O jovem atelier Workshop, Design + Construction, dos arquitetos Francisco Bernés e Fabián Gutiérrez, assina o projeto deste loft/estúdio, pensado para o casal de artistas mexicanos David Serrano e Robert Willson.
Projeto: Workshop, Design + Construction / Fotografia: Tamara Uribe / Texto: Isabel Figueiredo
Concluído em 2021, e localizado num dos bairros mais antigos da cidade de Mérida (México), este espaço foi concebido como um home-studio para os artistas mexicanos David Serrano e Robert Willson, onde estes poderiam trabalhar nas suas peças, relaxar e também funcionar como ponto de encontro de colecionadores, galeristas, artistas, colegas e amigos.
O ‘studiolo’ italiano foi, durante o Renascimento dos séculos XV e XVI, uma sala ou câmara de um palácio para onde o proprietário podia retirar-se para um ambiente privado para se dedicar aos seus hobbies ou interesses, geralmente de orientação artístico-cultural. Batizada Studiolo, a casa-loft tem um estilo muito particular, que funde elementos da arquitetura colonial iucatecana e do modernismo italiano do século 20, com o qual os proprietários se sentem muito ligados, já que, e ao longo de quase 25 anos, trabalharam com peças do século 20 na sua galeria ‘Downtown20’ em Los Angeles.
“Foi muito importante para eles que conseguíssemos refletir esse estilo no projeto. Um exemplo claro disso é o desenho da fachada, que foi inspirado na obra do arquiteto italiano Gio Ponti”, salientam os arquitetos.
Todos os materiais tradicionais foram utilizados de forma contemporânea, como são bom exemplo os pisos, onde os antigos tapetes com mosaico, típicos da cidade, foram reinterpretados, mas sem emoldurá-los no espaço, mas antes como se fosse um tapete disposto aleatoriamente.
Da mesma forma, nas paredes interiores, em vez de se utilizar tinta, foi utilizado um revestimento de chukum em diferentes tonalidades, o que imprime às paredes dinamismo, profundidade e uma textura aveludada.
As janelas, feitas com ferragens pretas e vidros transparentes, remetem para a arquitetura funcionalista, unindo o espaço a um jardim lateral e ao pátio, gerando uma brisa agradável fruto da ventilação cruzada.
A espacialidade do projeto é muito simples, como se fosse um pequeno loft, mas dentro da sua simplicidade destacam-se peças icónicas de design: o piso térreo possui uma área de trabalho com mesa estilo Jean Prouvé, a sala de estar exibe uma LC1, a cadeira de Le Corbusier e um candeeiro de Verner Panton, a sala de jantar foi adornada com peças vintage dos anos 40 da Woodard, e a kitchenette equipada com electrodomésticos SMEG.
Flutuando no espaço, um cubo de vidro laranja destaca-se como elemento protagonista, surpreendente e totalmente inesperado que, para além de albergar uma casa-de-banho no seu interior, tem a dupla função de servir de tela para desenhar e experimentar.
Na parte de trás, uma cadeira Roly Poly destaca-se entre o exterior monocromático, que fica ao lado da pequena piscina preta, que remete para a arquitetura de Mies van der Rohe. A escada em caracol é assim como uma escultura, e a sua subtileza e elegância une os espaços sociais ao privado onde se alojam um closet, uma casa-de-banho e o quarto – e neste, um candeeiro de Gio Ponti, sobre a mesa de cabeceira, ao lado da cama, proporciona a iluminação necessária.
Studiolo é, assim, e por completo, o artista que o habita, um artista que ama a cor, a justaposição de elementos e o risco, reflexo do seu estilo pessoal e profissional.