Por a 23 Agosto 2022

Projeto: Iniesta Nowell Arquitectos / Área: 385 m2 / Ano: 2022 / Fotografias: Rafael Iniesta Nowell / via archdaily

A história de Jerez de la Frontera conta-se também numa profunda relação com o vinho e a sua produção. A cidade onde as adegas partilhavam espaço com as casas mudou, e hoje essas estruturas, muitas delas esquecidas, dão lugar a outros espaços e a novas histórias, sem perder o fio condutor que as liga ao passado.

Na cidade de Jerez de la Frontera, as adegas compartilhavam espaço com as casas, definindo um perfil urbano característico que tinha muito a ver com a forma de fazer vinho nesta região do sul de Espanha. O sistema de envelhecimento, acontecia em estruturas verticais compostas por vários tonéis e que ficavam dentro de um tipo característico de adega, que era espaçosa, escura, ventilada e fresca. Espaços com um aroma inesquecível, escuros, e ocasionalmente atravessados ​​por um fino raio de luz.

A partir do final do século XVIII, o vinho de Jerez começou a ser exportado para todo o mundo e as vinícolas passaram de um ambiente doméstico para um industrial sem sair da área urbana. A forma desta cidade, está ligada à produção de vinho desde sempre, onde, para além das adegas, foi necessária toda uma série de ruas, pátios e espaços auxiliares para as várias tarefas de serviço associadas à produção. Contudo, ao longo do tempo, muitos destes armazéns foram reciclados para diversos usos: lojas, escritórios, ginásios, residências… E o armazém deste projeto, também, tendo-se transformado numa casa.

Segundo os arquitetos autores do projeto, da documentação disponível foi possível apurar que se tratava de um pequeno edifício de uso doméstico, possivelmente ligado a uma casa que não existe mais. “Recuperar esta adega foi, sem dúvida, uma oportunidade de encontrar uma parte da cidade histórica, daquela rede de vielas de serviço que compõem a “cidade B” ligada ao mundo do vinho de Jerez. Uma cidade dentro da cidade”, explicam.

“Partimos de um edifício muito compacto, sem ventilação e decidimos procurar vestígios de um beco de serviço que aparecia na documentação original, abrindo um novo quintal. Este materializou-se num ponto de encontro, outra sala da casa com uma pequena piscina onde se pode refrescar.

A sala e a cozinha localizam-se na fachada principal, mantendo o carácter monumental conferido pela altura original do edifício, enquanto na parte posterior os quartos estão dispostos em dois níveis voltados para o pátio com a piscina.

Os espaços são dispostos com uma configuração aberta e transversal permitindo que o edifício seja atravessado com o olhar, tanto de sul para norte como de leste para oeste. A obra torna-se um processo de estudo e adaptação da pré-existência, onde se trabalhou com sistemas e materiais comuns da arquitetura vinícola; calcário local, cal, madeira de pinho e ferro.

A partir de um profundo respeito pela tipologia e sistemas de construção, foi reciclada uma estrutura esquecida numa casa andaluza, mediterrânea. Ao mesmo tempo, foi colocado em funcionamento parte do tecido urbano da cidade das vinícolas, que ainda hoje é Jerez.

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