Por a 17 Janeiro 2023

A Avenida da Liberdade, em Lisboa. As suas lojas de marca, os seus hotéis boutique, as suas esplanadas. E este apartamento, pelo atelier Conceitos de Arte. How chic, how smart!

Projeto: Conceitos de Arte / Fotografias: José Manuel Ferrão / Texto: Isabel Figueiredo / Produção: Amparo Santa-Clara

Projetado para um casal que mora entre várias cidades, inclusive Lisboa, este apartamento distribuído em dois níveis, é o reflexo do seu estilo de vida e foi pensado para dar as boas-vindas à família – filhos e netos – e aos amigos que visitam a capital portuguesa. Manuel Arez e João Urbano, do atelier Conceitos de Arte, abriram-nos a porta do duplex e fizeram as honras da casa. E que casa! Aquele sol de inverno, que nos saudou no dia desta reportagem, iluminou todos os espaços com suavidade, conforme foi rodando, filtrado pelas elegantes cortinas de linho, inundando de luz natural a sala comum, a cozinha e os quartos.

À entrada, a atmosfera cénica e as paredes com ‘boiserie’ espicaçam a nossa curiosidade. Este é, em boa verdade, o primeiro ambiente da casa; é assim um bocadinho como a receção da sala e foi tratado como tal. Do nosso lado esquerdo, desenvolve-se toda a zona de living, com uma mesa de refeições redonda ao fundo e ao canto, junto a duas janelas, e para cumprimentar os visitantes o atelier escolheu uma mesa altamente composta, estrategicamente colocada por debaixo da escada. Esta mesa funciona como um cenário: ali se combina uma profusão de peças ‘hand-picked’ com algumas garrafas para um ‘drink’ de boas-vindas ou de pré-jantar e, graças a este gesto, a presença da escada passa para segundo plano. As pinhas de varanda, parte da coleção da proprietária, os vidros, os arranjos florais, os livros de arte e design, o quadro na parede… tudo se conjuga para um palco de bom gosto e de notável sensibilidade.  

Mesmo à nossa frente, já entrados na sala, em plano aberto, destacam-se, ao fundo, a mesa de jantar clássica e as cadeiras Minotti. O olhar vai circulando, pausadamente. Porque aqui todo o cuidado foi pouco. Cada detalhe é muito. A fusão de peças e de estilos é assinalável. O móvel de televisão, os tapetes e os sofás, em cores densas, desenhados pelo atelier, o candeeiro da portuguesa DelightFULL, os bancos transformados em mesa, a arca de antiquário, as fotografias e a arte, de um modo geral, dialogam neste palco.

“Esta casa é como um cenário, podia ser uma loja, podia ser uma produção para uma revista… podia ser uma casa”, diz-nos Manuel Arez, visivelmente satisfeito com o resultado final. Há muito aqui com o cunho deste coletivo nacional, mas, fundamentalmente, há aqui muito fruto da relação consolidada com os seus clientes, com o facto desta dupla saber ler a sua forma de estar e os seus desejos. E de, a partir deste diálogo, ser possível construir projetos com este nível de rigor, harmonia e elegância.

A escada de acesso ao piso superior, onde se alojam a suíte do casal e um espaço de leitura-barra-escritório, tal como as ‘boiseries’, são elementos da casa em que o Conceitos de Arte interveio: “Mudámos a guarda da escada e instalámos, de igual modo, uma guarda de vidro em toda a parte do mezanino; também assinamos as ‘boiseries’, porque a casa estava completamente crua”.

O que vemos hoje é muito mais do aquilo que a casa tinha, prossegue. “Houve aqui um trabalho de obra, de arquitetura de interiores e de decoração de paredes que se estende às portas dos armários, que foram trocadas, e à iluminação, que foi feita do zero”.

Para as obras de arte, esta parceria com os clientes foi de enorme utilidade. “Houve um fio condutor, tivemos o privilégio de ter a companhia dos clientes no nosso périplo pelas galerias de arte”, revela-nos. “Apesar de termos carta verde, foi para nós importante este entendimento, até porque os proprietários têm uma cultura estética muito importante, são bons conhecedores e amantes de arte, como tal esta busca feita em conjunto saldou-se no resultado aqui expresso. E tal estende-se às fotografias de Evelyn Kahn”.  

Ainda no piso inferior, passamos à cozinha, minimalista e branca. Adoramos a porta de acesso pela sala, deslizante e com uma geometria sofisticada.

Passando ao corredor, visitamos os quartos dos convidados. Em ambos os casos, a opção do atelier foi equipá-los com duas camas unidas por uma mesma cabeceira. “As possibilidades são várias, porque permitem hospedar duas pessoas que dormem na mesma cama, juntando os dois elementos para o efeito, ou separá-los e colocar a mesa de cabeceira entre ambos. O raciocínio foi a flexibilidade”, salienta.

Nas paredes, expõem-se alguns quadros adquiridos num conhecido alfarrabista da cidade. No outro quarto, Manuel destaca a aguarela – “que é da casa de praia da cliente, no Brasil” e aqui foi materializado o mesmo raciocínio, o de ter duas camas individuais sendo possível uni-las sempre que necessário. Nas casas de banho, amplas e despojadas, o corian e o mármore de Extremoz são os materiais eleitos e em ambas há um banco-maleiro, instalado por baixo da bancada, que atua como suporte para a bagagem dos convidados. Por seu turno, o lavabo social, preexistente, recebeu novos revestimentos e iluminação.

Antes de subirmos ao segundo nível, apontamos para a coleção de caixas e as escovas de prata. “A nossa cliente adora colecionar, por isso diria que este é um trabalho inacabado, o que até é interessante, porque há sempre um mote por detrás de cada coleção e porque isso nos mantém despertos para esta característica e conforme encontramos peças que julgamos serem do seu interesse, vamos adquirindo-as e as coleções vão crescendo… e viajando.”

Já no piso superior, acedemos, em primeiro lugar, ao espaço, antes despido de interesse, hoje destinado a momentos de leitura ou para ver televisão. “Esta zona acaba hoje por ser um lugar da casa onde os clientes começam o dia, atualizam a leitura de e-mails e só depois descem para o pequeno-almoço. Da mesma forma, recebe-os ao fim do dia para verem televisão antes de irem dormir”. Neste espaço, o sofá-cama, uma peça nem sempre fácil de obter em ‘bom e bonito’, e a sua mecânica, com desenho do Conceitos de Arte, foi pensado para uma casa cheia.

Transposta a porta da master suíte, Manuel assinala o móvel desenhado pelo atelier, uma peça de destaque, e de novo a ‘boiserie’.

“Aqui debatemo-nos com alguns problemas, porque o que o teto tem de bonito e de dinâmico, revelou-se um enorme desafio, mas conseguimos tirar partido disso e transpor as dificuldades”. Neste quarto, quase tudo é assinado pelo atelier, da cabeceira da cama ao móvel-cómoda à entrada, incluindo a poltrona, esta última uma peça de coleção do Conceitos de Arte, reproduzida com alguma frequência. Lá fora, há ainda espaço para um pequeno terraço privado, por onde a luz entra, filtrada pelas cortinas que caem, sobre o grande tapete da Ferreira de Sá. So smart!

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