Carlos Manuel Gonçalves apresenta na Pura Cal a sua primeira exposição individual, onde nos delicia com novas personagens e monstruosas criaturas do seu imaginário, explorando novas formas e texturas, de onde resultam peças mais complexas e ornamentadas, num universo muito próprio e peculiar, que promete surpreender.
Texto: Hugo van der Ding
“Depois da pintura nas paredes, a cerâmica é a forma de arte mais antiga que nos chegou do tempo das cavernas, quando as pessoas eram todas simultaneamente filhas, irmãs, mães e netas umas das outras. Não se pode dar um pontapé numa pedra num campo arqueológico sem se achar uma asa de uma ânfora, uma pega de uma vasilha, a borda de um prato ou o buraco de um vaso. Claro que os historiadores mais aborrecidos enchem os museus de legendas sem poesia. «Taça para moer raízes». «Bilha para transportar água». «Celha para guardar cinzas».
A mim, a cerâmica do Carlos Manuel Gonçalves lembra-me umas magníficas garrafinhas descobertas há pouco tempo, algumas com mais de sete mil anos, com formas de toda a sorte de animais, reais e imaginários. Dizem os entendidos que são biberões pré-históricos. Talvez. Ou talvez sejam um bestiário de espíritos como o do Carlos, também cheio de bichos e monstros e criaturas de bigodes e bicos, de patas e braços e olhos que nos olham irónicos e desafiantes. Ao mesmo tempo infantis e afinal tão velhos quanto o mundo. Daqui a sete mil anos, quando acharem um dos bonecos do Carlos, que verão? Biberões? Um ou bicho sarcástico que sussurra: «Abre os olhos»?”