Um edifício clássico, que em tempos foi residência de estudantes, aloja hoje uma família de quatro pessoas, tendo sido adaptado a uma vivência moderna, com o recurso a uma paleta de cores que destaca cada um dos seus espaços.
Design de interiores: Nicola Harding / Fotografia: Cláudia Rocha / Texto: Isabel Figueiredo
Esta clássica casa de pedra, originalmente projetada pelo arquiteto John Eveleigh em 1790, fica no centro de um aglomerado de residências georgianas com vista para a histórica cidade inglesa de Bath – a escritora inglesa Jane Austen fazia longas caminhadas neste lugar, encantada com a pureza do ar e as vistas. Nos últimos 60 anos, e na qualidade de residência da Universidade de Bath, a casa foi dividida em quartos para alojar estudantes, mas acabou por ser convertida de novo em casa de família.
O arquiteto Jonathan Rhind assumiu a tarefa de remover as adições e restaurar a estrutura imponente. A designer Nicola Harding, da Harding & Read, reinventou o interior adaptando-o à vida do século 21, dando nova alma aos cinco andares socorrendo-se da sua sensibilidade no uso de cores. Por seu turno, o designer de antiguidades Christopher Howe foi contratado como colaborador de Harding para a parte do mobiliário, contribuindo com o seu know-how, e com uma coleção não apenas adequada aos dias de hoje, como prática e fresca.
Os novos proprietários, Nick e Catherine Gilpin, compraram a casa em 2013. O casal e os seus três filhos moravam em Islington, em Londres, e mudaram-se para Bath após uma década de muito trabalho e de sucesso, para Nick: músico e produtor musical, Nick trabalhou em Mamma Mia!, o espetáculo, e em cada um dos dois filmes Mamma Mia!.
O processo consumiu três anos de planeamento, construção e acabamento, além de várias semanas – as últimas do processo -, para a arrumação de todos os móveis.
Nicola Harding queria fazer com que a enorme casa parecesse ter evoluído organicamente ao longo do tempo e evitar que os grandes espaços parecessem intimidantes: “O projeto tinha de respeitar o caráter do edifício, mas, ao mesmo tempo, havia que torná-lo acessível e fluido”. Para tal, Harding brincou com as cores apoiando-se numa estratégia exímia: “Usámos cores escuras para tornar os espaços grandes ou sombreados mais íntimos, e tons quentes e edificantes para tornar os grandes espaços mais descontraídos”. Os dois tons de rosa da Farrow & Ball, ‘Smoked Trout’ e ‘Setting Plaster’, foram usados na sala de jantar e na cozinha. A cor rosa é restauradora e funciona bem iluminada pela luz do sol, e neste caso, o da cozinha, dialoga em harmonia com as bancadas de basalto preto. As luminárias aplicadas, de teto, foram recuperadas de uma fábrica na Hungria e pairam sobre a ilha.
A pintura escura, por seu turno, foi destinada para o piso subterrâneo, com o seu teto de madeira na cor da Farrow & Ball ‘Stone Blue’ e com as paredes pintadas em ‘Tanner’s Brown’. Num nicho, ao lado da lareira, arruma-se um móvel francês dos anos quarenta com várias gavetas minúsculas.
Dois andares acima, na sala de estar, ao contrário, tudo é claro e aqui um sofá Howe e uma chaise longue dialogam com um pufe, com a mesa de carvalho jacobino da antiga casa dos Gilpins em Londres e, sobre esta, figura um espelho dourado que veio do Palácio de Blenheim. No cavalete repousa uma obra de Antony Gormley e, acima da lareira, a obra de arte é de Tony Bevan.
A sala de jantar da família fica no andar de baixo, mas há, alternativamente, uma área de jantar ao fundo da casa, ideal para festas, equipada com uma mesa de 2,5 metros de diâmetro da Holland & Sons datada de 1860. A estante foi encontrada numa loja de antiguidades em Gloucestershire. “Expliquei aos clientes que um certo nível de desgaste, no chão de tábua pintado, estaria sempre presente, mas a pátina que este cria faz parte do visual”, diz Nicola sobre o chão branco brilhante neste espaço de jantar. “Para mantê-lo com um aspeto nítido, será necessário repintar, aproximadamente, uma vez a cada três anos, mas é possível encontrar tintas à base de água que secam rapidamente, por isso este é um trabalho simples que pode ser feito em apenas um dia.”
Este esquema cromático claro é estendido ao igualmente luminoso quarto principal, no segundo andar, com uma cama de dossel de ferro forjado baseada num original italiano do século 17. “Demorei anos até encontrar um ferreiro com a habilidade e coragem para fazê-lo”, refere Howe. As cortinas da cama são de linho, assim como a colcha tingida à mão de lavanda. Os dois tapetes de riscas são turcos, de datam de 1950.