seu papel é criar uma tela visual da rua sem bloquear a janela. Os transeuntes podem, portanto, apenas vislumbrar a família movimentando-se de um espaço para o outro. Embora a fachada seja largamente permeável, toda a área de estar no piso térreo não é visível da rua, além das passagens e espaços intersticiais.
Cortinas dão à área de estar uma aparência teatral. Um espaço de escritório também foi criado na entrada. Quando o espaço é usado à noite, acentua o enquadramento cinematográfico da grande janela da frente, evocando a pintura Nighthawks, de Edward Hopper. O uso da cor também ajuda a encenar o espaço. Da rua, o bloco de serviço pode ser visto em subtis tons de rosa.
Estes contrastam com a área de estar, onde os tons verdes da cozinha complementam o piso de cimento em jeito de terraço. Diversos detalhes arquitetónicos criam pontos de interesse no espaço interior – desde a escolha de materiais, até ao uso de curvas, elementos personalizados, como o exaustor e o corrimão.
Ao trabalhar com as restrições do espaço existente, o design revela com sucesso a essência do edifício.