O fundador do projeto Barracão WAD, Vasco Fragoso Mendes, descreve-nos o seu percurso depois do curso de Arquitetura, das suas motivações, projetos e sonhos.
Texto: Isabel Figueiredo / Fotografia: Carmo Oliveira e José Pedro Alvarez
Sempre demonstrou interesse pela arte do desenho e “tinha algum jeito”, por isso o curso de Arquitetura, porque sentiu tratar-se da opção natural. O interesse real por projetos, arquitetos e pormenores veio com o passar do tempo, de forma espontânea. O gosto pelo desenho de peças acontece porque não gosta de depender dos demais ou de perder muito tempo. “A madeira permite-me explorar e chegar a resultados de uma forma rápida, o que não significa que seja sempre eficiente, mas isso interessa-me bastante, torna o processo de pesquisa mais palpável, mais real”.
Como nasce o projeto do Barracão – Wood and Architecture Design Studio?
O Barracão, enquanto marca, nasce porque quis separar o meu nome do trabalho. Sempre fui dinâmico, gosto de ter ideias e de as por em prática e na altura, em 2016, fez sentido criar um nome que fosse forte, que tivesse alguma carga emocional e que respondesse às áreas que me interessam: a madeira, a arquitetura e o design. O Barracão enquanto espaço físico só aparece mais tarde, em 2018, quando ainda dividia espaços.
Também foi um jogador de rugby internacional… De que forma este desporto se combina e mescla com a atividade atual?
Foi um percurso que me moldou, sem dúvida. Apesar de ter deixado de jogar este ano, o rugby está, e estará sempre, presente na minha vida. A disciplina, que me foi incutida desde os quatro anos, o respeito e a amizade estão comigo. Por causa do rugby, fui estudar para a Nova Zelândia (2011), e ali trabalhei num atelier (Sydney, 2015), mas também estive em lugares que nunca julguei ser possível conhecer, e esta bagagem está presente na forma como trabalho. Talvez não diretamente no desenho, mas no trabalho em si está: procuro ser o mais rigoroso possível com pormenores técnicos e estruturais, ideias e conceitos, onde se incluem as datas de entrega ou apresentações.
A madeira é o único material com que trabalha?
Já experimentei ferro, cimento e fibra, mas para já tem sido o principal material que tenho usado. O facto de saber como trabalhar a madeira torna o processo mais interessante, na medida em que procuro outros caminhos para chegar a um determinado desenho. É um material “plástico” pela sua trabalhabilidade e o facto de só depender de mim para criar uma peça é muito satisfatório e tranquilizante, dá-me tempo para pensar em variações e outras formas de fazer.
Tenho vindo a desenvolver umas peças em cortiça juntamente com madeira, que espero lançar a meio de 2023. É um caminho que tenho muita curiosidade em explorar pelo aspeto natural e primitivo que a cortiça aliada à madeira nos dá.
Como definiria o tipo de peças que desenha e constrói?
Se tivesse de usar uma palavra seria “raw” (cru). São peças despidas de formas e desenhos desnecessárias, com uma essência que poderá ser vista como rude, mas pensada nesse sentido, e por isso assumem um caráter próprio, humano.
Geralmente trabalho para espaços muito minimalistas e o meu trabalho quebra com esse minimalismo e desprendimento. Em trabalhos com arquitetos, a abordagem é diferente, é um desenho mais linear, com formas geométricas puras e em busca de um “minimalismo humanizado”.
Como define o ambiente do Barracão enquanto espaço de trabalho?
Sente-se que há trabalho. Acredito na máxima que a inspiração existe, mas temos de a encontrar a trabalhar, e no Barracão o que se vê é isso mesmo. Trabalho e esforço para chegarmos ao ponto ideal, ou seja, à peça que foi desenhada e pensada de determinada forma. No espaço, vamos encontrar peças acabadas, ensaios, moldes, madeira, pó e peças-teste, erros que não o são e três pessoas fantásticas a trabalhar comigo. É um espaço caótico porque as ideias são muitas, é um espaço onde paramos para pensar e criar, para voltar a fazer e melhorar. É um espaço nosso, à nossa medida.
Quanto tempo em média demora a finalizar uma peça?
Em média, demora entre seis a 12 semanas, dependendo sempre de várias condicionantes: o tipo de projeto, de madeira ou outro material e o prazo de entrega. Em 2022 cheguei a entregar 33 mesas no espaço de três meses, mas também demorei dois meses a fazer uma mesa para um cliente privado.
Qual o tipo de cliente que vos procura?
O cliente final é, sem dúvida, o tipo de pessoas que mais nos bate à porta. Procuram uma peça especial para um determinado espaço e função, e veem no meu trabalho uma estética diferente para esse fim. Conhecem e gostam de Design e Arte, interessam-se pelo trabalho manual e por peças que tenham uma boa história para contar. Também trabalho através de arquitetos e arquitetos de interiores, procurando sempre apresentar peças originais e disruptivas.
O que está para breve?
No início deste mês, lançámos o livro dos primeiros cinco anos de atelier – quis ter uma recordação em papel, com imagens de processos, peças finais e esquissos -, e ao mesmo tempo a primeira coleção do Barracão, com cinco peças diferentes, numeradas e assinadas. Se tudo correr bem, em 2023 também vou voltar ao exterior e construir um espaço num terreno perto de Melides. É um projeto que está na gaveta há alguns anos e acredito que será este ano.
A série de cortiça que estamos a desenvolver também está a avançar bem e espero poder partilhá-la ainda em 2023. Estamos a ver, e a explorar, outras formas de a utilizar, mas não quero apressar nada.